quinta-feira, 3 de maio de 2012

A FÚRIA DE MAIGRET – Georges Simenon



Emile Boulay, dono algumas boates de strip-tease em Montmartre, está desaparecido. Três dias depois é encontrado: seu cadáver já está fedendo, castigado pelo verão parisiense.

O comissário Maigret fica obcecado pelo caso, e sai em campo. Seu método de investigação é desconcertante:

“Maigret não seguia um plano preestabelecido. Não tinha nenhuma ideia. Estava um pouco como um cão de caça que vai e vem a farejar. E, no fundo, o fato de reencontrar o ar de Montmartre, que não respirava há anos, não o desagradava.”

O Jules Maigret de Georges Simenon é um dos grandes nomes da ficção policial, juntamente com o Hercule Poirot de Agatha Christie, talvez o seu alter-ego, seu oposto simétrico. Pois não há como conceber dois personagens mais antagônicos. Talvez não seja mero acaso essa curiosa dessemelhança. Para quem não conhece ainda Maigret, essa é uma boa descrição: imagine alguém que é o contrário de Hercule Poirot!

O texto na orelha do livro (na excelente coleção da Nova Fronteira) define muito bem:

“Maigret não investiga, não raciocina, não deduz; o próprio crime o entedia; o que interessa é o executor e o objeto do crime. Maigret não julga: ele simplesmente ‘acompanha’ o encaminhamento de suas tarefas como quem sabe que o importante não é apenas realizá-las bem, mas, com paciência, carinho – e fúria quando preciso -, desnudar os motivos que levam o homem a matar.”

Os romances policiais de Simenon tem um sabor único, inigualável. Onde reside o seu misterioso encanto? Nada parece acontecer que não seja rotineiro; no entanto, ficamos irresistivelmente atraídos pela história. Nos diálogos, então, que efeito de mestre! Parece que só coisas banais estão sendo ditas, mas ficamos com a impressão de que coisas essenciais flutuam além das palavras, que o sentido se esconde no que não é dito, no que não chega a ser pronunciado.

O que é inegável é que o jeito pesadão de Maigret tem um charme! Ele me lembra um pouco a tartaruga disputando corrida com a lebre: mesmo com toda lentidão, mesmo sem parecer o mais esperto, sabemos que de alguma forma ele vai vencer a corrida, vai chegar primeiro. E é claro que nós o amamos por isso.

Já li muitas boas aventuras do Maigret, e também alguns policiais de Simenon sem a participação do comissário. Esse “A Fúria de Maigret” foi um reencontro com esses bons momentos.

Uma curiosidade ainda a respeito do autor, Georges Simenon.

Ele certamente devia ser uma figura e tanto, pois escreveu centenas de livros e gabava-se de ter ido para a cama com 10.000 mulheres.

Perguntada a respeito, sua esposa deu uma resposta inesquecível:

“Mentira dele. Foram no máximo 2.500.”


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