quinta-feira, 26 de maio de 2011

A LUTA CORPORAL – Ferreira Gullar


Nada mais adequado que o título desse livro de poemas. Pois não espere o leitor aquela poesia serena, inofensiva, imaculada na janela. A poesia do jovem Gullar (ele escreveu o livro dos 20 aos 23 anos) é tudo menos serena, inofensiva, imaculada. É uma poesia jiujiteira, que agarra o leitor pelo cangote e se embola com ele no tatame, obrigando-o a se embrenhar junto com o poeta no esforço físico de mergulhar no significado das palavras.

O livro retrata uma busca autêntica, inspirada, extremamente artística. Ao terminar de ler senti o zumbidinho gostoso que sinto quando sou exposto a uma grande obra de arte.

Achei interessante o livro começar com a estruturação formal de “Sete Poemas Portugueses” (que vão do 3 ao 9), e ir avançando em caos até agonia orgástica de “Roçzeiral”.

Coisa maravilhosa é a capacidade de Ferreira Gullar em forjar novas ligações entre as palavras. É um talento que nunca vi brilhar com tanta força como nesse autor. Senti a cabeça ecoando de tanto que novas sinapses foram criadas para acomodar tantas novas camadas de significação para as palavras! É um efeito curioso, quase musical! Vale a pena experimentar!

Colocando o livro no contexto, então, sabendo que foi publicado em 1954, o resultado é uma boca aberta de admiração e espanto. É raro ver poetas dessa estatura caminhando entre os homens mortais.

(23.04.11)



"minha linguagem é a representação duma discórdia entre o que quero e a resistência do corpo" (Ferreira Gullar)

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