sábado, 15 de janeiro de 2022

AS MIL ALMAS DE WILLIAM SHAKESPEARE, AVATAR DA LITERATURA

 


Resenha do livro “SHAKESPEARE DE A a Z – LIVRO DAS CITAÇÕES”, com seleção de Sergio Fáraco

No início do ano fui acompanhar meu pai a um exame médico. Como dificilmente saio de casa sem levar algo para ler, procurei escolher o livro que melhor se adequava à situação: pequeno, que coubesse no bolso, e cuja leitura não fosse atrapalhada pelas constantes interrupções causadas por olhar na tela de chamada quando seria a vez de meu pai ser atendido. Achei que essa antologia de citações de Shakespeare seria a escolha ideal, mas não imaginava que fosse suscitar tantas reflexões e descobertas.

Dizer que durante alguns anos Shakespeare foi meu autor favorito não é muito correto: ele estava mais para meu ídolo. Era imagem dele que adornava a tela de meu computador, e li e reli quase todas as suas peças, muitas delas no original, como forma de treinar minhas habilidades como letrista da banda de heavy metal Imago Mortis. Mas isso é outra história, que aliás conto no livro “Diário de um Imago: contos e causos de uma banda underground” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3).


O que quero registrar aqui hoje é que, à medida que fui lendo às citações do Bardo, fui sendo tomado por um estranhamento: o que é que deu em mim, que nunca mais li um livro de Shakespeare? Releio uma média de três a quatro livros de Agatha Christie por ano. Então como é que deixei passar esse hiato de tanto tempo sem voltar ao meu autor favorito de todos os tempos?

Quando finalmente atinei com a resposta, fiquei de fato surpreso. É que esse período em que amei Shakespeare devotamente coincidiu com o período em que fui ateu. A conclusão que tirei dessa descoberta foi a de que todos nós precisamos de algum referencial de grandeza, algo maior do que nós mesmos, que nos dê norte e rumo. No meu caso, foi Shakespeare que coloquei no lugar de Deus, e agora entendo melhor porque tantos amigos ateus amam citar Krishnamurti. Outros elegem a ciência como divindade, e por aí vai. Isso também é outra história comprida, e aqui só quero dizer de minha alegria de poder retornar de braços abertos para Master Shakespeare, justamente quando decidi adotar a Literatura como minha religião oficial!

Mas afinal o que há em Shakespeare, que o torna tão grande? Essa bem cuidada seleção de Sergio Fáraco pode ajudar a explicar essa vastidão, que levou Goethe a afirmar que Shakespeare tinha mil almas! Algumas de suas frases são tão poderosas que acabaram entrando para o rol dos ditos populares, sem que a maioria das pessoas saiba que saíram da mente privilegiada de Shakespeare:

“O hábito não faz o monge.”

A famosa história da vida do Rei Henrique VIII (1612-1613) – Ato III – Cena I: Rainha Catarina

 

“Nem tudo que reluz é ouro.”

O mercador de Veneza (1596-1597) – Ato II – Cena VII: Marrocos

 

“O que não tem remédio remediado está.”

Otelo (1604-1605) – Ato I – Cena III: Doge

 

“O sangue chama sangue.”

Macbeth (1605-1606) – Ato III – Cena IV: Macbeth

 

Esse feito, por si só, constitui uma das maiores realizações que um escritor pode alcançar. Mas Shakespeare ainda tem frases muito famosas, mas que são via de regra associadas à sua autoria:


“Ser ou não ser… eis a questão.”

Hamlet (1600-1601) – Ato III – Cena I: Hamlet

 

“Há mais coisas entre o céu e a terra (…) do que sonha nossa vã filosofia.”

Hamlet (1600-1601) – Ato I – Cena V: Hamlet

 

“Que há num simples nome? O que chamamos rosa, com outro nome não teria igual perfume?”

Romeu e Julieta (1594-1595) – Ato II – Cena VI: Graciano

 

“Somos feitos da matéria dos sonhos; nossa vida pequenina é cercada pelo sono.”

A tempestade (1611-1612) – Ato IV – Cena I: Próspero

 

“A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se empavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muita barulheira, que nada significa.”

Macbeth (1605-1606) – Ato V – Cena V: Macbeth

 

Quero falar em especial de uma frase, que me fez viajar bastante na elucidação desse poder mágico de Shakespeare com as palavras:

“Há tanta piedade nele quanto leite em tigre macho.”

Coriolano (1607-1608) – Ato V – Cena IV: Menênio

 

Essa imagem poética é incrivelmente vívida e sugestiva. Primeiro, o Bardo associa a piedade ao leite, que é algo que imediatamente nos remete à mansidão das vacas. E então ele traz essa imagem totalmente antagônica de um tigre macho, que sugere ferocidade, sede de sangue, fúria assassina etc. Ou seja, algo o mais distante possível do conceito que podemos fazer da “piedade”. E assim ele consegue transmitir toda a crueldade do personagem com uma única frase. Genial demais!!!

Gosto muito desse trecho, onde o príncipe Hamlet instrui um grupo de atores sobre a arte de representar, mas que pode ser lido como um depoimento do próprio Shakespeare sobre o ofício de escritor:

“Que a discrição te sirva de guia; acomoda o gesto à palavra e a palavra ao gesto, tendo sempre em mira não ultrapassar a modéstia da natureza, porque o exagero é contrário ao propósitos da representação, cuja finalidade sempre foi, e continuará sendo, como que apresentar o espelho à natureza, mostrar à virtude suas próprias feições, à ignomínia sua imagem e ao corpo e idade do tempo a impressão de sua forma. O exagero ou o descuido, no ato de representar, podem provocar riso aos ignorantes, mas causam enfado às pessoas judiciosas, cuja censura deve pesar mais em tua apreciação do que os aplausos de quantos enchem o teatro.”

