domingo, 10 de fevereiro de 2013

Resenha - A solidão dos números primos



Havia algo no olhar do menino que me prendia ao livro, no título também: a solidão dos números primos. Namorei durante meses aquele título até compra-lo. Para ser bem sincero, eu nem lembrava o que eram números primos (sim, eu tenho uma relação ótima com a matemática), mas resolvi arriscar. Foi do tipo “se joga e vamos esperar para que seja o melhor possível” - e acertei em cheio. Um bom livro começa pelo título e quem pensou algo deste nível não poderia ter escrito algo tão ruim. O livro é de um autor Italiano - Paolo Giordano, o que dá a ele um caráter especial, já que poucos são os autores de literatura italiana que temos acesso.
A narrativa é desenvolvida com os personagens Mattia e Alice. O primeiro, um pequeno gênio da matemática –  relação que se estabelece com o título do livro ao longo do texto, abandona sua irmã gêmea em uma praça a caminho de uma festa, de quem se envergonha por ser autista, e nunca mais a vê;  Alice, por sua vez, fora forçada pelo pai a ser uma grade atleta até que, num treino, uma queda muda sua vida para sempre. Marcados por suas próprias tragédias e um sentimento permanente de inadequação, os dois protagonistas conduzem o leitor. Ambos carregam o peso de suas escolhas, nem sempre tão impuras como se parece. As histórias dos personagens se cruzam ao longo da narrativa, ajudando a construir parte do futuro.
No começo, encontrei problemas com o tempo do livro e com as descrições em torno dele. Por exemplo, se eu não lesse a orelha primeiro, teria dificuldades em entender exatamente o que aconteceu no primeiro momento com Alice. Ou seja, faltou elementos que tornassem claro a intenção do autor, fazendo-o pouco descritivo. Com o tempo, porém, você se acostuma a esta característica.
A leitura de “A solidão dos números primos” pode ser realizada de dois modos: horizontalmente e verticalmente. Aqueles que optarem por uma leitura horizontal da obra encontrarão dois personagens, talvez três, talvez todos, perdidos em seu próprio corpo/espaço. Esta primeira pessoa verá no livro personagens que passaram por momentos difíceis em sua vida e por isso se encontram naquela situação. Os que optarem, porém, pela verticalização da obra poderão se deparar com um grande abismo. Reconhecerão nos personagens a própria vida e perceberão a solidão a eles impostas.
É interessante notar a solidão como algo inerente ao espírito dos protagonistas (se é algo que não pode ser discutido na obra é a construção dos personagens, o tom de solidão a eles atribuído). Não é um momento da vida, mas a vida deles. Não a toa, o autor narra a infância de ambos personagens, a adolescência(que é um pouco clichê) e a vida adulta. Da primeira até a última página a solidão acompanha o leitor. O mais interessante é que ele não a impõe dizendo ao leitor quando ela está presente. Ela nasce no meio das palavras, impregna todo o livro, e capta o leitor por este sentimento – o medo de ficar sozinho, ser sozinho, que acompanha o ser humano. Acho que este é um ponto comum entre livro e leitor, aproximando-os e obrigando-os a torcer pelo sucesso dos personagens. Afinal de contas, todos nós temos nossa própria solidão.
Para encerrar, digo que o final do livro é a cara da vida, e não da ficção a que estamos acostumados... rs. Aceite ou aceite.

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6 comentários:

  1. Olá! Prazer em conecer o seu cantinho.
    Não conhecia este livro. Gosto imenso de ler. Neste momento, estou a ler o último do António Lobo Antunes, "Não é meia noite quem quer".
    Beijinhos

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  2. Oi, Rafhael!
    Primeiramente, devo deixar meus parabéns à sua excelente resenha. Muito bem redigida, a propósito.
    Como você, sou partidária da opinião que grandes títulos (não necessariamente no sentido literal da palavra) costumam ser um prelúdio para grandes obras. Já vi muita gente dizer que soam como incoerentes, ainda mais se forem extensos, mas estes costumam ter tudo a ver com a obra. E, de acordo com a síntese que você faz da história do livro, se ligarmos o enredo e o título ao contexto do que representa um número primo, ele certamente tem um significado especial.
    Essa sina da solidão me lembrou de Gabriel García Márquez, de "Cem Anos de Solidão". Apesar de ser uma história completamente diferente, também carrega esse sentimento consigo até o fim da leitura.
    Acho que me estendi, né? rs
    Beijo!

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  3. Não conhecia o livro, mas fiquei bem curiosa agora.

    Adorei o blog.

    Beijos :)

    Camila- Ninho de Fogo

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  4. Não conhecia ainda, parece ser bom!!

    Curte a página do Estante Seletiva, por favor?
    http://www.facebook.com/estanteseletiva

    Beijo,
    www.estanteseletiva.com

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Muito interessante a sua resenha! Fiquei curiosa para ler este livro. Gostei bastante da proposta, embora não conheça este escritor.

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