Comentários sobre o
livro “LABIRINTO CIRCULAR”
de Fabio Shiva
Fiquei muito feliz por finalmente lançar em e-book esse livro (https://www.amazon.com.br/Labirinto-Circular-Fabio-Shiva-ebook/dp/B09MSVN9GZ), que é uma espécie de Doppelgänger ou “metade sombria” de “Isso Tudo É Muito Raro” (https://www.amazon.com.br/Isso-Tudo-%C3%89-Muito-Raro-ebook/dp/B09MSWTTBP). Os dois livros, hoje digitalmente separados, foram lançados fisicamente juntos em 2016, como um livro duplo ou geminado, com a capa de um sendo a contracapa de outro.
Como falei recentemente sobre a ideia por trás da estruturação dos livros dessa forma (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/12/so-ha-duas-maneiras-de-viver-ou-nao.html), hoje quero falar especificamente do processo de escrita dos seis contos de “Labirinto Circular”. Começando pelo título, que ao contrário de “Isso Tudo É Muito Raro” não foi retirado de uma das histórias. Aqui o título se refere à configuração de nosso cérebro, que sugere (ao menos para mim) os intrincados meandros de um labirinto circular.
Eu tinha uma vaga noção de que essa imagem de um labirinto circular teria sido retirada de algum dos maravilhosos contos de Jorge Luís Borges. Curiosamente, terminei de ler agora “Nova Antologia Pessoal” do Borges, onde consta “O jardim dos caminhos que se bifurcam”, uma de suas melhores histórias, com muitas referências a labirintos, mas não exatamente a um labirinto circular. Creio que quando li esse conto pela primeira vez, há muitos anos, ele ficou fermentando em meu espírito e acabou trazendo essa imagem da mente como um labirinto sem começo nem fim, de onde só se pode escapar por meio de algum movimento extraordinário e inesperado.
O melhor exemplo desse ardiloso e inescapável labirinto é o que acaba de me ocorrer, pois só ao digitar essas linhas acima foi que resgatei uma lembrança soterrada entre os escombros do inconsciente: “Labirinto Circular” é o nome de uma música composta por mim e por meu irmão Fabrício Barretto e gravada pela banda O Plano em 2005. O título da música foi (supostamente) inspirado no conto de Borges, e o título do livro foi retirado da música. Curioso como voltou tudo à minha mente agora, inclusive a letra da música, que acho muito bonita:
Quem me dera identificar o que te faz mistério
Traduzir, fichar, classificar e estudar a sério
Eu saberia como responder
O sim e o não do quê e do porquê
Quem me dera identificar o que te faz mistério
Quem me dera descobrir das cores qual você mais
gosta
E encontrar no I Ching a pergunta pra qualquer
resposta
Eu saberia como adivinhar
Exatamente o que te faz sonhar
Quem me dera descobrir das cores qual você mais
gosta
Quem me dera o teu rosto tatuado no meu braço
O teu cheiro preso em meu pescoço, teu amor no laço
Eu saberia como te levar
Aonde nós dois temos que chegar
Quem me dera o teu rosto tatuado no meu braço
Quem me dera encontrar no teu olhar o meu reflexo
Tua força no meu ombro, minha calma no teu sexo
Eu saberia te fazer sorrir
Com tudo aquilo que me faz sorrir
Quem me dera encontrar no teu olhar o meu reflexo
A música “Labirinto Circular” pode ser ouvida no link abaixo:
https://drive.google.com/file/d/1EzJuO4dj8omh-00DBja8zJK858JPDrm2/view?usp=sharing
Antes de comentar o processo criativo de cada um dos contos, quero
registrar ainda uma surpresa que tive ao reler o livro em 2021, a fim de
preparar a edição digital. Quando lancei o livro físico, há cinco anos, eu
considerava a metade “luminosa” (representada por “Isso Tudo É Muito Raro”)
claramente superior à metade “sombria” (dos contos aqui presentes). Nessa
releitura, achei os contos dessa “banda podre” não só mais divertidos, como
melhor escritos. Acho que na Literatura a tentativa de ser virtuoso é, por si
só, talvez um dos mais graves pecados.
Falta dizer ainda que esse livro duplo foi até hoje, e muito provavelmente para sempre, o único de meus livros que dediquei a pessoas. A metade “Labirinto Circular” foi dedicada com muito amor à minha esposa Fabíola Campos.
O ARMAZÉM
Confesso que senti medo ao descobrir a elevada taxa de suicídio entre
escritores, e lidei com esse medo como lido com todos os medos: escrevendo a
respeito dele. “O armazém” imaginado por mim é uma espécie de purgatório
destinado especialmente aos escritores suicidas. Uma diversão especial que tive
com esse conto foi apresentar vários desses escritores (Ernest Hemingway,
Virginia Woolf, Camilo Castelo Branco, Torquato Neto e vários outros) sem
nomeá-los diretamente, mas fazendo com que falassem apenas citações de suas
obras.
SOM ALTO
Escrevi esse conto como pura catarse para lidar com a raiva causada por
uma situação comum a muitos brasileiros: o caso do vizinho mal-educado (ou
generoso, conforme o ponto de vista), que adora colocar o som no último volume
(compartilhando seu gosto musical com toda a vizinhança, daí a “generosidade”).
