segunda-feira, 11 de junho de 2012

A PISCINA MORTAL – Ross Macdonald




Lew Archer certamente merece o seu lugarzinho entre os maiores detetives da ficção policial. Ele certamente não possui a inteligência aguçada de Sherlock Holmes, ou as privilegiadas células cinzentas de Hercule Poirot. Também não é pachorrento como Jules Maigret ou fleumático como Auguste Dupin. Mas ele também possui o seu jeito único de solucionar intrincados casos de mistério: enquanto Holmes investiga, Poirot reflete, Maigret não faz nada e Dupin adivinha, Archer resolve seus casos levando soco, chute na cara, coronhada, pisão, tabefe e outros carinhos de inúmeros malfeitores que cruzam seu caminho!

Isso porque o autor Ross Macdonald é um dos expoentes da chamada literatura “noir”, um estilo de romance policial com mais violência e menos sutilezas de raciocínio. Muitas mulheres voluptuosas e de passado duvidoso, muitos gangsteres feiosos, armados e perigosos, muitos policiais corruptos idem ibidem...
 
Lew Archer, o maior herói de Macdonald, é disparado o que mais apanha para resolver um caso, ao menos dentre os livros que li no gênero. Está certo que ele bate mais do que apanha, mas são tantos para ele bater que no final acaba apanhando bastante também. Tá pensando que vida de detetive é moleza???

É claro que nem só de pancadaria e sexo vive o romance “noir”. Se assim fosse, dificilmente esse romance escrito em 1950 guardaria ainda algum atrativo para um leitor de hoje. Ross Macdonald procura ir além, e é por isso que ele é um de meus autores favoritos de “noir” (perdendo apenas para Dashiell Hammett com sua obra-prima “O Falcão Maltês”).

É nítida a preocupação do autor em traçar um esboço social e psicológico de seus personagens e, através deles, exercitar uma crítica ao modo de vida norte-americano de sua época. O maior ganho que tive nessa leitura foi o fato de estar lendo em paralelo algumas peças de Nelson Rodrigues, escritas aproximadamente no mesmo período. Foi muito interessante perceber uma certa semelhança no olhar crítico que esses dois autores tão diferentes direcionaram à instituição da família, por exemplo.

Por aí já dá para perceber que há mais do que se pensa nas entrelinhas de “A Voragem da Morte”. Essa é a segunda aventura estrelada por Lew Archer. O detetive é contratado para investigar um possível caso de chantagem, que logo vira um caso de assassinato e que vai crescendo em uma escalada de violência. Ainda assim, o leitor que prefere o estilo tradicional de policial poderá exercitar tranquilamente o jogo do “whodunit”, pois Macdonald pode ser bruto, mas não é bobo...

O título original do livro é “The Drowning Pool”, e esse foi também o nome do filme baseado no livro (lançado no Brasil como “A Piscina Mortal”), produção de 1975 estrelada por Paul Newman (ainda bem que só fui saber disso depois de ler o livro, pois o Lew Archer que imaginei não tem nada a ver com Paul Newman!).

Uma curiosidade a respeito do autor: Ross Macdonald é o pseudônimo de Kenneth Millar. Ele resolveu adotar esse nome porque sua esposa, Margaret Millar, já estava obtendo razoável sucesso como autora de romances policiais, e ele temeu que houvesse confusão entre os dois nomes!

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