sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

DIÁRIO DE UM IMAGO: contos e causos de uma banda underground – Fabio Shiva


É com muita alegria que inicio mais um ano com a resenha de um livro que eu mesmo escrevi. Oxalá essa prática se torne uma tradição! Novamente, como no ano passado foi o caso de “Favela Gótica” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2019/01/favela-gotica-fabio-shiva.html), não me cabe falar dos possíveis méritos ou deméritos da obra, mas sim das circunstâncias, motivações e pequenos segredos que fizeram com que o livro fosse escrito.

E começo com uma confissão: durante muitos anos, não podia ouvir as músicas do Imago Mortis, músicas que ajudei a compor e cujas letras escrevi. Enquanto estava redigindo o livro, me determinei a ouvir algumas das músicas, para mergulhar mais intensamente no passado. Durante as audições, sentia uma angústia tão intensa que não conseguia conter as lágrimas. E agora que o livro está pronto, diante do relato de pessoas que acharam a leitura muito engraçada e divertida, só posso dar graças ao poder da Literatura de nos ajudar a transcender e ressignificar as dores da Vida.

Tudo o que dá para rir, dá para chorar: é questão de hora e lugar”. Esse é um ditado que se aplica bem ao processo de escrita de “Diário de um Imago”. Adquiriu uma força irresistível, para mim, a ideia de contar como uma comédia a história da banda de heavy metal que se propôs a fazer a música mais triste do mundo, capaz de levar uma pessoa ao suicídio, e que quis transformar em riffs, acordes e melodias a própria experiência da morte. Além de trazer um pouco de leveza a temas tão sinistros, o humor me permitiu também escapar de uma armadilha muito comum a esse tipo de livro, que é ficar advogando a própria importância, alardeando as próprias “glórias mofadas”.


Um livro contando a história do Imago Mortis estava sendo plasmado há muito tempo, impulsionado para a existência pelo desejo de muitas mentes. O primeiro idealizador de uma biografia da banda foi o querido amigo Mauro B. Fonseca, que há cerca de dez anos chegou a esboçar uma narrativa, que acabou sendo muito útil. De lá para cá os vocalistas Alex Voorhees e Tufi Sami também se empolgaram com a ideia, anotando suas próprias recordações e pedindo depoimentos a personagens importantes como Eliton Tomasi, Janna Souza, Reinaldo José, Hioderman Zartan e Fausto Mucin, entre outros. O empurrão que faltava aconteceu em 2018, quando tomei conhecimento da dissertação de mestrado de Bruno Pael dos Santos, defendida na Universidade Federal da Grande Dourados (MS), com o título: “A Morte Como Acontecimento Semiótico: a perspectiva simbólica da banda de heavy metal Imago Mortis” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2019/12/a-morte-como-acontecimento-semiotico.html). Se as músicas da ópera rock “VIDA” foram consideradas importantes o suficiente para serem objeto de estudo de uma dissertação de mestrado, então a história por trás da composição dessas músicas também merecia ser contada.

A partir do momento em que eu finalmente senti que precisava escrever esse livro, foram imprescindíveis as colaborações das pessoas já citadas e também de ex-membros do Imago: Fabrício Barretto, Alex Guimarães, Flavio Duarte e André Delacroix. Não posso deixar de fazer um agradecimento especial a dona Lícia Barretto, minha mãe, cujo ponto de vista sobre nossas estripulias de banda rendeu algumas das passagens mais hilárias do livro. Quanto à interação dos antigos imagões, acabou rendendo uma bela surpresa, que foi a música “O Mistério da Vida” (https://youtu.be/1o8wDrhA0NU).


Do ponto de vista estritamente literário, algumas experiências foram cruciais na composição desse livro. Devo muito à leitura de “Limonov”, de Emmanuel Carrère, livro que me foi presenteado pela querida Maria Inês Menezes e que me instigou com o conceito do “romance de não ficção”. Mais ainda, os livros do próprio Eduard Limonov, relatos autobiográficos de extremo sincericídio, provocaram minha admiração e inveja: será que um dia eu teria coragem de escrever algo parecido?

As peças que faltavam no quebra-cabeça vieram através de alguns textos biográficos que escrevi por encomenda, como Ghost Writer. Nesses textos, era comum o cliente querer cortar ou consertar qualquer “defeito” em sua personalidade e/ou ações. Por mais que eu argumentasse que eram essas pequenas imperfeições que tornavam a história e o próprio personagem do cliente mais cativantes, via de regra a decisão era abolir ou enfeitar tudo o que pudesse ser tido como fraqueza. Isso reforçou a minha determinação de não fazer assim ao contar a minha própria história.

E assim foi. Escrevi “Diário de um Imago” tomado por um frenesi de exibicionismo de algumas das características menos apreciáveis em mim mesmo (bem como em meus desafortunados companheiros de banda). Só no dia seguinte ao da publicação do livro na Amazon (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) foi que cessou essa espécie de auto-hipnose, e exclamei horrorizado: “O que foi que eu fiz? Agora vão ficar sabendo de todos os podres de meu passado!” Bom, como se diz, agora é tarde...

É por isso que encerro essa resenha com um agradecimento especial à minha linda esposa e companheira, Fabíola Campos, que mesmo depois de ficar sabendo de tanta tosqueira a meu respeito continuou casada comigo!

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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”


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