O
maior escritor homenageia o maior poeta da Bahia, em um texto apaixonado e
apaixonante! Quem já amava Castro Alves, após a leitura de seu ABC terá mais e
melhores motivos para considerá-lo um grande gênio da raça! E quem ainda não
ama o Poeta da Liberdade, terá aqui uma linda oportunidade de se deixar seduzir
pela paixão condoreira!
Acostumado
à prosa fluida e lúdica de Jorge, a princípio estranhei tantas e extensas notas
de rodapé, com tantos mínimos detalhes. Depois fui entendendo que era o amor a
Castro Alves que motivava o desejo pela exatidão histórica e pela minúcia. E
foi o mesmo amor desmedido que se manifestou de outra forma para mim
surpreendente: em seus arroubos, Jorge Amado não mede palavras e bate forte em alguns
nomes como Mário de Andrade, Tobias Barreto e Machado de Assis!
A
pinimba com Mário de Andrade fica bem compreensível, pois foi o paulista que
implicou primeiro com o baiano, ao fazer uma crítica meio estrambótica a Castro
Alves, comparando-o a Fagundes Varela: o autor de Macunaíma desgosta profundamente do fato de um carvalho, na poesia
de Castro Alves, se referir a um carvalho, enquanto na de Varela pode ser um
carvalho ou uma baraúna, ou um salgueiro... chegando ao ponto de louvar Varela
por sempre enfiar uma cachoeira em seus poemas, gerando um “mistério
psicológico”, enquanto Castro Alves estaria reduzido a uma “pobre realidade”...
Convenhamos que é implicância pura, e por conta disso Mário de Andrade levou
uma bela duma espinafrada de Jorge Amado. Merecida, em minha opinião.
Já
no caso de Tobias Barreto e, principalmente, de Machado de Assis, penso que a ira
de Jorge foi um pouco pesada demais, julgando-os pelo fato de, sendo ambos
mestiços, não terem se colocado de forma mais aberta contra a escravidão. Penso
que só quem sentiu na pele (literalmente) o racismo que eles sofreram é que
pode entender o motivo desta ou daquela atitude.
Outro
caso de exageros de amor de Jorge Amado por Castro Alves, esse mais engraçado,
é quando o autor do ABC dá um pito daqueles na mulher que foi a última paixão
do poeta, pelo simples motivo dela ter se recusado a ceder aos ardentes desejos
de Castro Alves, por medo de ficar falada na cidade, perdendo seu status social
e com ele seu ganha-pão de professora particular. Jorge fica mesmo retado com a
tal fulana por não ter aliviado a barra do poeta! O que na verdade é um recurso
de gênio, pois com essa birra Jorge Amado consegue dar uma nota cômica em um
momento muito triste da biografia de Castro Alves.
Em
resumo, o livro é isso: um gênio falando de outro. Ou seja, um deleite de
encher os olhos! Um efeito que eu apreciei particularmente foi o fato de Jorge
narrar a história de Castro Alves para sua “amiga” (Zélia Gattai, certamente),
dando um toque amoroso e uma narrativa sentimental paralela que muito soma à
beleza da narrativa.
Diante
de tudo isso, só posso agradecer à Mainha pela dádiva de ter nascido nessa
terra de magia e beleza, que viu nascer um Castro Alves e um Jorge Amado,
dentre tantos outros espetaculares baianos!
Viva
a Bahia! Viva Jorge Amado! Viva Castro Alves!
\\\***///
ESCRITORES PERGUNTAM,
ESCRITORES RESPONDEM
Escrever
para quê?
Doze
escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do
Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O
resultado é este livro: um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o
leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os
autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual,
recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.
Disponível
no link abaixo, leia e compartilhe:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058
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