Finalmente
tive meu encontro com a Poesia de Olavo Bilac!
Confesso
que durante muito tempo nutri uma antipatia a Bilac que nada tinha a ver com
poesia. É que foi ele um dos grandes responsáveis pela instituição do serviço
militar obrigatório, devido às campanhas populares que encabeçou, tanto que
hoje é o Patrono do Serviço Militar. Como xinguei Bilac e seus nobres
progenitores quando eu estava na fila do barbeiro do quartel, prestes a tosar
minhas belas madeixas e ingressar (compulsoriamente) como aluno da egrégia
instituição do CPOR!
Outras
implicâncias que eu tinha com Bilac, contudo, eram estritamente líricas. De
todos os movimentos literários, o Parnasianismo, com sua “Arte pela Arte”,
sempre foi o que menos me interessou.
Mas
finalmente tive a oportunidade de ler essa pequena e bela seleta do “príncipe
dos poetas”, e senti meu coração ser tocado, de cara, no Soneto IX, dedicado a
Bocage:
“Tu,
que no pego impuro das orgias
Mergulhavas
ansioso e descontente,
E,
quando à tona vinhas de repente,
Cheias
as mãos de pérolas trazias;
Tu,
que do amor e pelo amor vivias,
E
que, como de límpida nascente,
Dos
lábios e dos olhos a torrente
Dos
versos e das lágrimas vertias;
Mestre
querido! viverás enquanto
Houver
quem pulse o mágico instrumento,
E
preze a língua que prezavas tanto:
E
enquanto houver num canto do universo
Quem
ame e sofra, e amor e sofrimento
Saiba,
chorando, traduzir no verso.”
Enternecido
pelo amor de Bilac a Bocage, abri meu coração para amar também Bilac – ao menos
um pouco. Do ponto de vista técnico, Bilac tem poucos que lhe ombreiem. É
inegável a maestria na métrica e nas rimas raras. Gostei sobretudo da estrutura
das rimas de “Tercetos”, que reproduzo aqui porque quero fazer algo parecido um
dia:
A
B
A
B
C
B
C
D
C
D
E
D
E
Contudo,
em minha opinião, a Poesia mais bela é a que expressa a Verdade por meio da
Beleza. Se tiver que escolher entre uma delas, ficarei todas as vezes com a
Verdade, em detrimento da Beleza. Contudo, a Verdade nunca é destituída de
Beleza, pois a Verdade sempre é Bela.
Na
Poesia Parnasiana em geral, e na Poesia de Bilac em particular, noto muitas
vezes uma certa embriaguez com a Forma e o Estilo, em poemas impecáveis que
muitas vezes não dizem nada – ao menos para mim. Isso não é desmerecer Bilac,
apenas reconhecer, no dizer de Quintana, que ele não é de minha “família”. O
que não me impede de aplaudir de pé os momentos em que ele alia o domínio da
Forma à expressão de algo mais sublime, como em seu imbatível Soneto VI:
“Ora
(direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste
o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que,
para ouvi-las, muita vez desperto
E
abro as janelas, pálido de espanto...
E
conversamos toda a noite, enquanto
A
via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda
as procuro pelo céu deserto.
Direis
agora: “Tresloucado amigo!
Que
conversas com elas? Que sentido
Tem
o que dizem, quando estão contigo?”
E
eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois
só quem ama pode ter ouvido
Capaz
de ouvir e de entender estrelas”.
Viva
Olavo Bilac! Viva a Poesia!
\\\***///
ESCRITORES
PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM
Escrever
para quê?
Doze
escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do
Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O
resultado é este livro: um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o
leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os
autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual,
recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.
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