sexta-feira, 16 de agosto de 2019

BLADE RUNNER: ANDROIDES SONHAM COM OVELHAS ELÉTRICAS? – Philip K. Dick



Há muito queria ler esse que é o livro mais famoso do controverso autor Philip K. Dick, e a oportunidade surgiu nessa excelente versão do livro com o texto completo e apresentado em forma gráfica, disponível em inglês no link:

Curiosamente, levei algum tempo para me adaptar a essa linguagem, que apresenta o texto do livro na forma de uma história em quadrinhos, dividida em 24 episódios. Eu amo ler livros e também amo HQs, mas nesse contato inicial achei a leitura um pouco pesada. Contudo, como eu realmente queria ler esse livro, insisti e fui grandemente recompensado. Da metade para o final eu simplesmente não conseguia mais parar de ler.

Sabe aquele livro que mexe com sua cabeça? Que faz você repensar muitos valores até então tidos como imutáveis? Que atiça sua imaginação a ponto de você se sentir vivendo mais dentro da história do livro que na sua própria? Pois é, esse é um livro desse tipo, que não se lê impunemente.

Essa obra ficou célebre principalmente por ter inspirado o icônico filme “Blade Runner”, de Ridley Scott (vide trailer: https://youtu.be/eogpIG53Cis). Embora seja inegavelmente uma grande película, “Blade Runner” é tão diferente de “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?” que nem cabe aqui a tradicional pergunta sobre qual é melhor, o livro ou o filme. Penso que o livro mergulha mais fundo e traz mais inquietações.



Uma das grandes sacações do livro que ficaram totalmente de fora no filme foi a religião do Mercerismo, que consiste em uma espécie de videogame interativo onde o profeta Mercer sobe uma montanha, enquanto uma figura indistinta atira pedras sobre ele. As pessoas participam da religião experimentando tudo o que Mercer experimenta, inclusive sangrando quando ele recebe uma pedrada, e também compartilhando umas com as outras as emoções que estão sentindo.

Outra diferença importante é a motivação do caçador de recompensas Rick Deckard, que no filme é retratado de forma glamourizada por Harrison Ford. No livro, Rick mata os androides para conseguir comprar um animal vivo, que na Terra devastada por uma guerra nuclear se tornou um símbolo de status social. Quem não tem dinheiro para possuir um animal vivo tem que se contentar com substitutos mecânicos, como o próprio Rick, que é o infeliz dono de uma ovelha elétrica...

A questão crucial do livro (de 1968), contudo, é a difícil distinção entre um ser humano e um androide, que é colocada em um cenário futurista apocalíptico que, no filme (de 1982), situa-se no então distante ano de 2019... Na concepção de Philip K. Dick, existe uma diferença fundamental que separa androides e homens: a capacidade de empatia.

Embora sejam máquinas refinadíssimas, que imitam a vida a tal ponto que só podem ser diferenciadas dos seres humanos por um teste de medula, os androides são incapazes de se colocar no lugar de outro ser vivo.

Impossível ler esse livro nos dias de hoje e não vê-lo como uma sinistra e acurada profecia. Natureza devastada, animais extintos e simulacros de seres humanos que são incapazes de se colocar no lugar do outro... Caras, que pesadelo!!! Estamos cercados por androides!!!




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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
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