sexta-feira, 8 de setembro de 2017

PISTOLEIROS TAMBÉM MANDAM FLORES – David Coimbra


Ao ler esse divertido “folhetim eletrônico”, fiquei com a impressão de que o gaúcho David Coimbra é uma espécie de cruza literária entre Rubem Fonseca e Marcos Rey: uma narrativa policial ágil, entremeada por tiradas filosóficas sobre as mulheres e temperada com fartas doses de malandragem urbana, além de um toque de bom humor. O resultado é bem interessante e deixa o leitor grudadinho na leitura e satisfeito do início ao fim.
Um senão encontrado na leitura, e que me fez refletir (pelo que sou muito grato), é que a história reflete o ponto de vista do protagonista, tipicamente um “homem branco heterossexual” (título de um artigo do autor recentemente publicado no Zero Hora). Daí a trama estar recheada por considerações bem humoradas sobre as mulheres, o que a princípio não me chamou a atenção. Só que então chegamos à cena de uma partida de futebol, onde há várias menções a um “negrinho” ou “neguinho” sem nome, que desperta a antipatia (e o racismo?) do protagonista por ser muito superior no jogo de bola. Essa passagem me incomodou. E daí a reflexão, que acabou sendo proveitosa para meus próprios escritos.
Vivemos em uma época muito interessante, sob todos os aspectos, em que estamos mudando radicalmente de paradigmas, em todos os níveis. E essa mudança vem acontecendo muito rápido. Às vezes parece que não, mas é só porque não nos damos conta do tamanho da mudança. Pois então, creio que em 2007, esse trecho do livro talvez não chamasse tanto a atenção. Mas creio que hoje, meros dez anos depois, já mudou muita coisa na consciência coletiva.

Mesmo considerando que o texto retrata o ponto de vista do personagem, até que ponto é lícito e desejável retratar uma situação de racismo (ou sexismo) como se fosse algo normal? Talvez seja exagero questionar isso. Penso que não.



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A MARCA – Fabio Shiva

Um intrigante conto de mistério e assassinato que tem como pano de fundo a saga dos Anunnaki... “A MARCA” foi originalmente publicada em “REDRUM – Contos de Crime e Morte” (Caligo Editora, 2014), sendo um dos sete contos selecionados para a antologia. Em 2016 a história foi republicada no livro duplo de contos “Labirinto Circular / Isso Tudo É Muito Raro”, de Fabio Shiva (Cogito Editora). E agora está disponível aqui. Boa leitura!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5825862
 

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