“Senhor, que tolos estes mortais são!”
Disse o brincalhão Puck a Oberon, o rei das fadas.
Mais tolos ainda se mostram os mortais quando enredados nas tramas de amor... enfeitiçados pela poção mágica de Cupido e encegueirados pelos ditames da paixão, é como se aventurassem sem guia em uma densa floresta à noite. Dois casais de apaixonados irão comprovar isso na pele, e ao mesmo tempo descobrir o quão volúvel pode ser uma paixão imorredoura...
Mas ficar perdido de amores não é privilégio dos tolos mortais: até mesmo Titânia, a orgulhosa rainha das fadas, pode se apaixonar irremediavelmente por um ator burro com cabeça de... burro! E olhe que ele ainda precisa representar o trágico amante que se mata por amor, a fim de celebrar as núpcias de um nobre de Atenas.
Teseu, garboso herói grego, pretende desposar Hipólita, a rainha das Amazonas. Mas será que tal casamento se concretiza, quando elfos e fadas vagueiam pela floresta e o ardiloso Puck diverte-se pregando peças de amores trocados?
Uma deliciosa narrativa de sonhos, leve, lúdica, livre! Master Shakespeare ainda no início de sua prodigiosa criação literária, mas já tendo legado ao mundo as tragédias imortais “Romeu e Julieta” e “Ricardo III” e ao menos uma de suas comédias mais famosas: “A Comédia dos Erros”.
“Sonho de Uma Noite de Verão” está sem dúvida alguma mais para a comédia! É certo que as tragédias sofrem menos com a passagem do tempo. Os motivos para o sofrimento são sempre os mesmos, os motivos para rir é que variam. Ainda assim, nas mãos de Shakespeare tudo vira magia! Algumas passagens dessa peça são tão vivazes que conseguem transmitir graça e o encantamento de quando a piada foi contada pela primeira vez, há mais de quatrocentos anos atrás!
Ao ler essa peça tomei consciência das duas características que mais amo em Shakespeare.
A primeira delas é o uso muito hábil das rimas nas falas dos personagens. Normalmente as falas seguem uma sequência em prosa até que em determinado momento, no ápice emocional da cena, todo mundo começa a falar rimando! E que rimas, diga-se de passagem! Afinal, trata-se do maior escritor da língua inglesa (quiçá do mundo!)!
Sempre associei esse recurso das rimas à dramaticidade, ao apelo emocional mais intenso da tragédia. Que surpresa óbvia perceber que funciona muito melhor na comédia! A parte mais hilariante é certamente a apresentação dos “atores-peões” em uma profusão de rimas e aliterações de deixar a cabeça zonza!
A segunda coisa que amo absolutamente em Shakespeare é a maneira toda especial que ele tem de expressar as coisas mais simples. Chamar Shakespeare de “poeta” é negar o título a todos os outros homens, pois nenhum outro conseguiu atingir o patamar por ele alcançado. Deixem que outros sejam poetas, e reservem só para Shakespeare o cognome de “Bardo”!
Só para dar um exemplo desse lirismo extremo: lá está a menina Helena, andando assustada no meio da noite, perdida na floresta escura, cheia de medos e decepções de amores. Arrebatada pelo cansaço, ela procura a proteção do sono:
“And sleep that sometimes shuts up sorrow’s eye,
Steal me awhile from mine own company.”
[Ó sono que às vezes fecha os olhos da tristeza,
Roube-me por um tempo de minha própria companhia.]
Lindo demais, gente!!!
Título original: “A Midsummer Night’s Dream”.
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