segunda-feira, 4 de julho de 2011

MAL SECRETO/INVEJA - Zuenir Ventura

“Partindo do princípio de que vivemos em um mundo cada vez mais cínico, a inveja parece ser um sentimento que, se eu não me engano, permeia cada vez mais as relações humanas...”

Por Elenilson Nascimento

Se eu fosse levar em conta todas as observações indigestas desse livro, provavelmente o povo da direita ou da esquerda iria me colocar numa lista dos piores invejosos do mundo, pois achei o livro um porre, aliás, podre. Essa coisa de “inveja boa” categoricamente inflamada pelo Zuenir Ventura não existe nem aqui nem na China, mas segundo o próprio autor: “de boas vivências o inferno da literatura anda cheio”.

Classificado como um livro sobre o mais brasileiro dos pecados, mas com uma narrativa nada envolvente (típica de estudante universitário preste a entregar uma monografia) acompanhamos o autor-protagonista em sua “árdua missão”: a de revelar algumas facetas desse pecado inconfessável, a inveja. Nesta trajetória cercada de revelações pessoais, o autor compartilha com o leitor todo o making of desse livro.

Quando a editora Objetiva lançou a série “Plenos Pecados”, em 1998, proporcionou aos leitores brasileiros uma oportunidade “estimulante” (*ou não, já que acho esses livros meio estranhos) tanto para o público quanto para o criador: a obra sob encomenda. Feita dentro dos limites de um tema proposto, a coleção reuniu nomes como o agora resenhado Zuenir Ventura, José Roberto Torero, João Ubaldo Ribeiro e Luís Fernando Veríssimo que abordaram nessa proposta temática o mote dos sete pecados capitais. Inveja, luxúria, avareza, preguiça, ira, soberba e gula. O primeiro volume que me tentou foi justamente esse “Mal Secreto” (assinado por Ventura) que trata da inveja. Pela inegável condição de pior dos pecados, a inveja sempre será um tema instigante. E é sobre ela que gostaria de tecer algumas considerações. "O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde."

De um bate-pernas por dezenas de livrarias de Paris (ou por terreiros de umbanda e candomblé) para a compra de uma publicação rara sobre o tema aos bastidores de uma pesquisa de opinião e uma série de entrevistas e visitas a consultórios de psicanalistas e igrejas – onde somos convidados a participar de um inusitado jogo com ingredientes de um bom filme de suspense cheio de clichês. Mas um emaranhado de informações me deixou um pouco zonzo, pois como disse o próprio Ventura no livro: "O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde". E acho que me encaixei numa outra frase: “Desconfie de quem é sempre do contra, os muitos críticos, os intolerantes, os antitudo. No fundo, não passam de impotentes invejosos”.

E nesse vai e vem em o "Mal Secreto" (primeiro volume da coleção “Plenos Pecados”), o autor esbarra em histórias e relatos sobre amor, medo e morte. E de repente somos apresentados a Kátia, uma jovem perturbadora, de olhos verdes fumegantes, sedutora e voluptuosa que o autor conhece num terreiro de umbanda da Baixada Fluminense. Aí nos deparamos com uma frase de lascar das inúmeras citadas no livro: “Em um mundo igualitário, o sucesso do outro se torna insuportável. Por isso os intelectuais desmerecem Paulo Coelho” – como se todo mundo que não gosta do Coelho fosse realmente um intelectual. E então, diversas vezes senti o vazio, “como Adão sentiu sua nudez (tirei isso do livro).

No final, cabe ao leitor abandonar sua posição de um simples observador - que se deixa levar pelos acontecimentos - e assumir o papel de investigador, crítico, elucidando o mistério. E talvez perceba que também é um invejoso. No mais, sinceramente, o livro de Zuenir Ventura é realmente “um prato indigesto”. ("MAL SECRETO – INVEJA" de Zuenir Ventura, romance, 264 págs. 1998 - Ed. Objetiva).

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imagens: reprodução

Um comentário:

  1. Elenilson, apesar de ter classificado o livro como indigesto fiquei com vontade de lê-lo, é que sempre que alguém dá uma ênfase desse tipo a uma leitura fico com vontade de "tirar a limpo"...rs..

    Bela contribuição para o nosso blog, menino.

    bj da angel ;)

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