Eu era adolescente quando pela primeira vez travei contato com um livro do Dick Francis. A Nova Fronteira havia lançado alguns títulos em português, em exposição nas prateleiras das Lojas Americanas. De ida em ida às Americanas, fui aprendendo que Dick Francis era um autor especializado em romances policiais passados no universo do turfe. Lembro que achei a especialização um tanto bizarra, mas a minha curiosidade havia sido despertada. O problema é que quando eu ia comprar um livro, sempre acabava escolhendo algum da Agatha Christie. E assim permaneceu mal resolvido o desejo de ler um livro de Dick Francis.
Anos depois, em um sebo na Praça da Sé, esse livro. A compulsão foi irresistível. Não sei bem o que eu esperava ao começar a ler. Mas com certeza encontrei bem mais do que esperava.
“Ambos usavam máscaras de borracha.”
Assim começa “O Quebra-Ossos”, com os dois mascarados em questão já partindo direto pro sopapo. Um início de tirar o fôlego, e ficamos sabendo dos essenciais da trama: o narrador durão é o filho do dono de um Haras que é raptado por engano no lugar do pai que está hospitalizado após um grave acidente. Para salvar o Haras da destruição nas mãos de perigosos facínoras, nosso herói precisa assumir a espinhosa tarefa de transformar um jovem arrogante e mimado em um jóquei campeão.
A trama principal é conduzida com competência, tornando a leitura instigante e agradável. Mas o que chama a atenção são as tramas paralelas, repletas de simbolismos insuspeitados em um romance policial. Menciono de passagem o casal que prefere fazer as cruzadas a fazer sexo e as mulheres masculinizadas, para me deter no conflito pai x filho que é tratado pelo autor de forma quase edipiana. A história toda gira em torno das neuroses existentes nas relações entre pais e filhos.
Da metade para o final do livro, uma dúvida foi crescendo: seria por mero acaso que a história se passava em meio a tantos cavalos? Foi, afinal, um sonho do pequeno Hans com um cavalo que fez Freud postular o complexo de Édipo...
Gostei demais de ter lido esse livro, que veio por fora como um perfeito azarão para encerrar a minha cota de livros lidos em 2008. A conta fechou muito bem, pois foi um livro que ao mesmo tempo me agradou e me ensinou muito.
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