sábado, 4 de fevereiro de 2017

O INIMIGO SECRETO – Agatha Christie



Dois jovens amigos, Tommy e Tupence, se reencontram após a Primeira Guerra e, sem vintém, decidem abrir uma firma de aventureiros. É o suficiente para iniciar uma série de aventuras mirabolantes com incríveis coincidências, onde o jovem casal acaba sendo contratado para o serviço secreto, a fim de recuperar um documento que exporia a falsidade do governo inglês, e assim enfrentam os criminosos mais perigosos do mundo, reunidos, que são facilmente sobrepujados pela superior fibra moral britânica... tudo para evitar o colapso comercial da sociedade e o mal supremo de uma greve geral!

Peguei um punhado de livros de Agatha no sebo para reler. Esse veio por engano, pois eu sempre detestei suas histórias de espionagem. Como já estava comigo, resolvir reler. Tive bons aprendizados, pois li com essa intenção mesmo. Resumindo:

1) A ingenuidade de Agatha – eu sempre achava intrigante Agatha ser tão “maliciosa” em seus romances policiais e tão “ingênua” nos livros de espionagem. Nessas releituras em série que venho fazendo tive a percepção de que as histórias de assassinato também não deixam de ser bidimensionais, uma vez que muito pouco se explora as emoções dos personagens diante de evento tão chocante quanto a morte violenta de alguém próximo. Só que na história policial existe o jogo de adivinhar o assassino, e o jogo é que está acima de tudo.

2) Coincidências – logo no começo do livro Agatha afirma algo como: “depois que a primeira coincidência acontece, elas costumam se seguir com uma frequência espantosa”. Acredito por experiência própria nessa afirmação, que inclusive é o tema central de “A Profecia Celestina” de James Redfield, escrito décadas depois de “O Inimigo Secreto”. Só que o que vale na vida real, curiosamente, pode não funcionar na ficção. Coincidências incríveis acontecem no dia a dia e causam maravilhamento, mas em um romance despertam  algo próximo da indignação... é muito curioso isso!

3) Patriotismo – muito do apelo da história, ao menos para o público britânico, deve ter sido o casal de protagonistas que são propagandas ambulantes de como os ingleses são melhores que todos os outros povos... O cinema e a literatura norte-americana estão repletos desse tipo de ufanismo. Isso me provocou, como escritor: fiquei com vontade de escrever uma história louvando o brasileiro “que não desiste nunca”, esse filho da “Pátria do Evangelho” (livro de Chico Xavier) etc. Mas percebi que não tenho vocação para isso. Primeiro, porque percebi que meu primeiro sentimento ao pensar em minha brasilidade é a vergonha de nossa indulgência com a corrupção. Temos tantos políticos corruptos porque está impregnado na consciência do brasileiro a noção de “levar vantagem”. Em segundo lugar, considero (como Einstein) o patriotismo uma espécie de doença infantil da humanidade, como o sarampo. Quando evoluirmos um pouco perceberemos nossa condição de terráqueos, acima dessas pequenas diferenças nacionais. Assim espero!

Ou seja, acho esse livro fraquinho que só... recomendado apenas para uma criança nerd muito inteligente (para curtir um romance que se passa há 100 anos atrás) e ao mesmo tempo muito inocente (para vibrar com as aventuras quixotescas) com uma noção nula de política (para que o extremo conservadorismo e ignorância política de Agatha não estraguem sua diversão). Será que essa criança existe?


Mas não gostar do livro não me impediu de fazer uma boa leitura dele!


\\\***///



ESCRITORES PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM
Escrever para quê? 
Doze escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O resultado é este livro: um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual, recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.
Disponível no link abaixo, leia e compartilhe:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058
 

2 comentários:

  1. Tenho tanta vontade de ler agata mais nunca tive coragem kkkkkkk

    www.jesselira.com.br

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  2. Oi Jessie! Ah, experimente que é uma delícia, viu!
    Valeu pelo comentário!

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