“Escritor falou de sua trajetória em evento gratuito em
Feira de Santana.”
Por Elenilson Nascimento
Inacreditável, o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna ministrou uma “aula-espetáculo”
(*não gosto muito desse termo) neste último domingo, 06/05, no Centro de Cultura Amélio Amorim, em
Feira de Santana, a cerca de 110 quilômetros da capital baiana.
Suassuna falou um pouco sobre sua infância e juventude
vividas no sertão de Cariri, além de ter feito fortes críticas à atual produção
literária no Brasil. Vale lembrar aqui que, no ano de 2003, eu fiquei muito
“puto da vida” com o escritor, aliás, com a Fundação Casa de Jorge Amado, que na época havia organizado um
concurso com o intuito de publicar nomes não muito conhecidos. Enviei o meu
livro “Diálogos Inesperados Sobe Dificuldades Domadas”, em coautoria
com Anna Carvalho e, sem explicação,
a Fundação do pai de Tieta eliminou
todas obras inscritas e utilizou a verba para fazer uma homenagem ao Suassuna.
Só consegui publicar esse livro de contos e crônicas dois anos depois, com
força, coragem e sem paitrocínio.
Contudo, não sei quantas vezes já li “O Auto da Compadecida”
(*e não gostei do filme), mas sei que foram muitas. Uma das obras mais
incríveis e divertidas da literatura brasileira, escrita pelo Suassuna. Agora,
os feirenses tiveram a oportunidade de conferir de perto as ideias do pai do João Grilo, Chicó, Mulher do Padeiro,
Cangaceiro, Demônio e muitos outros.
A “aula-espetáculo” fez parte da Celebração das Culturas dos Sertões promovido pela Secretaria de
Cultura do Estado da Bahia (*até que enfim a inútil paisagem fez algo realmente
convincente), onde o escritor, com muito bom humor e em meio a muitos causos em
que o sertanejo era sempre o protagonista, proferiu naquela noite mágica a
celebração da palavra.
O espaço físico do teatro ficou pequeno diante da multidão
ávida por ouvir atentamente umas das principais referências intelectuais na
defesa da cultura dos sertões. O escritor falou também sobre futebol, televisão,
moda, música e literatura, entre outros assuntos. Ele destacou a importância
das obras que têm como pano de fundo a fortaleza do sertanejo. “Este é um momento muito importante para
mim, como sertanejo que sou. Não existe arte universal, todas as grandes obras
que conheço são obras locais universalizadas pela qualidade e pela quantidade
de sonho humano que existe ali. Então quando se dá importância a essa cultura
feita pelo povo brasileiro, quando eu ou músicos como Elomar e Fábio Paes dão
importância, é porque nós sabemos que essa cultura produz em vários momentos
obras da maior importância”.
Na plateia, gente de todas as idades, muito riso e
satisfação com a fala do escritor. Irreverente, o escritor contou muitos
causos, da infância em Taperoá, na Paraíba, e das muitas histórias como ícone
da literatura que foca os sertões. Apaixonado, partiu em defesa do povo
brasileiro. “O Nordeste é o coração, osso
e nervo do Brasil. E o sertão é o coração, osso e nervo do Nordeste”, disse
lembrando ao público a necessidade de dar real importância à sua cultura e
valores.
E foi justamente nesse Teatro
Municipal de Feira de Santana que também já ficou em cartaz, repetidas
vezes, a encenação do “Auto da Compadecida”. E ao recordar aqui algumas cenas,
acabei caindo no riso novamente. Essa sim deveria ser uma obra super
recomendada para adolescentes, pois é uma isca, uma excelente “armadilha” para
aprisioná-los no mundo da literatura, ao invés de somente lerem Harry Potter e vampiros que mais
parecem fadinhas.
*Ariano Suassuna (João Pessoa, 16 de junho de 1927) é um
dos maiores defensores da cultura nordestina. A sua obra é toda marcada pela
riqueza das personagens e das muitas histórias que povoam o universo e o
imaginário sertanejos. O bacana foi que teve uma transmissão ao vivo e nós que
moramos no cu do mundo ou em outros Estados do Brasil podemos também conferir no site da Irdeb.
fotos: Site Cultura Baiana/Secult
Elenilson!
ResponderExcluirSou fã do Ariano! Eita paraibano arretado de bom!
cheirinhos
Rudy