Hamlet (1600-1601) – Ato II – Cena II: Hamlet

Antes de finalizar com uma sequência de pepitas que pincei da seleção de Fáraco, compartilho essa frase de Shakespeare que, compreensivelmente, me traz muita alegria:

“O que o tempo nega aos homens em cabelo, dá em inteligência.”

A comédia dos erros (1592-1593) – Ato II – Cena II: Drômio de Siracusa

Pretendo ler e reler muito Shakespeare de agora em diante!


 

FIDELIDADE

“Sê fiel a ti próprio: segue-se disso, como o dia à noite, que a ninguém serás falso jamais.”

Hamlet (1600-1601) – Ato I – Cena III: Polônio

 

BRIGA

“Foge de entrar na briga; mas se acaso brigares, faz com que o competidor te tema sempre.”

Hamlet (1600-1601) – Ato I – Cena III: Polônio

 

VOZ

“A todos, teu ouvido; a voz, a poucos.”

Hamlet (1600-1601) – Ato I – Cena III: Polônio

 

FÚRIA

“Ficar enfurecido é revelar-se assombrado de medo.”

Antônio e Cleópatra (1606-1607) – Ato III – Cena XI: Enobarbo

 

INIQUIDADE

“Uns sobem pelos crimes, outros caem pela virtude. Alguns impunemente vivem sempre, nos vícios atolados, outros por uma falta são julgados.”

Medida por medida (1604-1605) – Ato II – Cena I: Escalo

 

REPUTAÇÃO

“A reputação é um apêndice ocioso e enganador, obtido muitas vezes sem merecimento e perdido sem nenhuma culpa.”

Otelo (1604-1605) – Ato II – Cena III: Iago

 

LEI

“Quando não pode a lei fazer justiça, é legal impedir que seja injusta.”

Vida e morte do Rei João (1596-1597) – Ato III – Cena I: Constança

 

CANSAÇO

“O cansaço ronca em cima de uma pedra, enquanto a indolência acha duro o melhor travesseiro.”

Cimbelino (1609-1610) – Ato III – Cena VI: Belário

 

MÃO

“As mãos que trabalham pouco são mais sensíveis.”

Hamlet (1600-1601) – Ato V – Cena I: Hamlet


 

CAUSA JUSTA

“Não pode haver couraça mais forte do que um coração limpo. Está três vezes mais armado quem defende a causa justa, ao passo que está nu, ainda que de aço revestido, o indivíduo de consciência manchada por ciúmes e injustiças.”

Henrique VI – 2ª Parte (1590-1591) – Ato III – Cena II: Rei Henrique

 

CIÚME

“Os ciumentos não precisam de causa justa para o ciúme: têm ciúme, nada mais. O ciúme é monstro que se gera em si mesmo e de si nasce.”

Otelo (1604-1605) – Ato III – Cena IV: Emília

 

COMPANHIA

“A sabedoria e a ignorância se transmitem como doenças; daí a necessidade de se saber escolher as companhias.”

Henrique IV – 2ª Parte (1597-1598) – Ato V – Cena I: Falstaff

 

DOR

“Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.”

Muito barulho por nada (1598-1599) – Ato III – Cena II: Benedito

 

ENTUSIASMO

“Quem sai de um banquete com o apetite que, ao sentar-se, tinha? (…) Sempre pomos mais entusiasmo no alcançar as coisas do que em gozá-las.”

O mercador de Veneza (1596-1597) – Ato II – Cena VI: Graciano

 

ESCOLHA

“Entre maçãs podres não há o que escolher.”

A megera domada (1593-1594) – Ato I – Cena I: Hortênsio

 

FALTAS

“Poucos gostam de ouvir falar nas faltas que com prazer praticam.”

Péricles (1608-1609) – Ato I – Cena I: Péricles


 

MEDICINA

“Às vezes está em nós a medicina que em vão ao céu pedimos.”

Bem está o que bem acaba (1602-1603) – Ato I – Cena I: Helena

 

MÉRITO

“Se fosseis tratar todas as pessoas de acordo com o merecimento de cada uma, quem escaparia da chibata?”

Hamlet (1600-1601) – Ato II – Cena II: Hamlet

 

MORTE

“Medonha morte, como tua pintura é feia e repulsiva!”

Hamlet (1600-1601) – Ato I – Cena V: Hamlet

 

“A imagem da morte deve ser como um espelho, que nos ensina ser a vida apenas um sopro passageiro.”

Péricles (1608-1609) – Ato I – Cena I: Péricles

 

ORGULHO

“As coisas mais mesquinhas enchem de orgulho os indivíduos baixos.”

Henrique VI – 2ª Parte (1590-1591) – Ato IV – Cena I: Suffolk

 

PIOR

“Nunca sofremos o pior enquanto podemos dizer: ‘Isto é o pior de tudo’.”

O Rei Lear (1605-1606) – Ato IV – Cena I: Edgar

 

REDUNDÂNCIA

“Estamos acendendo a luz de dia.”

As alegres comadres de Windsor (1600-1601) – Ato II – Cena I: Senhora Ford

 

\\\***///


 

O SINCRONICÍDIO – Fabio Shiva

 “E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”

Haverá um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.

“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”

Suspense, erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo (clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações. Um romance de muitas possibilidades.

Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender o leitor.

 

Oito anos depois do lançamento do livro físico, finalmente disponível também em e-book:

https://www.amazon.com.br/dp/B09L69CN1J

 

Livro físico:

https://caligo.lojaintegrada.com.br/o-sincronicidio-fabio-shiva

 

Book trailer:

http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA


 

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