sábado, 7 de abril de 2018

ALGUNS POEMAS E CARTAS A UM JOVEM POETA – Rainer Maria Rilke



Que livro lindo, lindo, lindo!

Nessa segunda leitura gostei ainda mais!!! O livro é pequetito, cabe no bolso da camisa. O que confirma o dito de que os melhores perfumes estão nos menores frascos...

Sobre os poemas, senti neles ecos de beleza, mas era como se os lesse através de um véu. Nunca os problemas e limitações da tradução são tão evidentes quanto no caso da poesia. E ainda mais quando se trata de poesia rimada. Não é a tradução do poema, mas um novo poema escrito em outra língua, apenas inspirado no original. Isso não implica em demérito para o tradutor: é uma limitação inerente ao ato de traduzir.

Daí que não pude curtir tanto os poemas de Rilke,  justamente por saber que a sua essência está inacessível numa tradução, por melhor que seja. Ai de mim! que ainda não sei alemão... por enquanto tenho de me contentar com o eco da beleza...

Mas não deixei de me divertir por conta disso. Meu poema preferido foi “O Cisne”:

Este sacrifício de avançar
pelos feixes do irrealizado
lembra um cisne, altivo a caminhar.

E a morte – esse nada mais buscar
do chão diariamente repisado –
lembra a sua angústia de pousar

sobre as águas que o recebem mansas
e cedem sob ele, em suaves tranças
de marolas, que cercá-lo vem;
enquanto ele, calmo e independente
segue sempre majestosamente
como ao seu capricho lhe convém.


Cartas a um jovem poeta

Aí é que o bicho pega! Toda a poesia que estava inacessível jorra em corredeiras da prosa de Rilke em suas cartas ao jovem Kappus. Lindo é pouco!

Para mim foi especialmente um motivo de grande júbilo ler esse livro. É uma alegria muito grande perceber que as grandes almas falam todas a mesma língua! A sabedoria maior do coração não precisa de tradutor: cala fundo na alma e é assimilada no silêncio. O que Rilke está dizendo poderia ter sido dito por Gandhi, Tagore ou John Lennon, só para citar exemplos ao acaso. Perceber isso é inestimável!


Trechos

Para penetrar uma obra de arte, nada pior do que as palavras da crítica, que somente levam a mal-entendidos mais ou menos felizes. Nem tudo se pode saber ou dizer, como nos querem fazer acreditar. Quase tudo o que sucede é inexprimível e decorre num espaço que a palavra jamais alcançou. E nada mais difícil de definir do que as obras de arte – seres misteriosos cuja vida imperecível acompanha nossa vida efêmera.

O seu olhar está voltado para o exterior. Eis o que não deve tornar a acontecer. Ninguém pode dar conselhos nem ajudá-lo – ninguém! Só existe um caminho: penetre em si mesmo e procure a necessidade que o faz escrever. Observe se esta necessidade tem raízes nas profundezas do seu coração. Confesse à sua alma: “Morreria, se não me fosse permitido escrever?” Isto, principalmente.

Basta, no meu entender, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo.

É esta uma das mais rudes provas do criador, que deve permanecer na ignorância dos seus melhores dons, não os pressentir sequer, sob castigo de os privar da sua pureza, da sua virgindade.

É certo que as veredas da carne são difíceis, mas só o difícil nos interessa. Quase tudo o que é grave é difícil; e tudo é grave.

Para a maioria, isto apenas será possível num dia distante; mas “o homem solitário” pode desde já lançar as bases, construir o futuro com as suas mãos que se iludem menos. Por isso, prezado senhor, ame a sua solidão, suporte as penas que dela vierem, e, se essas penas lhe arrancarem queixas, que sejam belas essas queixas.

Os homens possuem, para todas as coisas, soluções fáceis e convencionais, as mais fáceis das soluções fáceis. Entretanto, é evidente que se deve preferir o difícil: tudo o que vive lá cabe.

Nunca, nem na morte, que é difícil, nem no amor, que também é difícil, aquele para quem a existência é uma coisa grave terá o auxílio de qualquer luz, de qualquer resposta já fornecida, de qualquer caminho previamente traçado. Não há regras gerais para nenhum destes deveres que trazemos ocultos em nós e que transmitimos àqueles que nos acompanham sem jamais os esclarecer. Na medida em que estamos sós, o amor e a morte tocam-se.


***
“Caímos todos nós. Cai esta mão.
Olha em redor: cair é a lei geral.

E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
todas as coisas que caindo vão.”


Encontrei as Cartas disponíveis em PDF no link abaixo:


\\\***///



MANIFESTO – Mensageiros do Vento
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590

Um experimento literário realizado com muita autenticidade e ousadia. A ideia é apresentar um diálogo contínuo, não de diversos personagens entre si, mas entre as diversas vozes de um coral e o leitor. Seguir a pista do fluxo da consciência e levá-la a um surpreendente ritmo da consciência. A meta desse livro é gerar ondas, movimento e transformação na cabeça do leitor. Clarice Lispector, Ferreira Gullar, James Joyce e Virginia Woolf, entre outros, são grandes influências. Por demonstrarem que a literatura pode ser vista como uma caixa fechada, e que um dos papéis mais essenciais do escritor é, de dentro da caixa, testar os limites das paredes... Agora imagine esse livro escrito por uma banda de rock! É o que encontramos no livro MANIFESTO – Mensageiros do Vento, disponível aqui. Leia e descubra por si mesmo!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590


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