O
autor é experiente e conceituado como roteirista de cinema e tevê. O livro
nasceu de um curso que ministrou na CAL, Centro de Artes de Laranjeiras, Rio de
Janeiro, em 1982.
É
possível que o livro, enquanto meio de ensino técnico, tenha ficado algo
defasado de lá para cá. Mas além da técnica existe a arte, e há certas coisas
que não mudam na arte de contar histórias.
Logo
na primeira página uma definição tão primorosa quanto valiosa, que transcrevo
por ser de utilidade pública. São as três qualidades essenciais que toda
história deve ter:
“LOGOS
é a palavra, o discurso, a forma que daremos. É a organização verbal de um
roteiro, sua estrutura geral.”
“PATHOS
é o drama, o drama humano. Portanto, é a vida, a ação, o conflito do dia-a-dia
gerando acontecimentos. Mesmo na comédia temos o pathos do humor.”
“ETHOS
é a ética, a moral. É o significado da estória, suas implicações morais,
políticas etc. É o conteúdo do trabalho, o que se quer dizer com ele.”
***
Caramba!
Não lembrava que tinha começado a ler esse livro há tanto
tempo. Tempus Fugit que não é mole!!!
Pois bem, comecei com grande expectativa e fiquei um pouco
frustrado de início, pois ficou patente que o livro ficou superado em muitos
quesitos referentes à tecnologia. Pois foi escrito em 1983, quando o videotape
era a maior novidade, Internet era ficção científica e CDs e DVDs nem pensar!
Mas mesmo assim encontrei diversão e aprendizado nessas passagens
desatualizadas. Há um trecho em que Doc cita que alguns escritores adotaram a
altíssima tecnologia de escrever em um computador, o que torna possível –
maravilha das maravilhas – encontrar qualquer trecho que foi escrito
simplesmente através de um comando...
Fora isso, certamente ficaram desatualizados também os
diversos modelos de roteiro e formulários, além da lista de endereços e
telefones ao final do livro.
Mas quer saber? Isso se tornou um mero detalhe quando
finalmente retomei a leitura do livro e vi o quanto ele poderia somar à minha
vivência.
“Roteiro” se propõe a ser um manual de “play writing”, o
primeiro do gênero escrito no Brasil. Isso envolve a parte tecnológica, é
certo, mas essa é a menor parte no ofício de escrever.
Doc Comparato fez um belíssimo trabalho, muito útil e
interessante! Pois a maior parte do livro é dedicada justamente ao trabalho de
se escrever, a dicas e orientações sobre o que funciona e sobre o que não
funciona em uma história. O foco maior é a redação de roteiros para cinema e
televisão, mas a maior parte das dicas se aplica a qualquer tipo de ficção.
Adorei adorei adorei esse livro!!!!
Me trouxe muitos insights e percepções sobre a arte de
escrever. E também me proporcionou uma nova visão de filmes e novelas. Percebi
o quanto havia aprendido ao assistir um filme (no caso, foi “O Silêncio dos
Inocentes”) e ver como eu estava conseguindo fazer uma leitura totalmente nova,
percebendo as intencionalidades do diretor e do roteirista com cada cena...
Valeu a pena esperar tanto tempo para ler esse livro! Valeu
a pena levar tanto tempo para terminar de lê-lo!
Em tempo: creio que o livro foi reeditado com o título “Da
Criação ao Roteiro” (Ed. Summus). Para mais informações vejam:
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