domingo, 8 de março de 2020

O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO – Mia Couto




“O último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência – a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a  nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores.”
(Palavras de Mia Couto ao receber o Prêmio Mário Antonio, da Fundação Calouste Gulbenkian, em 12 de junho de 2001)

Cada encontro com Mia Couto é uma nova surpresa. Da primeira vez que ouvir falar em seu nome, julguei que se tratasse de uma mulher, mas logo descobri que era um gajo. Então, ao sabê-lo moçambicano, imaginei-o negro e (não sei bem porque) muito alto e magro. Ao ver uma foto sua, contudo, descobri que ele está mais para o Professor Sergio de “A Casa de Papel”. E por fim, depois de ter lido várias citações de seus textos, peguei um livro seu para ler, com a expectativa de encontrar excelente Literatura. E descobri muito mais!

“O Último Voo do Flamingo” superou todas as minhas expectativas. Uma prosa feita de provérbios entrelaçados como as contas de um rosário, uma narrativa que é capaz de nos enternecer e fazer sorrir mesmo ao denunciar horríveis desumanidades, um uso tão peculiar da língua portuguesa que nos faz crer que o autor habita em seu próprio país, onde se fala um idioma que ansiamos aprender.

Trailer do filme “O Último Voo do Flamingo”:


E isso tudo é só o começo. Qualquer leitor dessa obra magnífica encontrará os encantos que resumi acima. Eu, contudo, tive a ventura de vivenciar uma experiência mística na leitura, tamanho foi o impacto que senti ao longo dessas páginas. Foi uma experiência que falou diretamente ao escritor em mim, mais que ao leitor, em uma jornada que se iniciou, talvez, com a extasiada leitura de “Cem Anos de Solidão” de García Márquez, que pela primeira vez descortinou as possibilidades do realismo mágico. E que prosseguiu com o feliz encontro com a Literatura Fantástica de Julio Cortázar, culminando finalmente com esse arrebatamento que foi ler Mia Couto. Existem livros para todos os gostos, é certo. Mas hoje estou convencido de que os livros que querem sair de mim desejam falar de um mundo que só se faz possível através da Literatura e ter, sempre, a missão de ajudar a mim mesmo (e a toda a humanidade, por extensão) a me tornar maior e melhor. Gratidão!


\\\***///



Qual é o seu tipo de monstro? Faça o teste e descubra!

“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”


Compre agora “Favela Gótica”, segundo romance de Fabio Shiva:



2 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...