domingo, 11 de junho de 2023

O POETA GIBRAN ENSINA: “AME AS TEMPESTADES, EM VEZ DE FUGIR DELAS!”

 


Resenha do livro “TEMPORAIS”, de Gibran Khalil Gibran

Esse livro ficou tantos anos em minha estante que cheguei a achar que já o havia lido. Passei adiante o meu exemplar e, outros anos depois, encontrei outro no Cantinho dos Livros (espaço para doação e troca de livros no Mercado Municipal de Itapuã). Levei para casa, achando que era o momento de reler essa obra, para só então descobrir que na verdade era a primeira vez que eu a estava lendo.

Pois não se esquece facilmente um livro como “Temporais”. Quem lê leva consigo os arrepios e fustigamentos das tormentas, tufões e vendavais. Aqui as palavras do poeta Gibran açoitam a alma do leitor, tal como um tornado furioso atravessando um vilarejo.

Eu, que já conhecia e amava profundamente Gibran por sua obra-prima “O Profeta” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2017/12/o-profeta-gibran-khalil-gibran.html), tive a feliz surpresa de encontrar paralelos entre a jornada literária e espiritual do poeta libanês e a de outro poeta que amo e admiro muito, o alemão Hermann Hesse. Pois assim como Hesse enfrentou suas tempestades em obras como “O Lobo da Estepe” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2012/08/o-lobo-da-estepe-hermann-hesse.html) e “Demian” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2011/10/demian-hermann-hesse.html) antes de alcançar a sábia contemplação presente em “Sidarta” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2013/05/sidarta-hermann-hesse.html) e “O Jogo das Contas de Vidro” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2012/12/o-jogo-das-contas-de-vidro-hermann-hesse.html), da mesma forma Gibran lutou com seus “Temporais” antes de legar ao mundo “O Profeta”.

Anotei alguns trechos que reverberaram mais forte em minha alma:   

“Procurei a solidão porque me cansei dos que confundem amabilidade com fraqueza, e tolerância com covardia, e altivez com orgulho. Procurei a solidão porque me cansei de lidar com os endinheirados que pensam que o sola e a lua e as estrelas se levantam dos seus cofres e se deitam nos seus bolsos. Cansei-me dos políticos que enchem os olhos dos povos com poeira dourada e seus ouvidos com falsas promessas. Cansei-me dos sacerdotes que aconselham os outros, mas não se aconselham a si mesmos, e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos.”

“Perguntei, perplexo: ‘Então, a civilização é vã?’

Respondeu com ardor: ‘Sim, vã é a civilização. E tudo que está nela é vão. As descobertas e invenções nada são senão brinquedos com que a mente se diverte no seu tédio. Cortar as distâncias, nivelar as montanhas, vencer os mares, tudo isto não passa de aparências enganadoras, que não alimentam o coração nem elevam a alma. Quanto a esses quebra-cabeças, chamados ciências e artes, nada são senão cadeias douradas com as quais o homem se acorrenta, deslumbrado com seu brilho e seu tilintar... São os fios da tela que o homem tece desde o início do tempo sem saber que, quando terminar sua obra, terá construído a prisão dentro da qual ficará preso

Sim, vãs as ações do homem e vãos seus anseios e esperanças. Vão é tudo o que está na terra. Entre os palácios da vida, uma coisa só merece nosso amor e nossa dedicação, uma só...’

Esperei, ansioso, para saber o que era essa coisa única. Fechou os olhos, cruzou os braços, e sua face se iluminou. Depois, disse com uma voz suave e comovida: ‘É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma. (...) É um despertar no fundo da alma. Quem o sente, não o pode expressar em palavras. E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras.’”

“Faço votos para que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas.”

“Quereis que construa para vós, com promessas vazias, palácios decorados com palavras e cobertos com sonhos? Ou quereis, antes, que destrua o que os mentirosos edificaram e renegue o que os impostores estabeleceram?”

“No Vale das Trevas da vida, pavimentado com ossos e caveiras, andava eu sozinho numa noite em que as nuvens escondiam as estrelas e o terror enchia o silêncio.

Lá, na margem do rio de sangue e lágrimas que serpenteia como as cobras e corre como os sonhos dos criminosos, parei, os olhos fitos no vácuo, para escutar o murmúrio dos espíritos.”

“Disse: ‘Não vi nenhum cadáver abandonado por aí.’

Retrucou: ‘Tu olhas com os olhos da ilusão. Ao ver os homens se agitarem na tempestade, pensas que vivem, quando na realidade estão mortos desde que nasceram. Mas não houve quem os enterrasse, e ficaram sobre a terra a exalar podridão.’”

“Respondi: ‘Acredito em Deus e honro seus profetas e amo a virtude e espero pela vida eterna.’

Disse: ‘Essas são fórmulas que as gerações passadas têm repisado e que a imitação depositou nos teus lábios. Na realidade, tu só crês em ti mesmo e só honras a ti mesmo e só esperas por tua própria imortalidade. Desde o começo, o homem adora seu próprio ego, mas lhe empresta diversos nomes, conforme suas inclinações e aspirações, chamando-lhe ora Baal e ora Júpiter e ora Deus.’”

“A vida é uma mulher que se banha nas lágrimas de seus enamorados e se perfuma com o sangue de suas vítimas.

A vida é uma mulher que veste a brancura dos dias, forrada com a negrura das noites.

A vida é uma mulher que aceita o coração humano como amante, e o recusa como marido.

A vida é uma mulher linda, mas perversa; e quem descobre sua perversidade detesta sua beleza.”

“Dizei-me, ó homens: Há entre vós quem não desperte do sono da vida quando o amor lhe toca a alma com a ponta dos dedos?”

“A vida são duas metades: uma metade gelada e uma metade em chamas. O amor é a metade em chamas.”

“Perdoa, pois, a um jovem que mastiga palavras em vez de alimentos, e bebe seus próprios pensamentos em lugar de vinho.”

Não há o que perdoar, poeta. Só gratidão!


 


\\\***///

 

FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

Facebook: https://www.facebook.com/sincronicidio

Instagram: https://www.instagram.com/prosaepoesiadefabioshiva/


\\\***///


MANIFESTO – Mensageiros do Vento

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590

Um experimento literário realizado com muita autenticidade e ousadia. A ideia é apresentar um diálogo contínuo, não de diversos personagens entre si, mas entre as diversas vozes de um coral e o leitor. Seguir a pista do fluxo da consciência e levá-la a um surpreendente ritmo da consciência. A meta desse livro é gerar ondas, movimento e transformação na cabeça do leitor. Clarice Lispector, Ferreira Gullar, James Joyce e Virginia Woolf, entre outros, são grandes influências. Por demonstrarem que a literatura pode ser vista como uma caixa fechada, e que um dos papéis mais essenciais do escritor é, de dentro da caixa, testar os limites das paredes... Agora imagine esse livro escrito por uma banda de rock! É o que encontramos no livro MANIFESTO – Mensageiros do Vento, disponível aqui. Leia e descubra por si mesmo!

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...