terça-feira, 31 de julho de 2012

Água para elefantes - Sara Gruen

"A vida é o maior espetáculo da terra"


Seguindo a tendência de escolher bons livros, me deparo com Água para elefantes. Digo, de antemão, que nada descreve melhor o livro do que a frase impressa em sua capa e reproduzida acima. É ali, entre o carregar e descarregar dos trens, entre o armar e desarmar das lonas que a verdadeira história acontece. Os personagens do circo ganham vida através das suas relações e é este o grande feito do livro. Não é o texto, a literatura ou o enredo, mas a atmosfera que circunda a leitura. Entre o contato com o outro, com os animais, há certa humanidade, capaz de captar a atenção do leitor por percebe-se real em sua condição.
A história de Jacob Jankowski é narrada pelo próprio, logo, o texto é em primeira pessoa. O senhor de 90 anos, ou 93 (piada que só vai entender quem ler o livro...rs), vive em um asilo junto com outros velhos. Ao mesmo tempo em que narra sua própria realidade, o que faz com que tenhamos aproximação imediata com o personagem, ele traz a tona lembranças de sua vida – de como esta sofreu uma grande reviravolta após a morte dos pais e de como foi sua vida no circo. Vale destacar o bom humor do senhor. E não, não é um humor inocente. É áspero, irônico, acido, o que torna ainda melhor. Abre parênteses (quero ser velho e carregar alguns aspectos deste personagem em mim) Fecha parênteses.
Acredito que qualquer leitor perceba no personagem algo de sua condição humana – a velhice. E assim, percebe-se que seremos nós naquele mesmo espaço algum dia no tempo. Não necessariamente no asilo, mas no papel de idoso. Somos cativados pelas dificuldades e reclamações do senhor diante de sua realidade porque somos frágeis como ele – e é este tipo de sentimento a que me refiro acima, percebe-se que a sua realidade não é distante do contato humano, do que nos é próprio.
Os demais personagens do livro, por sua vez, não são bem desenvolvidos pelo escritor. Os mesmos não apresentam grandes descrições físicas e psicológicas, o que os torna rasos. Os poucos momentos em que há uma tentativa de construção de um passado é apenas efêmero e não o suficiente para torna-los cativantes.
A história de amor, bem como os outros conflitos dentro da narrativa são bem trabalhados. O perfil do vilão e do dono do circo capitalista são apresentados ao decorrer da narrativa, bem como da mocinha Marlena e da elefanta carismática. As coisas acontecem seguindo uma lógica e são bem equilibrados durante o texto. A naturalidade com que acontecem faz com que as ações não sejam forçadas – o que é positivo para o livro. Algumas coisas são clichês, mas isto parece ser inevitável neste tipo de escrita.
O prólogo do livro nos joga em uma realidade distante e o que deveria ser utilizado como aperitivo para o texto principal acaba exercendo um papel confuso na narrativa. Como o próprio autor faz questão de destacar, a rotina não pode ser explicada, precisa ser aprendida aos poucos – muito diferente do que ele faz quando nos coloca diante de um prólogo que necessita de um conhecimento. Talvez por isso, e que acredito ter sido uma grande ideia, o autor utilize o prólogo no final da historia, na ordem cronológica dos fatos, fazendo com que o mesmo fique mais assimilável.
No percurso do livro há um grande problema em separar o que é reflexão pessoal do personagem, o que é dialogo estabelecido entre o mesmo e outros personagens, o que são devaneios do mesmo. Falta uma pureza técnica na escrita que marque as intenções e posições propostas. Vale destacar que o teor literário do texto não é de grande valia. Alguns cenas, se escritas por alguém que pesasse as palavras no papel, poderiam ser construídas de outra forma, mais poéticas e mais belas. Alguns detalhes poderiam ser retirados das cenas também – descrições indevidas vulgarizam o texto e o livro tem algumas delas.
Bem, no pesar da balança, não acredito que o livro se torne um clássico da literatura, já que lhe faltam elementos literários aos montes. Contudo, a fluidez do texto, a atmosfera de veracidade, a empatia do leitor com o livro e a história envolvente permitem horas de grande prazer. Acredito que valha a pena ler.

Para outros textos, acesse: Um olhar sobre o tudo e o nada

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