Antes
de comentar sobre o livro, sinto que devo falar sobre como ele chegou às minhas
mãos. Já faz um bom tempo que praticamente todos os livros que leio chegam
através do P.U.L.A. (Passe Um Livro Adiante): pego, leio e passo adiante. E
assim tenho lido sempre do bom e do melhor! Pois então, recentemente fui
convidado a falar no Clube de Leitura Scotland Books (https://youtu.be/MtzbZkM-Ms4), e lá mencionei
o fato de livros de ficção científica estarem entre meus favoritos. Ao chegar
em casa, pensei que já fazia algum tempo que eu não lia um bom livro de FC e em
como seria legal se eu encontrasse um livro assim no P.U.L.A. E no dia
seguinte, surpresa: lá está me esperando esse livro do Júlio Verne, que hoje é
um clássico da literatura mundial, mas na época em que foi publicado, em 1873,
era ficção científica de primeiríssima qualidade! Claro que iniciei a leitura
imediatamente. Por essas e outras é que me considero um feliz milionário de
livros!
Antes
de “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, de Júlio Verne eu só tinha lido “Miguel
Strogoff”, ainda criança. Cheguei a citar “Viagem ao Centro da Terra” em meu
romance “O Sincronicídio” (http://caligoeditora.com/?page_id=98),
como o único livro de Verne que ainda não havia se tornado realidade, mas para essa
citação me contentei em ler uma adaptação em quadrinhos.
A
prosa de Júlio Verne é mesmo muito gostosa, recheada de cenas aventurescas com toques
de humor, em uma combinação muito atraente. Os personagens são um tanto
bidimensionais, mas dentro do contexto da trama isso não chega a ser um
empecilho à boa fruição da leitura. Não resta dúvida de que o grande êxito que
a obra alcançou, desde a época de sua publicação até os dias de hoje, é
plenamente justificado.
Uma
outra leitura se impõe, contudo, ao olhar de um leitor contemporâneo, que está a
quase 150 anos de distância da sociedade que foi o pano de fundo de “A Volta ao
Mundo em Oitenta Dias”. O que primeiro chama a atenção é o quanto a história
está impregnada de evolucionismo cultural e etnocentrismo. Aqui as nações e
povos do mundo são nitidamente percebidos e retratados como uma fila evolutiva
que tem seu ponto mais elevado e desenvolvido na civilização europeia de modo
geral e, em particular, no império britânico, representado pelo fleumático
protagonista Phileas Fogg. Curiosamente, o francês Passepartout, conterrâneo de
Verne, é retratado de forma humorística, funcionando como alívio cômico para as
aventuras do herói.
Nesse
contexto evolucionista, não deve ter causado estranheza aos leitores do século
XIX que os indianos tenham sido retratados como um povo bárbaro e
escandalosamente ignorante, que as mulheres japonesas tenham sido descritas
como “pouco belas” e os índios americanos tenham entrado na história apenas
para serem “esmagados como vermes”. Contudo, a um olhar de hoje tais descrições
provocam repulsa e repúdio – ou ao menos deveriam provocar.
Dentro
de um enfoque mais pessoal, percebi na leitura de “A Volta ao Mundo em Oitenta
Dias” uma provavelmente involuntária metáfora para o intenso progresso
tecnológico experimentado pela humanidade desde a revolução industrial, ao
qual, infelizmente, não corresponde um equivalente progresso espiritual. Assim
é que Phileas Fogg dá a volta ao mundo em desabalada carreira (para os padrões
da época), sem contudo ter um mínimo de curiosidade a respeito das paisagens e
povos que ele estava visitando com tanta pressa. A ponto de preferir ficar
trancado em sua cabine, jogando cartas, sem ver nem aprender nada de novo. A
meta da volta ao mundo constitui, em resumo, uma vitória da eficiência técnica,
e nada diz respeito a um aprofundamento da mente e da alma. De que vale dar a
volta ao mundo e voltar para casa exatamente o mesmo?
Este
livro, em domínio público, está acessível em PDF:
\\\***///
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monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade
habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que
aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas
normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a
maneira mais ordinária de ser monstruoso.”
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Uma postagem maravilhosa!
ResponderExcluirSinto a vida escapar-me pela senda da solidão... [POETIZANDO]
Beijo e um excelente fim de semana.
Gratidão, querida!
ExcluirBeijos!