domingo, 22 de maio de 2011

"A volta do parafuso", seguido de "Daisy Miller" - Henry James




Essa edição da L&PM Pockets traz dois contos do autor norte-americano Henry James (1843-1916), que depois de viajar por algumas cidades da Europa como Paris, Roma, Londres, resolveu ficar em definitivo na capital inglesa, morando ali até 1890, depois se mudando para uma cidadezinha chamada Rye, em Sussex.
Sendo a obra composta por dois contos de James, escreverei em separado sobre cada uma delas.


A volta do parafuso
Sobre esse conto (ou novela, como alguns também a classificam), disse Oscar Wilde as seguintes palavras: "É um pequeno conto maravilhoso, terrível e venenoso". Curiosamente, tomei conhecimento desse livro após ter assistido ao filme "Os Inocentes", de 1961, com Deborah Kerr no papel da governanta, a Srta. Giddens. Isso foi há uns 4 anos. Só um bom tempo depois fiquei sabendo que era um roteiro adaptado. O filme foi um dos melhores a que já assisti: maravilhosas atuações e direção impecável de Jack Clayton, que soube passar para as telas todo o clima de suspense e terror do livro. Isso tudo com um detalhe: sem efeito especial nenhum, além dos sonoros.

E, voltando ao livro, uma curiosidade é quanto ao seu título. Em inglês, é The Turn of the screw, mas existem duas versões publicadas em português: "A volta do parafuso" (o correto) e "A outra volta do parafuso", essa mais antiga, de traduções anteriores e copiada de forma incorreta em algumas publicações/adaptações mais novas. Li em alguns artigos que o mais correto seria "A torção do Parafuso", mas eu fico com a opção mais correta em português mesmo, rsss...

Na história, a Srta. Giddens é encarregada de cuidar de duas crianças órfãs, cujo tutor não tem interesse em acompanhar sua educação. A propriedade onde ela vai viver e trabalhar tem o nome de Bly, e é sobre sua estada nela, cuidando dos irmãos Flora e Miles, que essa governanta escreve uma carta, no fim de sua vida, sobre o que se passara ali: situações sobrenaturais pressentidas por ela que lançam muitas dúvidas: as crianças não seriam tão inocentes como ela pensara? O que acontecera a elas antes de sua chegada? O que a beleza e a inteligência dos dois irmãos esconde de tão terrível?

Durante a leitura, pude classificar a forma como James escreveu a história da seguinte forma: é um texto ambíguo, obscuro, confuso até. E é aí que está o que nos prende até o final da história: será tudo real? Será que, na verdade, tudo não passa de imaginação ou de uma visão deturpada da realidade, relatada como verdade pela Srta. Giddens, que pode ter exagerado? Segundo algumas resenhas que encontrei sobre o livro, essa ambiguidade foi colocada de forma proposital, como forma de crítica à moral vitoriana, moral essa que esconderia muitas paixões reprimidas. Em "A volta do Parafuso", James não vai nos entregar a verdade, nós é que teremos que pensar sobre ela, página por página, até chegarmos ao final do livro e, como nossos próprios juízes, darmos o veredito sobre o que se passou em Bly: a Srta. Giddens é culpada ou inocente? =)

Daisy Miller
Achei uma história um tanto superficial, não sei se senti isso por ter lido na sequência, logo que terminei "A volta do Parafuso" e, perto deste, essa história realmente não se destaca muito. Esse conto é sobre uma moça norte-americana que, ao visitar alguns locais da Europa como a Suíça, por exemplo, em companhia da mãe, do irmão mais novo e um "professor" do menino, choca a sociedade europeia com suas maneiras muito "saidinhas", parecendo achar aquilo a coisa mais normal do mundo. Ela chama a atenção de um jovem aristocrata, que se vê rendido ao jeito natural da moça, só que este fica confuso com o jeito tão "liberal" dela e não sabe se vale a pena um envolvimento maior com ela. O interessante é que, assim como em "A volta do parafuso", James parece fazer uma crítica à tal sociedade europeia, hipócrita, que tantas recomendações e proibições faz, mas que, por debaixo dos panos... rs...Isso até torna o texto interessante, os diálogos são bem construídos, mas... pelo menos a mim não chegou a empolgar. Talvez eu devesse ter feito o contrário, ter lido "Daisy Miller" primeiro, pois "A Volta do Parafuso" é realmente o prato principal dessa edição (e que prato!).


O autor, em dois momentos da sua vida:

Para saber um pouco mais sobre o autor: Blog Casmurros.


Trecho do filme "Os inocentes" (meeedooo!!!)




 Resenhado por Bia Machado, em 20.08.2010.


4 comentários:

  1. Bia querida!

    Estou curiosa por ler esse livro e adorei ver o trecho do filme, realmente, que medão!!!! rs...

    Obrigada por tudo, viu?

    bj da angel ;)

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  2. Angel, esse para mim é um dos livros mais "sinistros", rss... E o filme ficou tão bom quanto o livro, coisa difícil de acontecer! =D Valeu!

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  3. Sou encantada com o livro, exatamente porque ele não fecha nenhuma hipótese, o que permite que eu possa ler e reler, e sempre com uma visão diferente.
    Na minha primeira leitura, no auge do racionalismo (ele vai decaindo com o passar dos anos - felizmente), a imagem que ficou foi a de uma governanta histérica sexual.
    Depois, já aceitando a complexidade toda que é o ser humano, busquei uma leitura mais isenta de racionalismo e fica incrível, porque, em realidade, a governanta pode estar certa - dentro do contexto da história.
    Tanto ela quanto as crianças podem ser lidas de vários ângulos - social,religioso, psicológico, místico, etc., etc. - e isso, para mim, torna o autor genial.
    Também li "Daisy Miller" e a história não me marcou. Talvez pela mesma razão da Bia: ter lido depois da fascinação exercida por "A volta do parafuso".

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  4. Ainda que sejam distintos, o clima de tensão do livro me lembrou "O santo inquérito", em especial quanto aos aspectos crença e poder. A destruição tendo como base a crença da salvação.

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