Há
muito queria ler esse que é o livro mais famoso do controverso autor Philip K.
Dick, e a oportunidade surgiu nessa excelente versão do livro com o texto
completo e apresentado em forma gráfica, disponível em inglês no link:
Curiosamente,
levei algum tempo para me adaptar a essa linguagem, que apresenta o texto do
livro na forma de uma história em quadrinhos, dividida em 24 episódios. Eu amo
ler livros e também amo HQs, mas nesse contato inicial achei a leitura um pouco
pesada. Contudo, como eu realmente queria ler esse livro, insisti e fui
grandemente recompensado. Da metade para o final eu simplesmente não conseguia
mais parar de ler.
Sabe
aquele livro que mexe com sua cabeça? Que faz você repensar muitos valores até
então tidos como imutáveis? Que atiça sua imaginação a ponto de você se sentir
vivendo mais dentro da história do livro que na sua própria? Pois é, esse é um
livro desse tipo, que não se lê impunemente.
Essa
obra ficou célebre principalmente por ter inspirado o icônico filme “Blade
Runner”, de Ridley Scott (vide trailer: https://youtu.be/eogpIG53Cis).
Embora seja inegavelmente uma grande película, “Blade Runner” é tão diferente
de “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?” que nem cabe aqui a tradicional
pergunta sobre qual é melhor, o livro ou o filme. Penso que o livro mergulha
mais fundo e traz mais inquietações.
Uma
das grandes sacações do livro que ficaram totalmente de fora no filme foi a
religião do Mercerismo, que consiste em uma espécie de videogame interativo
onde o profeta Mercer sobe uma montanha, enquanto uma figura indistinta atira
pedras sobre ele. As pessoas participam da religião experimentando tudo o que
Mercer experimenta, inclusive sangrando quando ele recebe uma pedrada, e também
compartilhando umas com as outras as emoções que estão sentindo.
Outra
diferença importante é a motivação do caçador de recompensas Rick Deckard, que
no filme é retratado de forma glamourizada por Harrison Ford. No livro, Rick mata
os androides para conseguir comprar um animal vivo, que na Terra devastada por
uma guerra nuclear se tornou um símbolo de status social. Quem não tem dinheiro
para possuir um animal vivo tem que se contentar com substitutos mecânicos,
como o próprio Rick, que é o infeliz dono de uma ovelha elétrica...
A
questão crucial do livro (de 1968), contudo, é a difícil distinção entre um ser
humano e um androide, que é colocada em um cenário futurista apocalíptico que,
no filme (de 1982), situa-se no então distante ano de 2019... Na concepção de
Philip K. Dick, existe uma diferença fundamental que separa androides e homens:
a capacidade de empatia.
Embora
sejam máquinas refinadíssimas, que imitam a vida a tal ponto que só podem ser
diferenciadas dos seres humanos por um teste de medula, os androides são
incapazes de se colocar no lugar de outro ser vivo.
Impossível
ler esse livro nos dias de hoje e não vê-lo como uma sinistra e acurada
profecia. Natureza devastada, animais extintos e simulacros de seres humanos
que são incapazes de se colocar no lugar do outro... Caras, que pesadelo!!!
Estamos cercados por androides!!!
\\\***///
Qual é o seu tipo de
monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade
habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que
aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas
normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a
maneira mais ordinária de ser monstruoso.”
Compre
agora “Favela Gótica”, segundo romance de Fabio Shiva:
Gostei bastante!:)
ResponderExcluirDeambulando tão sozinha nesta quimera. | Poetizando e Encantando |
Beijos e um bom fim de semana!
Gratidão, querida Cidália!
Excluir