“O último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência
– a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado
pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos
a nós, escritores, a um crescente
empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de
todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime
e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores.”
(Palavras de Mia
Couto ao receber o Prêmio Mário Antonio, da Fundação Calouste Gulbenkian, em 12
de junho de 2001)
Cada
encontro com Mia Couto é uma nova surpresa. Da primeira vez que ouvir falar em
seu nome, julguei que se tratasse de uma mulher, mas logo descobri que era um
gajo. Então, ao sabê-lo moçambicano, imaginei-o negro e (não sei bem porque) muito
alto e magro. Ao ver uma foto sua, contudo, descobri que ele está mais para o
Professor Sergio de “A Casa de Papel”. E por fim, depois de ter lido várias citações
de seus textos, peguei um livro seu para ler, com a expectativa de encontrar
excelente Literatura. E descobri muito mais!
“O
Último Voo do Flamingo” superou todas as minhas expectativas. Uma prosa feita
de provérbios entrelaçados como as contas de um rosário, uma narrativa que é
capaz de nos enternecer e fazer sorrir mesmo ao denunciar horríveis
desumanidades, um uso tão peculiar da língua portuguesa que nos faz crer que o
autor habita em seu próprio país, onde se fala um idioma que ansiamos aprender.
Trailer
do filme “O Último Voo do Flamingo”:
E
isso tudo é só o começo. Qualquer leitor dessa obra magnífica encontrará os
encantos que resumi acima. Eu, contudo, tive a ventura de vivenciar uma
experiência mística na leitura, tamanho foi o impacto que senti ao longo dessas
páginas. Foi uma experiência que falou diretamente ao escritor em mim, mais que
ao leitor, em uma jornada que se iniciou, talvez, com a extasiada leitura de “Cem
Anos de Solidão” de García Márquez, que pela primeira vez descortinou as
possibilidades do realismo mágico. E que prosseguiu com o feliz encontro com a
Literatura Fantástica de Julio Cortázar, culminando finalmente com esse
arrebatamento que foi ler Mia Couto. Existem livros para todos os gostos, é
certo. Mas hoje estou convencido de que os livros que querem sair de mim
desejam falar de um mundo que só se faz possível através da Literatura e ter,
sempre, a missão de ajudar a mim mesmo (e a toda a humanidade, por extensão) a me
tornar maior e melhor. Gratidão!
\\\***///
Qual é o seu tipo de
monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas
as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não
existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É
claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser
monstruoso.”
Compre agora “Favela
Gótica”, segundo romance de Fabio Shiva:
Muito, muito bom! :)
ResponderExcluir-
Toca-me, os sentidos ...
-
Ontem menina, hoje Mulher
-
Beijo, e uma excelente semana
Gratidão!
Excluirbjs