Uma curiosidade sobre esse conto é que utilizei as letras que fiz para um
projeto chamado Ultrapagode, onde eu pretendia chamar a atenção para o grotesco
das letras do pagode baiano justamente escrevendo as letras mais grotescas que
eu pudesse. Cheguei a escrever três ou quatro, mas felizmente logo caí em mim e
vi que não se combate trevas com trevas. Como nada se perde, acabei utilizando
essas letras no conto, onde elas de fato deviam ficar. Em 2019 tive a alegria
de ver “Som alto” republicado na antologia “O Sopro da Besta” (https://www.verlidelas.com/product-page/o-sopro-da-besta),
da Verlidelas Editora.
AMOR, ETERNO RETORNO
Uma carta de amor… só que não. Escrevi esse conto também como forma de
catarse, para lidar com as mentiras e traições que fazem parte de muitas
relações de par. Ao reler o conto agora fiquei agradavelmente surpreso ao me
ver simpatizando com a mulher adúltera e extremamente cínica que escreve a
carta. Espero que os leitores se sintam da mesma forma.
DA ARTE DE CHUPAR (O)
PICOLÉ
Escrito aparentemente como um escrachado esquete de teatro, mas que na
verdade foi uma brincadeira com as várias camadas de significado que podem
coexistir na linguagem escrita ou falada. A maior inspiração para esse texto
foi a cena teatral de “Ulisses”, de James Joyce. Aqui aparece uma personagem
que espero encontrar novamente, em outro contexto: Luciana, uma detetive
amadora transexual que já foi um professor de antropologia e hoje dirige um
badalado salão de beleza, enquanto soluciona mistérios de assassinato que
desafiam a polícia.
BACKUP
Outra catarse, que brinca com um dos maiores temores do universo
masculino: a brochada. A ideia básica, que gerou uma história para lá de
bizarra, foi colocar um personagem masculino diante do dilema: o que é pior,
brochar ou ter que encarar um apocalipse reptiliano? Esse conto adquiriu para
mim um insuspeitado valor emocional, pois foi tema de uma conversa hilariante
com o querido amigo Thiago Poblan, que desencarnou em 2021 em decorrência de
complicações advindas da Covid. É muito gratificante ver como histórias podem
se tornar símbolos de coisas muito maiores que elas mesmas.
O MINIBARATA
Esse conto é certamente um de meus favoritos. O mote do título, preciso
confessar, foi um trocadilho infame. Acontece que o maior épico já escrito, e a
história da qual derivam todas as histórias, é o “Mahabharata”, colossal
narrativa em versos sobre uma grande guerra travada nos primórdios da
humanidade. Existem muitas versões da saga, mas recomendo como primeiro contato
a admirável adaptação de Peter Brooks (https://youtu.be/yhqkRGISQr8).
Pois bem, a palavra sânscrita Mahabharata pode ser traduzida por algo como “A Grande Índia”, onde Maha significa “grande” e Bharata é um dos nomes pelos quais a Índia é conhecida, como terra do legendário Rei Bharata. Só que essa palavra, “Bharata”, para falantes da língua portuguesa, evoca inevitavelmente o inseto que geralmente provoca repulsa, mas que também inspirou uma das obras-primas da Literatura Mundial. Foi só fazer essa ponte entre o “Mahabharata” e “A Metamorfose” de Kafka que se tornou irresistível a ideia de escrever uma saga épica protagonizada por baratas. O recurso dramático que encontrei para viabilizar essa epopeia foi o Apocalipse Zumbi, que em minha história teve o efeito colateral de propiciar uma evolução genética que conferiu inteligência e linguagem às baratas.
Outra curiosidade a respeito dessa história foi que criei um sistema numérico baseado no seis, partindo do princípio de que nosso sistema decimal tem a ver com o fato de termos dez dedos nas mãos. Então o sistema numérico de uma raça de seis patas bem poderia ser pautado pelo seis. A Literatura pode ser muitas coisas, e certamente é para mim. Mas antes de tudo ela deve ser divertida!
LABIRINTO CIRCULAR
https://www.amazon.com.br/Labirinto-Circular-Fabio-Shiva-ebook/dp/B09MSVN9GZ
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FAVELA
GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Durante
esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única
garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade
preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais
luminoso e solidário.
O
livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do
cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos
tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos
mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo
das Trevas para a Luz.
A
versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na
tentativa de proporcionar entretenimento a todos durante a quarentena – o autor
e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o
PDF de todo o livro.
Fique
à vontade para repassar o arquivo para amigos e parentes.
Leia
ou baixe todo o livro no link abaixo:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Link do livro no SKOOB:
https://www.skoob.com.br/livro/840734ED845858
Book
trailer
Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
Resenha (Perpétua):
Muito bom!!
ResponderExcluir-
O Ano nasceu e termina...em reflexão
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FELIZ ANO NOVO, A TODOS OS FAMILIARES E AMIGOS, EXTENSIVO AOS QUATROS CANTOS DO MUNDO. QUE NO ANO VINDOURO CONTINUEMOS NESTA NOSSA ETAPA, POÉTICAMENTE FALANDO. 📌
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ABRAÇOS
Gratidão, querida!
ExcluirFeliz 2022!