Por
uma triste sincronicidade, terminei de ler “O Conto da Aia” na mesma semana em
que o monumento a Mãe Gilda de Ogum, aqui em Itapuã, sofreu mais um vandalismo.
O agressor, ao ser preso, disse que estava “cumprindo a vontade de Deus”. A
leitura da apavorante narrativa de Margaret Atwood e a não menos apavorante notícia
da depredação do monumento a Mãe Gilda sinalizam igualmente como boa parte do
que chamamos de “religião”, na verdade, dedica-se prioritariamente a oprimir a
mulher.
A
história de Mãe Gilda é incomodamente simbólica. Ialorixá do Axé Abassá de Ogum,
em Itapuã, teve seu terreiro invadido por membros da Assembleia de Deus, que a
atacaram verbal e fisicamente, golpeando sua cabeça com uma Bíblia (!!!). Mãe
Gilda ficou tão abalada que adoeceu. Meses depois, viu sua foto estampada no
jornal da Igreja Universal, com a manchete: “macumbeiros charlatões lesam a
vida e o bolso de clientes”. Teve um ataque cardíaco fulminante. Por conta
disso, o dia de sua morte, 21 de janeiro, foi decretado como Dia de Combate à
Intolerância Religiosa, com a inauguração do monumento no Abaeté.
Por
incrível que pareça, a depredação dessa semana não foi a primeira: em 2018 o
monumento sofreu violência semelhante. Esses ataques à efígie de bronze
conseguem causar ainda mais perplexidade que as agressões praticadas contra a mulher
de carne e osso. Serão realmente humanos esses corações que abrigam tanto ódio
em nome de Deus? É evidente que as pessoas que cometeram esses desatinos devem
sofrer de algum tipo de transtorno mental. Contudo cabe a pergunta: como é que
pode haver religiões onde essas pessoas envenenadas pelo ódio se sentem em
casa? Como é possível colocar o ódio em um altar e convencer alguém de que se
está adorando a Deus?
É
por isso que “O Conto da Aia” é tão assustador. O livro trata em sua essência
de como um Estado totalitário pode se valer do patriotismo e da religião para
justificar que as pessoas sejam privadas de seus direitos. Escrito em 1985 e
vencedor de vários prêmios, o livro voltou a ser destaque em anos recentes, com
a escalada de tipos como Trump e Bolsonaro ao poder. Pois o jogo que eles
praticam é bem semelhante aos horrores descritos no livro: utilizar a xenofobia
e a intolerância religiosa como forma de manipulação.
Contudo
não se iluda quem queira considerar Bolsonaro, Trump e afins como monstros
enganadores de pobres inocentes bem-intencionados. Eles não teriam poder algum
se não encontrassem a conivência e cumplicidade daqueles que buscam na religião
uma justificativa para se sentirem melhores que os outros e, pior ainda, para negarem
aos outros o direito de pensar de forma diferente.
Ao
descrever cenas brutais que podem muito bem acontecer em um futuro próximo se
não fizermos nada a respeito, Margaret Atwood nos ameaça com o dom da profecia.
E enquanto houver pessoas que se consideram cristãs apoiando seres como
Bolsonaro e Trump, não podemos com segurança considerar “O Conto da Aia” como
apenas uma horripilante ficção.
“Se acontecer
de você ser homem, em qualquer tempo no futuro, e tiver chegado até aqui, por favor
lembre-se: você nunca será submetido à tentação de sentir que tem de perdoar um
homem como uma mulher.”
Margaret Atwood, “O Conto
da Aia”
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FAVELA
GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:
Durante
esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única
garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade
preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais
luminoso e solidário.
O
livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do
cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos
tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos
mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo das
Trevas para a Luz.
A
versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na
tentativa de proporcionar entretenimento a todos durante a quarentena – o autor
e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o PDF
de todo o livro.
Fique
à vontade para repassar o arquivo para amigos e parentes.
Leia
ou baixe todo o livro no link abaixo:
Link
do livro no SKOOB:
Book
trailer
Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
Gostei bastante!! :))
ResponderExcluir**
A minha razão de viver 🎂🍾🥂
Beijo e um excelente Domingo!
Gratidão, querida!
ResponderExcluirBjs