sábado, 2 de julho de 2011

As Memórias do Livro - Geraldine Brooks


“No lugar onde se queimam livros, no fim se queimam homens" - Heinrich Heine

Uma restauradora de livros é despertada na madrugada por uma notícia: A Hagadá de Saravejo foi encontrada, um lendário e valiosíssimo livro (e que existe realmente), desaparecido há alguns anos.

A palavra hagadá tem raiz hebraica (hgd=contar, dizer) e é usada para nomear um tipo de livro usado por famílias judaicas na celebração da Páscoa e que narra a história do Êxodo. Mas alguns fatos fazem dessa hagadá um manuscrito tão importante: sua idade (foi feita possivelmente no século XIV), as ricas ilustrações, e o fato dela ter sobrevivido a tantas perseguições aos judeus, bem como a seus livros, conseguindo escapar da Inquisição, do Nazismo e da Guerra da Bósnia, eventos que levaram à destruição inúmeros livros (e pessoas). Muitas perguntas envolvem o livro: quem fez as ilustrações? E por que, tendo em vista que contraria os costumes dos judeus da época, que consideravam imagens uma violação aos mandamentos? Ou seja, a própria existência delas já gera questionamento. Como a Hagadá foi salva da fogueira da Inquisição, conforme inscrição feita por um padre católico responsável pela “triagem” dos livros? Com estas questões em mente, a escritora Geraldine Brooks traça uma história envolvente, usando muita imaginação e pesquisa para responder, pelo menos na ficção, a essas dúvidas que envolvem esse artefato.

O ano de partida da história é 1996, com a cidade de Saravejo ainda exibindo as marcas da guerra recém terminada. É pra lá que se encaminha Hanna Heath, especialista em conservação de livros, escolhida pela ONU para trabalhar com o manuscrito. De detalhes encontrados pela personagem, como uma mancha avermelhada, restos de uma asa de inseto, a autora vai voltando no tempo, criando um mosaico de pessoas, situações, dramas pessoais, conflitos religiosos, que, de uma forma ou de outra, envolvem o livro.

Achei algumas passagens muito emocionantes. Triste como, desde sempre, existiu quem destrua e escravize, por diferenças de credo, cor ou opinião. Mas, felizmente, também existiram os que, por amor à arte e ao ser humano, fizeram a diferença, como o bibliotecário muçulmano que arriscou a própria pele para salvar uma obra judaica, fato real, que inspirou um dos personagens. Curiosamente, os conflitos que achei um pouco mais maçantes foram os da própria Hanna, bem como o envolvimento amoroso um tanto forçado. No mais, achei uma obra interessante e creio que agrada quem ama livros, não apenas seu conteúdo, mas sua existência física, mesmo. Uma experiência cultural e sensorial que a tecnologia digital não substitui. Ainda.

Um comentário:

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