sexta-feira, 18 de maio de 2012

O CRIME DO PADRE AMARO – Eça de Queirós



* Que bom que não li esse livro na escola!

* Teria sido muito chato ter que ler decorando nomes e esquemas para depois fazer uma prova. Que bom que, livre dessa obrigação, pude apreciar esse livro pelo que ele é: muuuuuuuuuuuuuuuuuito bom!!!

* Depois de uma breve adaptação ao estilo da prosa, que é do final do século XIX, a leitura fluiu com gosto, facilmente. Foi acima de tudo muito divertido ler esse grande clássico da língua portuguesa.

* É um livro que pode ser lido em vários níveis, obra de um autor que dialoga com o leitor em inúmeros planos. A impressão mais forte foi a de um Eça moralista, no sentido de que Nelson Rodrigues também foi um moralista: os dois são mestres na arte de chocar para educar.

* O primeiro nível, se é que assim pode ser chamado, é um exuberante ataque às instituições religiosas como um todo e o catolicismo em particular, pela denúncia das malezas que o autor percebia na igreja de sua época.

* Digo exuberante porque Eça de Queirós disseca os costumes de seu tempo com o fino bisturi da ironia. Ele tem o dom de nos fazer rir com as maiores perversidades. O livro tem várias passagens muito engraçadas, contadas com muita habilidade.


* No segundo nível, “O Crime do Padre Amaro” é uma obra literária inserida em um contexto mais amplo. Um romance tipicamente realista e naturalista, provavelmente o melhor no estilo que já li até hoje. Achei esse livro a mais que perfeita antítese do romantismo! É como se o Eça fosse o José de Alencar do Mundo Bizarro! Tudo o que se encontra em um bom “romance de amor” aqui está, só que virado pelo avesso.


* Não deixa de ser também um “romance de ideias”, e em muitos momentos fica claro que o autor está empunhando suas bandeiras, ou seja, defendendo sua visão particular do mundo, sua tese.


* A construção dos personagens é magnífica. A começar pelo protagonista. O padre Amaro é um tipo que dificilmente esquecemos. Pelo título do livro já está claro que o padre apronta. Para mim, seu primeiro e maior pecado foi a covardia.

* Ameliazinha também não será fácil de esquecer. Ah essa menina Amélia!

* João Eduardo, mocinho ou vilão? Tudo é chalaça nessa história!

* Os meus preferidos foram o Doutor Gouveia e o Abade Ferrão, que diga-se de passagem são os únicos que poderiam ser considerados pessoas decentes em todo o livro.

* Há também dois divertidos “coros”, responsáveis pela maioria das cenas engraçadas. Um é o coro das “beatas”, cada uma com a sua mania. Outro é o coro dos padres, cada um é mais figura!

* Por aí já vai se vendo como essa obra é finamente elaborada. A disposição dos personagens nas cenas sugere muitas vezes autênticos lances de xadrez! Eça é o mestre da reviravolta.

* Há uma armadilha nessa palavra, realismo. Um romance “realista” nos convida a acreditar que sua descrição do mundo é a mais próxima possível da realidade. Mas no fundo o olhar realista é apenas mais um olhar, mais uma opinião, mais um ponto de vista.

* Não é que a história careça de “realidade”. O que acontece nas páginas do livro poderia muito bem ser baseado em fatos verídicos. A falta de “realismo” está em pretender que um olhar individual seja capaz de apreender tudo.

* O mundo descrito em “O Crime do Padre Amaro” é irreal não pelo que está no livro, mas pelo que dele foi excluído. Eça só peca onde finge não enxergar. Achei um exemplo singular disso o curioso vício estilístico que encontrei no autor: praticamente todas as vezes que a palavra “admiração” surge no texto, é seguida pelo qualificativo “babosa”.

* Achei esse exemplo muito sugestivo. Eça nega a possibilidade de uma admiração que não seja babosa. Que cada um tire de tal fato suas próprias conclusões. :)

* Um livro genial, que certamente enriquece a vida literária de qualquer um!

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