Escrita em 1947 e editada no fim da
guerra. O enredo conta a
história de uma cidade da Argélia, isolada pela peste no ano de 1950, e a
reação de seus habitantes. As páginas nos desvendam humanos fracos, covardes,
corajosos, audaciosos e aproveitadores. Segundo o autor, a cidade se assemelha
a um campo de concentração, com a morte sempre na ronda. De verdade eu
entendi, que essa epidemia foi apenas um subterfúgio do autor, para passar aos
leitores os sentimentos horrosos de situações de tristeza e degradação humana,
como os ocorridos nos campos de concentração.
Em
resumo, a cidade é descrita pelo autor antes e depois da epidemia. O médico da
cidade encontra um rato morto no corredor de seu prédio, e a partir desse
momento, mortes de animais assolam a cidade sem diagnóstico, até atingir os
seus habitantes. Em conseqüência, os porões da cidade são lacrados e a tranqüila
cidade descrita no começo da obra, se transforma em uma imensa prisão, um
enorme exílio... sem saídas ou entradas.
As
mortes são tantas que os crematórios já não dão vazão, e corpos são lançados em
fossas comuns, como animais. Pequenas pitadas irônicas, dentro da fala do padre
da cidade...que tenta a priori fazer o povo acreditar, que aquela tragédia foi
um castigo de Deus, pelos pecados da cidade, sermão esse, que conhecemos a
séculos como paradigma religioso....BAN.
Personagens
múltiplos desfilam pelas páginas, nos enchendo de ódio, pena e orgulho. Lutas,
sofrimento, separações e muitas mortes são descritas de forma sem igual, nos
fazendo entrar no mundo da obra do autor sem querer sair. Página a página, o
autor vai descrevendo a fraqueza humana de forma ímpar e emocional e nos coloca
de frente com os binômios covardia e inércia x coragem. A obra é cheia de
analogias e parâmetros com as realidades da guerra.
Essa e uma das obras que mais gostei desse autor, não
por ter ganho o Nobel de literatura de 1957, mas por ser carregada da realidade
da época em suas entrelinhas.
Enquanto conta o terror da
epidemia, sentimos claramente as menções de agonia e desespero de um povo, numa
situação de submissão e impotência, característico do momento em que
viviam....a 2ª Guerra Mundial.
Tramas,
dramas, mortes e ressurreições acontecem em meio a ratos e humanos, nos
deixando uma mensagem clara e explícita do autor ao final...o mal mesmo que
durma, sempre vai e volta. Aliás li uma frase quase igual, ‘O mal
sempre vai e volta’, na obra Paraíso Perdido (10.500 versos que contam
a história da queda de Lúcifer e o pecado original), um dos mais importantes poemas épicos
da literatura universal, do poeta inglês do séc. XVII John Milton. Ele era um
estudioso de religiões...dos mais brilhantes. Será que Camus era fã das obras
de John Milton? Bem...isso fica para outro tópico...
Albert
Camus escreveu coisas incríveis como Calígula, O homem revoltado, Les possédés (Os possessos), O avesso e o direito e muitas outras
maravilhas, vale a pena
conferir...Eu adorei a obra e recomendo!
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