sexta-feira, 10 de novembro de 2017

UM BELO DOMINGO – Jorge Semprun


Que obra magistral!!!

Mas de que modo esta obra é magistral? Ao tratar de temas cruciais com grande engenho e arte, ao ensinar e instruir, mas sobretudo ao fazer pensar, ao propor muito mais questionamentos que respostas prontas. Ao inspirar e emocionar, em suma, com um exemplo eloquente do grande poder da Literatura!

Certamente vou continuar com esse livro em minha mente, sendo digerido e repensado, ainda por um bom tempo. Ainda estou sob o impacto inicial da leitura, mas teria tanto a falar a respeito que prefiro reduzir minha resenha ao essencial.

Apesar de estar qualificado como um romance, o livro possui muito de relato autobiográfico, entremeado por reflexões filosóficas e políticas. Mas não deixa de ser também um Romance, com “R” maiúsculo, pois se propõe à elevada e nobre meta de “representar a totalidade da vida”.

Literariamente, a obra segue a senda das “narrativas enigmáticas”: trata-se do relato minucioso de um único dia, no caso um domingo passado no campo de concentração nazista de Buchenwald. E a rememoração desse domingo vai sendo intercalada por outros episódios passados e futuros na vida do Narrador, de forma a compor um complexo mosaico que, aos poucos, vai adquirindo formas e cores definidas na mente no leitor.

Amo muito as narrativas estruturadas dessa forma, que se propõem a contar um único dia e, a partir desse dia, falar da vida toda e do mundo inteiro! Desde o brilhante e monstruoso Ulisses de James Joyce até o mais feminino (e inteligente) Mrs Dalloway de Virginia Woolf, tanto que o primeiro livro que escrevi, O Sincronicídio, segue a mesma e mística cartilha. Então esse foi mais um motivo para eu achar Um Belo Domingo uma obra incrível.

Dito isso, ficou patente na leitura a sensação de que textos desse quilate são raramente produzidos hoje em dia (o livro foi publicado originalmente em 1980). Ficou muito forte a impressão de que muito poucas pessoas atualmente apreciariam esse livro. Não somente pela estrutura narrativa, que exige esforço intelectual e cumplicidade por parte do leitor, mas principalmente pelas reflexões suscitadas pela leitura.

Pois o livro traça um paralelo entre a opressão do Sistema e a busca individual por autonomia, felicidade e sentido. O Sistema, no caso, é bipartido: de um lado o capitalismo, que de forma deformada e grotesca gera o campo de concentração nazista, e do outro o comunismo, que de forma igualmente monstruosa acaba parindo o gulag stalinista. Ao menos no cenário brasileiro, que parece irremediavelmente dividido entre mortadelas e coxinhas (para alegria e gozo geral dos donos da Padaria...), esse tipo de reflexão soa como aberrante e fundamentalmente incompreensível para a grande maioria.

Esse magnífico livro “só para loucos, só para raros” termina de forma triste e desesperançada, ainda que belamente. E ainda mais solitário, louco e raro eu me senti ao divisar uma renovada esperança para além do horizonte retratado pelo autor. Pois não existe futuro e nem felicidade em nenhum sistema político, seja ele qual for. Isso ficou ainda mais claro. De onde então, vem a esperança?

É que a verdadeira e definitiva revolução humana será uma revolução de consciência, uma revolução da Espiritualidade, que não acontecerá no embate sangrento de exércitos, nem no igualmente violento confronto de ideologias, e sim no mais íntimo de cada ser humano. E daí minha grande alegria e esperança: mesmo sendo ainda invisível e aparentemente impossível, a vitória é inevitável!

Então vamos a ela, a essa bela e irreversível vitória. Que assim seja!



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MANIFESTO – Mensageiros do Vento

Um experimento literário realizado com muita autenticidade e ousadia. A ideia é apresentar um diálogo contínuo, não de diversos personagens entre si, mas entre as diversas vozes de um coral e o leitor. Seguir a pista do fluxo da consciência e levá-la a um surpreendente ritmo da consciência. A meta desse livro é gerar ondas, movimento e transformação na cabeça do leitor. Clarice Lispector, Ferreira Gullar, James Joyce e Virginia Woolf, entre outros, são grandes influências. Por demonstrarem que a literatura pode ser vista como uma caixa fechada, e que um dos papéis mais essenciais do escritor é, de dentro da caixa, testar os limites das paredes... Agora imagine esse livro escrito por uma banda de rock! É o que encontramos no livro MANIFESTO – Mensageiros do Vento, disponível aqui. Leia e descubra por si mesmo!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590

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