sexta-feira, 22 de junho de 2012

ROTEIRO – Doc Comparato



O autor é experiente e conceituado como roteirista de cinema e tevê. O livro nasceu de um curso que ministrou na CAL, Centro de Artes de Laranjeiras, Rio de Janeiro, em 1982.

É possível que o livro, enquanto meio de ensino técnico, tenha ficado algo defasado de lá para cá. Mas além da técnica existe a arte, e há certas coisas que não mudam na arte de contar histórias.

Logo na primeira página uma definição tão primorosa quanto valiosa, que transcrevo por ser de utilidade pública. São as três qualidades essenciais que toda história deve ter:

“LOGOS é a palavra, o discurso, a forma que daremos. É a organização verbal de um roteiro, sua estrutura geral.”

“PATHOS é o drama, o drama humano. Portanto, é a vida, a ação, o conflito do dia-a-dia gerando acontecimentos. Mesmo na comédia temos o pathos do humor.”

“ETHOS é a ética, a moral. É o significado da estória, suas implicações morais, políticas etc. É o conteúdo do trabalho, o que se quer dizer com ele.”

***


Caramba!

Não lembrava que tinha começado a ler esse livro há tanto tempo. Tempus Fugit que não é mole!!!

Pois bem, comecei com grande expectativa e fiquei um pouco frustrado de início, pois ficou patente que o livro ficou superado em muitos quesitos referentes à tecnologia. Pois foi escrito em 1983, quando o videotape era a maior novidade, Internet era ficção científica e CDs e DVDs nem pensar! Mas mesmo assim encontrei diversão e aprendizado nessas passagens desatualizadas. Há um trecho em que Doc cita que alguns escritores adotaram a altíssima tecnologia de escrever em um computador, o que torna possível – maravilha das maravilhas – encontrar qualquer trecho que foi escrito simplesmente através de um comando...

Fora isso, certamente ficaram desatualizados também os diversos modelos de roteiro e formulários, além da lista de endereços e telefones ao final do livro.

Mas quer saber? Isso se tornou um mero detalhe quando finalmente retomei a leitura do livro e vi o quanto ele poderia somar à minha vivência.

“Roteiro” se propõe a ser um manual de “play writing”, o primeiro do gênero escrito no Brasil. Isso envolve a parte tecnológica, é certo, mas essa é a menor parte no ofício de escrever.

Doc Comparato fez um belíssimo trabalho, muito útil e interessante! Pois a maior parte do livro é dedicada justamente ao trabalho de se escrever, a dicas e orientações sobre o que funciona e sobre o que não funciona em uma história. O foco maior é a redação de roteiros para cinema e televisão, mas a maior parte das dicas se aplica a qualquer tipo de ficção.

Adorei adorei adorei esse livro!!!!

Me trouxe muitos insights e percepções sobre a arte de escrever. E também me proporcionou uma nova visão de filmes e novelas. Percebi o quanto havia aprendido ao assistir um filme (no caso, foi “O Silêncio dos Inocentes”) e ver como eu estava conseguindo fazer uma leitura totalmente nova, percebendo as intencionalidades do diretor e do roteirista com cada cena...

Valeu a pena esperar tanto tempo para ler esse livro! Valeu a pena levar tanto tempo para terminar de lê-lo!

Em tempo: creio que o livro foi reeditado com o título “Da Criação ao Roteiro” (Ed. Summus). Para mais informações vejam:

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