Desde o fim de Harry Potter, fala-se muito nos possíveis sucessores da série de J.K. Rowling, que conquistou uma legião de fãs em todo o mundo e despontou como maior fenômeno já visto da literatura infanto-juvenil. Muitos têm sido os candidatos, mas finalmente emerge no cenário literário um livro com potencial para tanto. O Ladrão de Raios, primeiro episódio da saga Percy Jackson e os Olimpianos parece ter sido escrito milimetricamente com a intenção de preencher o vazio deixado pelo fim da saga do menino bruxo. E com sucesso. A história do pré-adolescente americano que descobre ser descendente de um deus grego é uma das poucas com reais chances de ocupar esse espaço.
Perseu (Percy) Jackson sempre fora considerado um garoto-problema: sua dislexia e a síndrome de déficit de atenção somavam-se a acontecimentos extraordinários e inexplicáveis que faziam de sua vida escolar um verdadeiro desastre. Porém, de uma hora para outra, o garoto de 12 anos vê sua vida dar uma verdadeira guinada: uma série de eventos fantásticos e incompreensíveis, que envolvem monstros e seres mitológicos, o afastam da Academia Yancy (escola para crianças problemáticas em que estudava), de sua cidade e de sua mãe Sally e o põem frente a frente com sua real identidade, que lhe fora escondida desde o nascimento: Percy era filho de um deus grego, e como tal, deveria ser treinado em um acampamento repleto de crianças como ele. Como se isso não bastasse, o menino ainda recebe uma importante missão: junto com um sátiro e uma garota chamada Annabeth, filha de uma deusa, Percy tem dez dias para resgatar o raio–mestre de Zeus, que havia sido roubado, e levá-lo em segurança ao Olimpo. Se fracassasse na missão, poderia ser travada uma guerra entre os deuses, que destruiria a civilização ocidental e traria de volta ao mundo o caos.
Desde a leitura da sinopse, percebe-se a tamanha semelhança com a história criada por Rowling. Durante a leitura, é possível fazer um paralelo coerente entre as duas sagas: Percy seria Harry, seu padrasto os Dursley, Quíron seria equivalente a Dumbledore, o acampamento Meio-Sangue a Hogwarts e Annabeth seria uma versão um pouco diferente de Hermione. Tive a impressão de que Rick Riordan quis seguir à risca a “receita de bolo” deixada pela autora de Harry Potter, fórmula garantida do sucesso. É possível perceber isso também na linguagem utilizada e no trio de protagonistas criado pelo escritor, que em muito lembra Harry, Rony e Hermione.
Mas vale a pena deixar a criticidade de lado e curtir a história, que afinal é um ótimo entretenimento. A leitura é leve e instigante, e deixa o leitor vidrado em cada passo dado pelo protagonista. Não há mal nenhum em utilizar uma fórmula já aclamada para criar um nova história, cujo tema e o pano de fundo sejam diferentes. É muito interessante o modo como o autor traz a mitologia grega, tema que quase todo mundo conhece e adora, para o século XXI. Os deuses e seres mitológicos são apresentados de forma moderna e bem-humorada, mas essas alusões são feitas sem perder a coerência e a fidelidade aos mitos originais. Rick Riordan é historiador, e parece ter estudado bastante para compor esse trabalho.
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