quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

O ENIGMA DA ESFINGE NA PERSONIFICAÇÃO DA POESIA DE CÍCERO CHRISTÓFARO

 


Resenha do livro “TIROS DE ARCABUZ” de Cícero Christófaro

Passei os últimos dias de 2021 na feliz companhia da Poesia de Cícero Chritófaro, apreciando sem pressa cada poema, por vezes rindo de uma traquinagem do poeta, por vezes balançando a cabeça em concordância diante da sabedoria de um verso, frequentemente me emocionando com o encanto e a beleza que fui encontrando. E ao longo da leitura fui me dando conta dessa rica multiplicidade das personas poéticas de Cícero, que por um capricho eu quis enquadrar em apenas três (mesmo percebendo que podem ser bem mais):

1) O menino Cicinho

Jocoso, matreiro e brincalhão, um menino de cabeça branca que brinca de fazer poesia como brincaria de empinar pipa ou jogar bola, autor de versos como:

“nasci

vivi

morri

nem por isso me dei mal”


2) Cícero, o homem

O poeta viril, que nos fala de seus amores, desejos e desencantos:

“maria

diz que não amo seus joelhos

Luiza

que não seus cabelos

Sara

que me esqueço das suas

sobrancelhas

Rute

reclama minhas olhadas às

esguelhas

para seus mamilos

são lindos

não fui eu quem os fez

Mariana

por sua vez

reclama que não olho seus pés”

 

3) O velho Christófaro

É o poeta sábio, vivido e hábil, que resume em poucos versos reflexões profundas:

“em meio a meio à mentira

sonho e luto

sou espaço

entre a semente e o fruto”

 

E desde que notei essa tríplice personificação na Poesia de Cícero Christófaro, foi se tornando irresistível a alegoria da Esfinge, com seu enigma que pode custar a vida de quem não souber decifrá-lo:

“Qual é a criatura que pela manhã anda com quatro pernas, ao meio-dia com duas e à tarde com três?”


Édipo sagra-se herói ao responder “o homem”, percebendo na pergunta da Esfinge uma metáfora para o ciclo da vida humana: engatinhando na infância, caminhando com seus próprios pés na vida adulta e precisando de uma bengala na velhice. E tal como a Poesia de Cícero, essa bela história comporta muitos níveis de significação, ao gosto do leitor.

Eu, por mim, aposto que o Enigma de Cícero é solucionado no belo exemplo do homem que soube manter viva a sua criança interior e que, assim, consegue chegar à terceira idade com os olhos ainda brilhando pela perspectiva de novas e felizes descobertas. Aposto nesse exemplo, que tenho feito o possível para imitar.

Cícero Christófaro é um amigo querido que conheci através da “Cura Poética”, que começou como uma luminosa iniciativa da Verlidelas Editora (https://www.verlidelas.com/), com o segundo volume prestes a sair agora, no início de 2022. Por ocasião do lançamento da primeira antologia, em 2020, tive a oportunidade de ver o próprio Cícero se apresentando e declamando (https://youtu.be/kMfBDShZS_4).


Mas a “Cura Poética” acabou ganhando vida própria, como tinha de ser. O grupo inicial no WhatsApp, que foi criado unicamente para organizar o sarau de lançamento do livro (https://www.instagram.com/tv/CHy4zIZJuei/), acabou se tornando um espaço abençoado de compartilhamento de Poesia e Amor, fazendo lindamente jus ao nome. E foi então que a igualmente querida Sonia Regina Villarinho teve a feliz ideia de propor que os poetas do grupo declamassem os poemas uns dos outros, o que gerou uma série de vídeos encantadores, inclusive esse onde ela declama um de Cícero (https://youtu.be/uzz2jCI8UJQ).


Outra lembrança muito feliz foi o Sarau Pé de Poesia que teve como convidados de honra Cícero e outro queridíssimo, Marcos Peixe (https://www.instagram.com/p/CVEdFuQDx1Z/). Creio que foi nesse sarau que alguém declamou um poema de Cícero que muito me marcou. Não lembro qual a queridíssima irmã poeta que declamou, se foi Cristina Sobral, Dilu Machado ou Neuza de Brito Carneiro, mas o poema declamado ficou marcado a ferro e fogo, ou melhor dizendo, a tiro de arcabuz:

 

“Rival

 

é aquele que

beijou, beija, beijará ou beijaria

minha

ex, atual ou futura amada

 

matá-lo-ei

com tiros de arcabuz

comerei seu fígado com cuscuz

vendo seus restos mortais serem devorados pelos urubus

ao lado da minha

ex, atual ou futura amada

 

VENDETA!”

 

Simplesmente sensacional. Assim é a Poesia de Cícero Christófaro.




\\\***///

 


Imagine um jogo que ensina as crianças a rimar e fazer Poesia!

Disponível gratuitamente no link abaixo:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6446934

 

O jogo POESIA DE BOTÃO faz parte do projeto selecionado pelo Edital Arte Todo Dia – Ano IV, da Fundação Gregório de Mattos (Prefeitura de Salvador), com apoio de Athelier PHNX, Verlidelas Editora, Caligo Editora, Suporte Informática e AG1. O propósito do jogo é convidar as crianças a vivenciar o universo da Poesia de forma lúdica e atrativa, como uma “brincadeira de montar versos”. POESIA DE BOTÃO é especialmente indicado para crianças já alfabetizadas, mas nada impede que adultos possam brincar também e se beneficiar com o jogo.

https://youtu.be/UUm0XQfaslM


 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...