Surpreendente
e assustador, esse é o tipo de livro que fica fermentando dentro da cabeça da
gente depois da leitura. Escrito entre 1976 e 1981, em plena ditadura militar, “Não
Verás País Nenhum” é uma asfixiante ficção científica brasileira – com ênfase
na “brasilidade” da história. Brandão não se limitou em ambientar no Brasil uma
história futurista, mas inventou uma forma toda própria e absolutamente
tupiniquim de narrar o futuro, que acabou engendrando um livro diferente de
tudo que já li, certamente nada parecido com as obras de Isaac Asimov, Arthur
C. Clarke ou Robert A. Heinlein.
O
próprio título já dá uma ideia do que vem pela frente, ao subverter genialmente
o famoso verso ufanista de Olavo Bilac:
“Ama, com fé e
orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás
nenhum país como este!”
Boa
parte do terror da narrativa vem de uma incômoda percepção: hoje, em 2018,
estamos mais próximos da surreal e pavorosa fantasia imaginada pelo autor que
na própria época em que o livro foi escrito. É muito angustiante ver como um
delírio tão bizarro escrito há mais de 30 anos pode trazer tanto de profecia.
Achei
a leitura cansativa, árida, penosa. Mas, coisa estranha, ao finalmente terminar
de ler o livro, fiquei sentindo saudades... Foi então que se tornou evidente
que o cansaço da leitura vem do próprio tema em si, desse profundo mergulho na
Sombra nacional: a conivência com a corrupção, o descaso com a natureza, o
despudorado flerte com o totalitarismo. Esse é o lado sombrio de ser
brasileiro, aqui exposto em tons de pesadelo. E hoje, mais do que nunca, o sonho
ruim periga se tornar triste realidade.
Ignácio
de Loyola Brandão, ao utilizar a Literatura para denunciar as mazelas do
Brasil, com tanta arte e engenho, me faz ter vergonha, mas também orgulho de
ser brasileiro!
Conferência
sobre a obra:
\\\***///
Agora
disponível gratuitamente no Wattpad, LABIRINTO CIRCULAR / ISSO TUDO É MUITO
RARO é um livro duplo de contos estruturados como seis pares de “opostos
espelhados”. São ao todo doze histórias que têm como fio condutor a polarização
entre o Olhar e a Consciência (representados nas capas do livro como as pupilas
sobrepostas e o cérebro, respectivamente) e que abordam, cada uma a seu modo,
alguns dos antagonismos essenciais: Amor e Morte, Cotidiano e Fantástico,
Concreto e Absurdo. Um exercício literário para mentes inquietas e
questionadoras.
LABIRINTO
CIRCULAR
ISSO
TUDO É MUITO RARO
Boa tarde! Uma bela postagem!!
ResponderExcluirA lacuna na inspiração
Beijos e uma excelente semana.
Gratidão, querida!
ExcluirMuito bem lembrado, oportuno, necessário para o momento atual.
ResponderExcluirExcelente texto, Fábio! Parabéns!
Um fio liga aquele final dos anos 70, quando o livro foi lançado, ao momento atual. Infelizmente...
Abraços, Christian Petrizi
Salve caro amigo! Gratidão pelo lúcido comentário e por essa energia boa!
Excluireu tenho esse livro 'não verás país nenhum', tentei ler, mas, com você falou, a leitura é bem pesada... daí parei. mas não desisti, vou voltar a ler porque o tema me chamou atenção. muito bom ler uma resenha dele!
ResponderExcluirOlá Sara, valeu por seu comentário! Hoje mesmo eu estava lembrando desse livro, de como foi difícil chegar ao fim e de como fiquei sentindo falta dele depois!
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