Fundir vários contos de fadas em um novo conto não é idéia nova, mas a forma de contá-los, isso sim, faz toda a diferença. E fazê-lo através de um personagem muitas vezes esquecido é um grande achado e um grande desafio.
Tantas vezes o "caçador" fez parte dos contos de fadas que perdi a conta, na maioria deles como herói, porém ele nunca foi o príncipe que ficaria com a princesa e viveriam felizes para sempre. O que teria acontecido com o caçador depois do final da história? O que passaria por sua cabeça durante suas aventuras e desventuras?
Ana Lúcia Merege une vários contos de fadas, todos eles muito conhecidos, interligando-os na figura do caçador de forma doce e humana, nos presenteando com passagens de uma beleza tão luminosa que somos obrigados a reler tal como este trecho em que o caçador reflete sobre a profissão mais antiga do mundo:
"Embora não demorasse a adivinhar o que faziam, o caçador permaneceu em suspenso, sem distinguir naqueles sons nenhum sentimento, nem sequer o instinto que levava os animais a se juntarem. Nas aldeias, vez por outra, ouvia aqueles sons por trás das portas e janelas, e jamais o haviam abalado; mas, naquela casa, pareciam fora de propósito. Quando percebeu isso, o caçador se afastou dali, desprezando mais que nunca aquela gente que comprava e vendia o que deveria ser apenas compartilhado."
Enfim, o livro é de uma beleza rara e mais uma vez me sinto confortável em recomendar leitura tão singular. Leiam para seus filhos e sobretudo leiam por vocês, não se surpreendam em se descobrir no meio desta história.
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