sábado, 14 de abril de 2012

A VIDA DE MOZART – Stendhal


Pensar na morte de Mozart sempre me deixa triste. Esse foi o verdadeiro motivo, percebo, para ter prolongado a leitura desse livro tão fininho, quase um folheto. Felizmente, Stendhal em sua descrição foi bem menos emotivo que as cenas do filme “Amadeus”, tão intensamente gravadas na memória.

Sobre Stendhal, eu sabia apenas que era o autor de “O Vermelho e o Negro”. Ao pesquisar na Internet, encontrei na Wikipédia:

“Henri-Marie Beyle, mais conhecido como Stendhal (Grenoble, França, 23 de janeiro de 1783 - Paris, 23 de março de 1842) foi um escritor francês reputado pela fineza na análise dos sentimentos de seus personagens e por seu estilo deliberadamente seco.”


Esse “estilo deliberadamente seco” é a chave para a leitura da biografia de Mozart, apresentada pelo autor como uma tradução de “A Vida de Mozart” do autor alemão Schlichtegroll. Eu, particularmente, não curti muito o Prosecco de Stendhal, ao menos enquanto aplicado à vida de Mozart. Faltou animação, aquela empolgação de fã, essa era a minha expectativa. Mas confesso que fiquei mal acostumado pela leitura de “Vida de Bach”, narrativa apaixonada feita pela própria esposa de Bach. Dessa vez a narrativa é feita por um quase contemporâneo de Mozart (o pequeno Henri tinha oito anos quando Amadeus morreu) e também tirado a gênio, o francês Stendhal. Então é sempre a “história de um grande homem contada por um grande homem”, e o excesso dessa auto-percepção tenha pesado a pena de Stendhal. Ou então, mais provável, ele simplesmente tenha se limitado a traduzir e adaptar uma narrativa já pronta. Só sei que faltou a sensação de gol. Sei lá.


Em outro site, encontrei uma frase de Stendhal que botou mais lenha na fogueira:

“É mesquinho passarmos a vida a dizer de que maneira os outros foram grandes.”




Don Giovanni

Há também deliciosas passagens. Essa é uma delas:

“(...) a abertura de “Don Giovanni”. Considerada a melhor de suas aberturas; no entanto, só trabalhou nela durante a noite que antecedeu a primeira apresentação, e quando o ensaio geral já se verificara. À noite, cerca das onze horas, ao se deitar, pediu à mulher para fazer-lhe um ponche e ficar com ele para mantê-lo acordado. Ela concordou, e se pôs a contar-lhe contos de fadas, aventuras bizarras, que o fizeram chorar de tanto rir. No entanto, o ponche deu-lhe sono, de modo que ele só trabalhava enquanto a mulher falava, e fechava os olhos quando ela parava. Seus esforços para ficar acordado, esta alternância contínua entre despertar e adormecer, o fatigaram de tal modo que a mulher o obrigou a descansar, prometendo acordá-lo em uma hora. Ele adormeceu tão profundamente que ela o deixou repousar por duas horas. Acordou-o cerca de cinco horas da manhã. Ele marcara com os copistas às sete horas e, quando eles chegaram, a abertura estava terminada. Mal houve tempo de fazer as cópias necessárias para a orquestra, e os músicos foram obrigados a tocar sem ensaiar. Algumas pessoas pretendem reconhecer nessa abertura as passagens em que Mozart foi surpreendido pelo sono, e aquelas em que ele acordava sobressaltado.”



Frases de Stendhal

Essas e outras encontrei no site:


A maior felicidade que pode acontecer a um grande homem é ele, cem anos após a sua morte, ainda ter inimigos.

A velhice, essa época em que se julga a vida e em que os prazeres do orgulho se revelam em toda a sua miséria (...).

Só existe uma lei no amor; tornar feliz a quem se ama.

Todas as religiões são fundadas sobre o temor de muitos e a esperteza de poucos.

Em arte só vive o que continuamente dá prazer.

O homem que não amou apaixonadamente, ignora a metade mais formosa da existência.

O que é um amante? Um instrumento no qual nos esfregamos para ter prazer.

O que torna a dor do ciúme tão aguda é que a vaidade não pode ajudar-nos a suportá-la.

Nada paralisa mais a imaginação que o apelo à memória.

Pode-se adquirir tudo na solidão, menos o caráter.

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