Por Elenilson Nascimento
Se eu fosse levar em conta todas as observações indigestas desse livro, provavelmente o povo da direita ou da esquerda iria me colocar numa lista dos piores invejosos do mundo, pois achei o livro um porre, aliás, podre. Essa coisa de “inveja boa” categoricamente inflamada pelo Zuenir Ventura não existe nem aqui nem na China, mas segundo o próprio autor: “de boas vivências o inferno da literatura anda cheio”.
Classificado como um livro sobre o mais brasileiro dos pecados, mas com uma narrativa nada envolvente (típica de estudante universitário preste a entregar uma monografia) acompanhamos o autor-protagonista em sua “árdua missão”: a de revelar algumas facetas desse pecado inconfessável, a inveja. Nesta trajetória cercada de revelações pessoais, o autor compartilha com o leitor todo o making of desse livro.
Quando a editora Objetiva lançou a série “Plenos Pecados”, em 1998, proporcionou aos leitores brasileiros uma oportunidade “estimulante” (*ou não, já que acho esses livros meio estranhos) tanto para o público quanto para o criador: a obra sob encomenda. Feita dentro dos limites de um tema proposto, a coleção reuniu nomes como o agora resenhado Zuenir Ventura, José Roberto Torero, João Ubaldo Ribeiro e Luís Fernando Veríssimo que abordaram nessa proposta temática o mote dos sete pecados capitais. Inveja, luxúria, avareza, preguiça, ira, soberba e gula. O primeiro volume que me tentou foi justamente esse “Mal Secreto” (assinado por Ventura) que trata da inveja. Pela inegável condição de pior dos pecados, a inveja sempre será um tema instigante. E é sobre ela que gostaria de tecer algumas considerações. "O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde."
De um bate-pernas por dezenas de livrarias de Paris (ou por terreiros de umbanda e candomblé) para a compra de uma publicação rara sobre o tema aos bastidores de uma pesquisa de opinião e uma série de entrevistas e visitas a consultórios de psicanalistas e igrejas – onde somos convidados a participar de um inusitado jogo com ingredientes de um bom filme de suspense cheio de clichês. Mas um emaranhado de informações me deixou um pouco zonzo, pois como disse o próprio Ventura no livro: "O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde". E acho que me encaixei numa outra frase: “Desconfie de quem é sempre do contra, os muitos críticos, os intolerantes, os antitudo. No fundo, não passam de impotentes invejosos”.
E nesse vai e vem em o "Mal Secreto" (primeiro volume da coleção “Plenos Pecados”), o autor esbarra em histórias e relatos sobre amor, medo e morte. E de repente somos apresentados a Kátia, uma jovem perturbadora, de olhos verdes fumegantes, sedutora e voluptuosa que o autor conhece num terreiro de umbanda da Baixada Fluminense. Aí nos deparamos com uma frase de lascar das inúmeras citadas no livro: “Em um mundo igualitário, o sucesso do outro se torna insuportável. Por isso os intelectuais desmerecem Paulo Coelho” – como se todo mundo que não gosta do Coelho fosse realmente um intelectual. E então, diversas vezes senti o vazio, “como Adão sentiu sua nudez” (tirei isso do livro).
No final, cabe ao leitor abandonar sua posição de um simples observador - que se deixa levar pelos acontecimentos - e assumir o papel de investigador, crítico, elucidando o mistério. E talvez perceba que também é um invejoso. No mais, sinceramente, o livro de Zuenir Ventura é realmente “um prato indigesto”. ("MAL SECRETO – INVEJA" de Zuenir Ventura, romance, 264 págs. 1998 - Ed. Objetiva).>>> Visite o LITERATURA CLANDESTINA e o COMENDO LIVROS.
imagens: reprodução
Elenilson, apesar de ter classificado o livro como indigesto fiquei com vontade de lê-lo, é que sempre que alguém dá uma ênfase desse tipo a uma leitura fico com vontade de "tirar a limpo"...rs..
ResponderExcluirBela contribuição para o nosso blog, menino.
bj da angel ;)