sábado, 21 de julho de 2012

SHIBUMI - Trevanian


Como se diz aqui em Salvador, fiquei “de cara” com esse livro!!! Se eu estivesse no Rio, diria assim: esse livro me deixou “boladão”!!!

Há tempos não lia algo que mexesse tanto comigo!

Amei e odiei! Admirei e desprezei! Aprendi com o que gostei e com o que não gostei!

Muita sincronicidade envolvida nesse inestimável presente recebido de Lua. Que surpresa e tanto descobrir esse livro que é o mais próximo do que eu mesmo estou escrevendo (mesmo não tendo nada a ver).

Fiquei intrigadíssimo com a personalidade do autor, que durante anos escondeu-se detrás do pseudônimo Trevanian. Ao terminar o livro, cheguei a elaborar um perfil do autor, segundo o que eu pensei ter captado. Depois fui pesquisar na internet e descobri que o seu verdadeiro nome foi Rodney William Whitaker (1931 – 2005). O fato do retrato que fiz mentalmente ter passado longe da biografia real do autor, fez a balança pesar mais a favor da impressão favorável. Trevanian pode ser um fingidor e fingir tão completamente...

O problema é que o que me incomodou, incomodou muito. Há um racismo nojento no livro, voltado para o povo árabe. O autor critica tão aberta e veementemente os Estados Unidos, que provavelmente esse racismo passou despercebido, provavelmente por outros racistas. Mas coisa bem diferente é criticar o modo de vida de uma sociedade (que é o que ele faz com os Estados Unidos), e criticar a constituição genética de um povo (que é o que ele faz com os árabes). A única desculpa que encontrei para essa postura do autor é que isso faça parte do clima levemente de sátira e metalinguagem que permeia o livro, como um exagero caricato da imagem dos árabes nos romances tradicionais de espionagem. Ainda assim, achei nocivo. Racismo, não!

O livro como um todo é envolvente, apaixonante e realmente possui um clima único, um “sabor” diferente e todo especial.

Minha conclusão, em resumo, é que poucas vezes será tão bem aplicado o conselho de Schopenhauer: “nunca leia um livro sem ter pensado primeiro no assunto por conta própria”. Uma cabeça fraca pode se perder nesse livro.

Justamente por ser tão sedutor, “Shibumi” é também um livro perigoso. Pois há nele verdades profundas misturadas com perversas mentiras, a tal ponto que é difícil distinguir qual é qual.

Bem parecido com a própria vida!

***


O livro veio crescendo em minha mente de forma sublime!

Shibumi.

Um jardim pessoal.

Simplicidade.

***


Não achei o livro "mau", mas perigoso. Porque a proposta do autor, conforme ele mesmo disse em uma de suas raras entrevistas, foi a de escrever um romance “de verdade” disfarçado em um romance de apelo popular. Uma proeza assim foi levada a cabo genialmente por Umberto Eco em seu “O Nome da Rosa”, que mistura romance policial e histórico para falar de questões mais profundas.

Só que em “Shibumi” há uma perigosa mistura entre o que é manifestado pelos personagens e o que é opinião do autor. Ou por outra, o autor não vê mal algum em colocar suas opiniões pessoais (e preconceitos) como expressões imparciais da verdade. Isso é muito perigoso, pois exige do leitor um olhar crítico e seletivo. Pois há no livro passagens muito bonitas e inspiradoras sobre “Shibumi”, por exemplo. E se o leitor aceita tais passagens como expressões de sabedoria, corre o risco de aceitar como tal outras passagens que de sábias não tem nada...


Racismo?

Vou revelar o que mais me incomodou nessa leitura. O autor expressa um racismo, que só posso chamar de asqueroso, pelo povo árabe, que é retratado no livro de forma tão grotesca que chega a ser caricata. Isso faz um vívido contraste com a rica descrição da cultura japonesa, por exemplo. E como o autor faz também fortes críticas contra a sociedade americana, fica “na superfície” a impressão de que ele está sendo imparcial, de que está jogando pedras igualmente em “gregos e troianos”.

Mas há uma diferença importantíssima. Uma coisa é criticar o modo de ser de uma nação, suas políticas e padrões de conduta. Coisa bem diferente é considerar um povo inferior por sua condição genética. E é exatamente isso que Trevanian faz nesse livro. Os americanos são criticados de forma filosófica, enquanto os árabes são criticados de forma racista. Ao menos em minha opinião.

Isso me incomodou muitíssimo. Fiz a pesquisa na internet justamente para ver se havia alguma referência a essa questão. Só vi alguns textos escritos em inglês, por americanos, e todos frisavam como Trevanian era extremamente crítico com os Estados Unidos. E só. Não encontrei a menor menção ao que achei tão desagradável, que foi o racismo explícito contra o povo árabe. Foi isso o que me deixou com a impressão de que “Shibumi” é uma leitura perigosa.

Mas há também, certamente, grandes méritos nesse livro. Por isso é que ele deve ser lido apenas por pessoas atentas, que saberão “separar o joio do trigo”.

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