sábado, 2 de março de 2019

O CÉU ESTÁ CAINDO – Sidney Sheldon



Este ano decidi estudar de forma mais sistemática a chamada “literatura best-seller”. Confesso que não tenho um objetivo muito específico com esse estudo, apenas o de tentar responder, de forma genérica, o que torna um livro de ficção um fenômeno de vendas nos dias de hoje. Claro está que a minha proposta é analisar apenas a parte literária dessa equação, desconsiderando os investimentos de Propaganda e Marketing obrigatoriamente envolvidos na fabricação de um best-seller. Pelo momento, não estou interessado tanto na parte mercadológica, mas na parte da escrita em si, visando compreender da melhor forma que eu puder como cada obra dessas é concebida e estruturada, quais as suas intenções explícitas e implícitas e que tipo de mensagem pode estar passando para o leitor.

Esse estudo foi motivado, na verdade, por uma aparente casualidade: a recente doação de cerca de 300 livros para o projeto P.U.L.A. (Passe Um Livro Adiante), quase todos best-sellers. Assim, intuitivamente selecionei alguns exemplares para essa experiência, procurando não criar muitas expectativas na leitura e manter a mente o mais aberta possível.

Para começar essa aventura, achei bem apropriado esse livro do Sidney Sheldon, talvez o primeiro “autor best-seller” (com esse rótulo específico) que li, aos 12 anos. Lembro nitidamente que fiquei grudado na leitura de “O Outro Lado da Meia-Noite”, que devorei em dois dias insones. Depois li vários outros do mesmo autor: “A Ira dos Anjos”, “O Reverso da Medalha”, “Se Houver Amanhã”, “A Outra Face” e outros. Um detalhe curioso: desses livros todos não me lembro de quase mais nada, com a exceção de duas cenas. A primeira é uma disputa de xadrez, onde a bela heroína enfrenta ao mesmo tempo dois campeões mundiais, e a outra é uma cena de sexo envolvendo creme de menta, as duas cenas igualmente marcantes para minha influenciável mente adolescente.

“O Céu Está Caindo” foi lançado em 2000, bem depois do auge criativo do autor. Me pareceu uma obra bem inferior às que li durante a adolescência, mas é difícil fazer esse tipo de comparação (ainda mais por não lembrar das histórias, apenas de ter gostado muito delas). Creio que teria que reler algum de seus maiores sucessos para ter uma noção mais clara.

O que mais me chamou a atenção nesse livro foi o intenso uso de diálogos. Quase não há descrições nas cenas, e o enredo vai sendo apresentado por meio de conversas. Os diálogos não são especialmente marcantes, e até banais muitas vezes. A impressão que me causou foi que a intenção era tornar a leitura o mais fácil possível. É nítido que nos empenhamos a ler com mais disposição páginas recheadas de travessões de diálogo que extensos parágrafos ao estilo de Saramago, por exemplo.

É bem marcante também o uso de uma “fórmula” ou “receita de bolo”, com uso e abuso de clichês. Há alguns poucos elementos de surpresa quebrando a monotonia de uma trama bastante previsível. O resultado é uma narrativa confortável, sedativa, um equivalente literário da antiga “Sessão da Tarde”.

Um dos elementos mais atrativos é o glamour que cerca a protagonista Dana Evans, uma bela âncora de telejornal que dá uma volta e meia no mundo para fazer uma investigação de assassinato. Achei digno de nota que há pequenas doses de informação pontuando cada cidade visitada por Dana, que ajudam a passar a impressão de que a leitura está sendo instrutiva de alguma forma. Contudo as informações são inócuas, do tipo tópicos de almanaque, e não chegam a suscitar nenhuma reflexão mais profunda ou trabalhosa.

Com a exceção de uma: a cidade russa secreta de Krasnoyarsk-26, que dá o mote da trama e que realmente merecia inspirar um livro. Tomei um choque ao saber que a tal cidade existia mesmo, pois achei o ponto mais inverossímil da história!


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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
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