terça-feira, 7 de junho de 2011
Feliz ano velho - Marcelo Rubens Paiva
O que me levou a procurar este livro foi de fato o grande sucesso que ele estava fazendo entre meus colegas. Todo mundo só falava nele ou dele e eu estava na contramão da história lendo “O exorcista”. Precisava urgentemente conhecer a obra. Deparei-me com uma entrevista dele em que o mesmo se dizia órfão da ditadura. Acabei não lendo o livro e ficando com leituras que faziam bem a meu espírito jovem: os livros de terror.
Só mais à frente voltei a tomar contato com esta obra. Dessa vez com a informação de que o pai de Marcelo havia sido levado para os porões do DOI-CODI à época da ditadura e nunca mais voltou. Por si só, essa informação me fez retomar o livro. Não foi em vão a leitura deste.
Fiquei me perguntando: como alguém que se acidentou de forma tão violenta e idiota pode escrever com bom-humor um livro sobre sua história e ainda ter o carisma de fazê-lo de forma tão envolvente? O livro deveria se chamar “As angústias de um porra-louca”, mas não caberia na forma madura com que Marcelo trata seus próprios fantasmas.
Esta é a história de um garotão, que gosta de farra, faz teatro amador e tem um conjunto de rock, que se aventura em uma festa num sítio e resolve dar um mergulho em um lago raso, o que lhe ocasiona tetraplegia. Simples assim, melancólico até. Mas nada disso perturba o tom de descobertas decorrentes do acidente. O livro não é pedante, nem panfletário, muito menos um livro de auto-ajuda. É, talvez, um acerto de contas, uma autopunição hilária, um reaprender a lidar com o corpo e seus desejos. Diria até que este livro seria também um reflexo da época, pós-ditadura, tempo de transição, em que o país também estava reaprendendo a viver.
O ponto de vista do autor, altamente crítico, representa o que há de mais contemporâneo em sua época: a “nova geração”, mas devido ao ocorrido com seu pai, mantém um pé sempre no passado. É surpreendente ver seu engajamento político e seu sofrimento pela impossibilidade de modificar o mundo ao seu redor ou o seu próprio destino, a espera de uma resposta de seu próprio corpo.
Como diria Cazuza: “a vida é bem mais perigosa que a morte, suporte baby”. E é assim q vejo esta obra, forte, impactante e sólida, muito sólida. Isso reflete e explica tanto sucesso para um livro simples, sobre as agruras de um indivíduo com o futuro comprometido.
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Gostei da resenha,tirou várias dúvidas, que eu tinha, a respeito desse livro.
ResponderExcluirEntão corra pra ler cara Léia, não irá se decepcionar.
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