Posso imaginar que alguém leia esse livro e diga: “Fabuloso!!!”
Posso imaginar que outro leia e fale: “Ultraje!!!”
O que é inconcebível é que, depois de ler Saramago, se diga algo como: “É, até que foi legalzinho...” ou então: “achei meio fraco...”
Pois com Saramago é assim, ou você ama ou você odeia. Não há como considerá-lo mais ou menos. Saramago pode ser tudo, menos morno.
Mas o que eu mesmo posso dizer a respeito de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”? Terminada a leitura, fechada a última página, o que se seguiu foi um silêncio ainda cheio de assombro, onde faltam palavras.
O maior escritor da atualidade em língua portuguesa decide recontar a mais famosa de todas as histórias, a história que moldou o mundo como nós o conhecemos hoje. Qual terá sido a intenção de Saramago ao fazer isso? Qual a sua perspectiva, o seu ponto de vista? Que mensagens tencionava passar?
A pista maior para responder a essas perguntas está no próprio título do livro. Creio que Saramago quis contar a história de Jesus pelo ângulo “humano, demasiado humano”. Uma decisão corajosa, que foi levada a cabo com muito talento e habilidade.
Não posso dizer que concordei com o ponto de vista do autor. O Cristo que ele vê difere bastante do que eu vejo, embora os dois tenham em comum o fato de estarem bem distantes das versões oficiais e comumente aceitas. Essas minhas objeções, no entanto, são puramente espirituais ou filosóficas. Do ponto de vista estritamente literário, Saramago é um mestre irretocável.
Por aí já deu para se perceber que esse não é um livro recomendável para todos. Pessoas com uma visão religiosa muito rígida irão encontrar muitos motivos para se ofender ou se deixar influenciar. Pois esse é um livro que irá testar as suas convicções, sejam elas quais forem.
Lendo esse livro, finalmente entendi porque achei a versão cinematográfica de “Ensaio Sobre a Cegueira” tão mais densa e pesada que o original. É que Saramago escreve sempre com um leve sorriso irônico nos lábios, mesmo ao contar os maiores sofrimentos, e foi justamente essa relativa leveza de sua prosa que não havia como transpor para um filme.
A prosa de Saramago, aliás, merece ser louvada à parte, e também criticada, pois tanto há quem ame como quem odeie, como já foi mencionado, essa peculiar característica de engolir os pontos parágrafos e emendar tudo entre vírgulas, algo que exige habilidade não só de quem escreve, como de quem lê, para corretamente identificar e interpretar as orações coordenadas e subordinadas, alguns aqui já irão fechar a cara só de imaginar o esforço que será ler Saramago, asseguro que nem tanto, nem tanto, basta um pouco de boa vontade para apreciar o seu mistério, fica aqui essa pálida imitação como um exemplo, em se querendo, nada é impossível. J
Voltando ao “Evangelho”, em resumo, nesse primeiro momento após a leitura minha posição é ambivalente. Esperava mais do autor. Esperava menos do livro.
O que li de Saramago (Memorial do convento) me deixou tão abismado que me tornei fã. Mas foi o único livro que li, mantive-me afastado dele, mirando-o por um viés diferente, quase reverente. Por que não li mais nada dele? Bom, há coisas que não se pode explicar. Viva a língua portuguesa e àqueles que se tornaram eternos através dela.
ResponderExcluirViva viva viva!!!
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