sexta-feira, 18 de maio de 2018

O CAÇADOR DE ESMERALDAS E OUTROS POEMAS – Olavo Bilac



Finalmente tive meu encontro com a Poesia de Olavo Bilac!

Confesso que durante muito tempo nutri uma antipatia a Bilac que nada tinha a ver com poesia. É que foi ele um dos grandes responsáveis pela instituição do serviço militar obrigatório, devido às campanhas populares que encabeçou, tanto que hoje é o Patrono do Serviço Militar. Como xinguei Bilac e seus nobres progenitores quando eu estava na fila do barbeiro do quartel, prestes a tosar minhas belas madeixas e ingressar (compulsoriamente) como aluno da egrégia instituição do CPOR!

Outras implicâncias que eu tinha com Bilac, contudo, eram estritamente líricas. De todos os movimentos literários, o Parnasianismo, com sua “Arte pela Arte”, sempre foi o que menos me interessou.

Mas finalmente tive a oportunidade de ler essa pequena e bela seleta do “príncipe dos poetas”, e senti meu coração ser tocado, de cara, no Soneto IX, dedicado a Bocage:

“Tu, que no pego impuro das orgias
Mergulhavas ansioso e descontente,
E, quando à tona vinhas de repente,
Cheias as mãos de pérolas trazias;

Tu, que do amor e pelo amor vivias,
E que, como de límpida nascente,
Dos lábios e dos olhos a torrente
Dos versos e das lágrimas vertias;

Mestre querido! viverás enquanto
Houver quem pulse o mágico instrumento,
E preze a língua que prezavas tanto:

E enquanto houver num canto do universo
Quem ame e sofra, e amor e sofrimento
Saiba, chorando, traduzir no verso.”

Enternecido pelo amor de Bilac a Bocage, abri meu coração para amar também Bilac – ao menos um pouco. Do ponto de vista técnico, Bilac tem poucos que lhe ombreiem. É inegável a maestria na métrica e nas rimas raras. Gostei sobretudo da estrutura das rimas de “Tercetos”, que reproduzo aqui porque quero fazer algo parecido um dia:

A
B
A

B
C
B

C
D
C

D
E
D

E

Contudo, em minha opinião, a Poesia mais bela é a que expressa a Verdade por meio da Beleza. Se tiver que escolher entre uma delas, ficarei todas as vezes com a Verdade, em detrimento da Beleza. Contudo, a Verdade nunca é destituída de Beleza, pois a Verdade sempre é Bela.

Na Poesia Parnasiana em geral, e na Poesia de Bilac em particular, noto muitas vezes uma certa embriaguez com a Forma e o Estilo, em poemas impecáveis que muitas vezes não dizem nada – ao menos para mim. Isso não é desmerecer Bilac, apenas reconhecer, no dizer de Quintana, que ele não é de minha “família”. O que não me impede de aplaudir de pé os momentos em que ele alia o domínio da Forma à expressão de algo mais sublime, como em seu imbatível Soneto VI:

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Viva Olavo Bilac! Viva a Poesia!


\\\***///


ESCRITORES PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM
Escrever para quê? 
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