quarta-feira, 18 de março de 2020

ENTERREM MEU CORAÇÃO NA CURVA DO RIO – Dee Brown



Esse foi um dos livros mais angustiantes que li na vida. Só senti um mal-estar assim com o “Arquipélago Gulag” de Soljenítsin. Cada página é um exasperante testemunho de nossa precária e bruta condição humana...

Nunca mais poderei assistir um filme de faroeste sem lembrar do massacre de Sand Creek, quando um regimento de soldados assassinou centenas de mulheres e crianças indígenas, para depois mutilar seus corpos, cortando os genitais das vítimas e colocando como enfeites de seus chapéus! Nove homens brancos morreram e trinta e oito ficaram feridos nesse massacre, a maioria em decorrência de disparos dos próprios soldados, pois estavam bêbados quando partiram para o “combate”. Essa cena, sucintamente descrita em duas páginas, sintetiza a essência do livro, bem como toda a história do extermínio dos nativos americanos originais, privados de suas terras, de seu modo de vida e por fim de suas próprias vidas pela ganância do homem branco.

História essa que guarda dolorosas semelhanças com situações que vivemos hoje em dia, aqui mesmo no Brasil. Para justificar sua cobiça pelo ouro e pela devastação da natureza, o homem branco criou uma ideologia que justificasse e tornasse nobre (ao menos aos seus próprios olhos) todos os crimes cometidos contra os povos indígenas: a doutrina do “Destino Manifesto”. A partir daí, foi progressivamente demonizando a figura do índio como uma “ameaça vermelha”, que deveria ser exterminada a todo custo:

“Vim para matar índios e acho que é certo e honroso usar qualquer modo sob o céu do Senhor para matar índios.” (fala do coronel Chivington)

Sabe essa história de “Bandido bom é bandido morto”? Teve sua origem no Velho Oeste, quando Tosawi, da tribo dos arapahos, foi se render ao poderoso general Sheridan e disse, em um inglês trôpego: “Tosawi, bom índio.” A resposta do general foi implacável: “Os únicos índios bons que já vi estavam mortos.” A frase logo se popularizou como “Índio bom é índio morto” e, infelizmente, ainda é pronunciada em nossos dias (substituindo-se o índio pela “ameaça” que se deseja exterminar).

“Deixem-nos matar esfolar e vender até que o búfalo tenha sido exterminado, pois esse é o único modo de conseguir paz duradoura e permitir a civilização progredir.” (Resposta do general Sheridan a um grupo de cidadãos texanos preocupados com a extinção do búfalo nas mãos dos caçadores brancos)


Estava eu no meio dessa pesada leitura quando recebi uma espécie de revelação. Esse livro é uma excruciante evidência do quanto é difícil para o ser humano conviver de forma pacífica com o diferente. Quando duas culturas diversas entram em contato, ao longo da história, tem sido inevitável que uma delas sucumba diante da outra. E então chegou a epifania, que me levou dos irmãos indígenas aos irmãos de outros planetas: talvez essa nossa imaturidade ao lidar com a diversidade seja um dos grandes motivos para a presença extraterrestre ainda não ter sido amplamente divulgada. A descoberta de povos alienígenas, em sua maioria muito superiores aos terrestres, significaria talvez a extinção da cultura humana, em nosso atual nível de consciência. Antes eu sonhava com o dia em que os ETs se mostrassem à humanidade como significando o fim de toda intolerância étnica, religiosa ou de gênero. Agora percebo que enquanto formos intolerantes, não estaremos prontos para esse encontro com nossos irmãos das estrelas.

Voltando ao Velho Oeste, nem todos os brancos concordavam com as insanidades e atrocidades disfarçadas como missão divina:

“Pois uma nação poderosa como a nossa estar realizando uma guerra contra uns poucos nômades isolados, em tais circunstâncias, é um espetáculo muito humilhante, uma injustiça sem paralelo, um crime nacional muito revoltante que deve, mais cedo ou mais tarde, atrair sobre nós ou nossa posteridade o julgamento do Céu.” (trecho do relatório do coronel ‘Suiças Pretas’ Sanborn ao governo americano)

“É muito frequente (...) jornais fronteiriços disseminarem toda espécie de exageros e falsidades sobre os índios, o que é copiado em jornais de elevado conceito e ampla circulação (...) enquanto o lado índio do caso é raramente divulgado. Dessa forma, as pessoas ficam com ideias falsas sobre a questão.” (fala do comandante Crook sobre as Fake News disseminadas contra os indígenas para justificar os roubos de terra e os massacres).


A atual pandemia do Coronavírus, quem sabe, talvez nos ensine algo da antiga sabedoria indígena: todos os homens são irmãos, filhos do mesmo Pai.

“Touro Sentado (...) não podia compreender como os brancos poderiam ser tão indiferentes aos seus pobres.”


Trailers do filme inspirado no livro:


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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”


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