quarta-feira, 22 de novembro de 2017

ASSASSINATO EM AMSTERDÃ – Janwillem van de Wetering


Livro publicado no Brasil em 1978, pela antiga “coleção horas em suspense” da Editora Francisco Alves. No prefácio, o expert e organizador da coleção, Paulo de Medeiros e Albuquerque, nos informa que o grande interesse da obra é se passar na Holanda e ter sido escrita por um holandês que antes de virar escritor integrou a força policial holandesa. Eu particularmente gostei mais das reflexões do autor sobre o sentido da vida, que ele coloca na boca de um e outro personagem enquanto acontece a investigação de um estranho assassinato.

A década de 1970 viveu um certo boom da ficção policial, dando margem a um livro desse tipo, em que a trama toda gira praticamente em torno de descobrir como o assassinato foi cometido. Ou seja, em identificar a arma do crime. A solução, apesar de engenhosa, não deixa de ser decepcionante, depois do leitor passar o livro inteiro dando tratos à bola para imaginar as armas mais mirabolantes.

Mas a grande distinção que esse livro tem, ao meu ver, é a de apresentar a revelação do assassino mais fuleira que eu já encontrei em um romance policial. E olhe que já li um bocado! Naturalmente, um livro que eu só recomendo para estudantes da ficção policial (como eu mesmo). Pois mesmo um livro ruim pode oferecer uma boa leitura para quem procura aprendizado.

Que neste caso ficou por conta do texto de apresentação da “coleção horas em suspense” constante na orelha do livro:

“Lançamos esta coleção motivados pela constatação de que os livros de detecção policial escasseiam cada vez mais, esmagados pela produção maciça de obras em que prevalece a violência gratuita.”

O texto continua, louvando o livro policial “inteligente” e o prazer intelectual de desvendar o assassino. Fórmula que constitui o clássico “whodunit” (que significa mais ou menos “quem é o culpado?”), em contraste com o já igualmente clássico “noir” (“romance negro”), que é marcado mais pela troca de bofetões e tiros que pelas baforadas no cachimbo e pelo uso das pequenas células cinzentas.

Mas, convenhamos, romance policial é sempre marcado pela violência. Não existe romance policial sem assassinato ou outro tipo de crime violento (sequestro, assalto etc.). Mesmo as obras da grande rainha do romance de detecção, Agatha Christie, são marcadas por atos de violência extremamente cruéis e até apavorantes em sua frieza, se pararmos para considerar.

No caso do livro em questão, essas palavras da editora acabam sendo extremamente irônicas, mesmo sem intenção. Pois é muito bizarro um livro que traz uma morte por esmagamento craniano e outra por decapitação ser apresentado como uma alternativa intelectual para a violência excessiva!

Tudo bem que o livro é antigo e esgotado, e a série obsoleta. Mas a pergunta que me fiz ao lê-lo talvez não seja: existe lugar para esse tipo de literatura no século XXI? O terceiro milênio suportará ainda a violenta fórmula do romance policial?




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A MARCA – Fabio Shiva

Um intrigante conto de mistério e assassinato que tem como pano de fundo a saga dos Anunnaki... “A MARCA” foi originalmente publicada em “REDRUM – Contos de Crime e Morte” (Caligo Editora, 2014), sendo um dos sete contos selecionados para a antologia. Em 2016 a história foi republicada no livro duplo de contos “Labirinto Circular / Isso Tudo É Muito Raro”, de Fabio Shiva (Cogito Editora). E agora está disponível aqui. Boa leitura!

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