LIVROS DE SANGUE volume II – Clive Barker

Ler os contos de terror de Clive Barker é uma experiência análoga a ir a um bufê de comida típica de algum lugar remoto e desconhecido. Os pratos cheiram bem, sem dúvida, mas foram feitos a partir de criaturas de aparência bizarra. Você prova e gosta, mas fica algo de estranheza, algum tempero exótico que não consegue ser digerido pelo organismo.

Ao menos foi assim para mim. Li o volume I dos “Livros de Sangue” duas vezes, tentando decifrar que ingrediente x seria esse. O volume I é realmente excepcional na originalidade de suas ideias, realmente poderosas. Uma frase genial em uma história permeada por Shakespeare ficou até hoje na memória (li pela segunda vez há mais de quatro anos):

“O que seria a ressurreição sem um pouco de riso?”

Clive Barker tem essas tiradas.

Mas ao ler o volume II a principal descoberta que fiz foi sobre o caráter visual de suas histórias. O horror de Barker é um deleite para os olhos, por sua própria natureza talvez o veículo mais adequado para a sua expressão seja mesmo o cinema.

São cinco contos, cujos títulos não deixam sugerir nem de longe a bizarrice do texto: “Terror”, “Espetáculo infernal”, “Jacqueline Ess: sua vontade e seu testamento”, “As peles dos pais” e “Novos assassinatos na Rua Morgue”. O destaque vai para essa última, uma releitura que brinca com as fronteiras entre a realidade e a ficção. E também, que interessante! – só pensei nisso agora! Nesse último conto Barker literalmente coloca-se sob a linhagem de Allan Poe, pois o herói de “Novos assassinatos na Rua Morgue” é o neto de Auguste Dupin, o célebre primeiro detetive da ficção que é o herói do “Assassinatos na Rua Morgue” original de Poe.

Assim como Stephen King pede a benção de Lovecraft, Clive Barker busca ser o sucessor de Edgar Allan Poe!!!

Agora sim, matei a charada! E descobri de onde vem essa saborosa bizarrice, essa fascinante estranheza!

Elementar, meu caro macaquinho de estimação!