Por Elenilson Nascimento
"Como estes, que dizem que livros não dão lucro, os empresários estão sempre dizendo que música não dá lucro, embora vivam em coberturas e mansões repletas de Picassos, Portinaris e animais caros”. É dessa forma que Peter Gammond, um dos autores/blefadores da antologia “O Grande Livro do Blefador” inicia de maneira inusitada às suas dicas para você “não passar vergonha em nenhuma roda de bate-papo”. E não se engane com a cara de bobão do sósia do João Gordo na capa, pois o livro não contém apenas histórias para entreter. Aliás, independente da minha fase pessimista (pois estamos no tempo do entretenimento para o povo engolir, mesmo que você tenha medo de ser assaltado ao sair de casa ou que resolva ficar trancafiado no seu lar e um avião resolva cair bem em cima da sua cabeça), é aí que o blefador se banqueteia, pois em um mundo que se generalizou em especialidades medíocres, o blefador de verdade se especializou em generalidades para iludir.
Então, ao me deparar com "O Grande Livro do Blefador" (*comprei por R$ 9,90) percebi que não estou sozinho neste mar de ilusão. Percebi também que nós medíocres (professores principalmente) somos muitos. E acabei me dando conta de que, assim como os "heróis de capa, espada e cartões de crédito" têm seus manuais e suas próprias bíblias, nós blefadores também precisamos das nossas publicações. E, talvez, por causa disso que os autores do "O Grande Livro do Blefador" resolveram publicar o impublicável só para expor suas experiências em meio aos "heróis" nossos de todos os dias... para mostrar como podemos despistá-los e fazê-los crer que somos mais do que eles nunca serão. Vixê, isso é pura filosofia.
BLEFAR É UMA ARTE – O livro é um apanhado de situações do já citado Gammond (sobre música e ópera), de Harry Eyres (sobre vinhos), de Michael Kerrigan (sobre literatura), de Maria Dana Rodna (sobre arte moderna), de Craig Dodo (sobre balé), deFidelis Morgan (sobre teatro) e de Jim Hankinson (sobre filosofia), onde eles tentam dá um certo senso de valores (e verdade) aos leitores mais aflitos e totalmente perdidos.
Adentrem-se e acomodem-se, pois se há algo que o medíocre comum tem é a ironia rasgada, já que a consciência de que nascemos perdedores em um mundo que só lembra de seus vencedores quando estes aparecem sorridentes na TV, nos faz livres de qualquer preocupação. Mas, sinceramente, em algumas partes o livro é demasiadamente enfadonho, generalizando que um papo de mesa de bar para ser realmente bom tenha que discorrer sobre assuntos chatos como ópera, por exemplo. Porém, o livro deixa uma dúvida: seríamos nós realmente os verdadeiros medíocres? Ou, na verdade, nosso grande dom seria a "arte de blefar"?
E se realmente blefar é uma arte, no capítulo assinado por Gammond, sobre música, o autor mostrou que a era de bonança das grandes gravadora acabou com o surgimento do MP3; que os grandes pianistas sempre ignoraram as dicas dadas pelos compositores; que quase todos os músicos e compositores fracassados (escritores também!) sabem bem onde está o fracasso; que Bernard Shaw falou que a sinfonia em dó maior de Schubert era como uma composição desmiolada; que tentar criticar Bach, Beethoven e Mozart seria tão infrutífero quanto dizer que Shakespeare foi um mau dramaturgo ou que os Beatles não precisavam de tanto alvoroço; que Bach ainda é adorado por todas as virgens intelectuais (homens e mulheres) do mundo; que Brahmsé um cara que você não pode deixar de gostar, mesmo que sua música seja uma merda; que Chopin está voltando à moda depois de terem feito parecer um sentimentaloíde sem valor; que Delius terminou a sua vida paralítico e cego por ter contraído a doença preferida dos compositores: a sífilis; além de blefar sobre Villa-Lobos, música moderna, música contemporânea e desvios musicais.
>>> Visite o LITERATURA CLANDESTINA e o COMENDO LIVROS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário