sexta-feira, 22 de julho de 2011

OS CEM MELHORES CONTOS BRASILEIROS DO SÉCULO - Org. Ítalo Moriconi (Part 4)

Um período onde a literatura foi desenvolvida sob a mira dos fuzis militares, numa manifestação de denúncia e de protesto, uma explosão de palavras geradora de textos espontâneos...”

Por Elenilson Nascimento

Nessa quarta parte da antologia "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi, as produções dos anos 70 que refletem um momento histórico caracterizado inicialmente pelo autoritarismo e por uma censura rígida são mostradas nesse capítulo – com repetições de autores e faltando muitos outros. Nos “diabólicos”, sofridos e repressivos anos 70 a literatura rompeu (em parte) o compromisso com a realidade, com o intelectualismo e com o hermetismo modernista da Semana de Arte Moderna dos anos 20 e partiu para ser marginal, diluidora, anticultural, pós-moderna, sem constituir um movimento unificado, escritores jovens (e não tão jovens assim) se declararam marginais e pipocaram de norte a sul do país, espalhando que a literatura perderia a pompa e a solenidade e decretando o fim da modernidade e início da polêmica pós-modernidade para uns, e contemporaneidade para outros.

Segundo Ítalo Moriconi, organizador da antologia: “Os anos 70 marcam um momento de apogeu do conto no Brasil, depois do salto de qualidade na década anterior. Intensificam-se ímpetos revolucionários e dilaceramentos pessoais, agora num contexto de violência política e social até então inédito no país. O conto confirma-se como instrumento adequado para expressar artisticamente o ritmo nervoso e convulsivo desta década passional. Entra na moda um novo e carinhoso retrato de escritor, o “contista mineiro”, descendente legítimo das gerações de Carlos Drummond, Fernando Sabino e Otto Lara Resende. Diante do consumismo e da internacionalização em que mergulha a classe média, a arte do conto busca trazer à tona o outro lado – o lado violento e obscuro da realidade. O contista brasileiro dos anos 70 quer desafinar o coro dos contentes”.

Mas eu senti falta de outros autores também importantes neste período que foram literalmente esquecidos nessa antologia. Cadê os textos de Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa, Carlos Castañeda, Henfil, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Ruy Guerra, Ariano Suassuna, Plínio Marcos e muitos outros? Nesse período, explorando todas as possibilidades do papel, folhetos, jornais, revistas, manuscritos, guardanapos de bares e porque não dizer aos muros, muitos autores deram voz aos nossos sentimentos.

Um período onde a literatura foi desenvolvida sob a mira dos fuzis militares, numa manifestação de denúncia e de protesto, uma explosão de palavras geradora de textos espontâneos, mal acabados muitas vezes, ou na maioria das vezes, irônicos, coloquiais, que falam dos mundos imediatistas dos próprios escritores, zombando da cultura e escarnecendo a própria literatura. Cabe chamar a atenção que dentre estes escritores, muitos deles fizeram uma literatura de excelente qualidade, como é o caso dos aqui selecionados neste livro. E, sobretudo, os esquecidos pelo organizador.

Part 4 – Anos 70 (Violência e paixão)
45. “Passeio noturno - Parte I e II”, de Rubem Fonseca – leia-o aqui. Desnecessário dizer que não havia necessidade de incluir mais dois contos desse autor nesse capítulo, visto que ele já havia sido citado no capítulo anterior sobre os aos 60. Fonseca, prestes há completar 86 anos, parece ter perdido a mão nos últimos anos, seus livros já não são mais o que já foram, como se esquecesse que, aos 86 anos, todas as luzes tendem a enfraquecer. Suas últimas obras, "Mandrake: A Bíblia e a bengala" (2005), "Ela e outras mulheres" (2006), "O romance morreu" (2007) e até o seu recente O seminarista” (2011) – lançado com todo o estardalhaço receberam somente umas poucas resenhas complacentes. Mas, no entanto, o autor continua sendo lido como o criador mais original de uma literatura rica em criadores originais, desde os maravilhosos Machado de Assis e Mário de Andrade até os desconcertantes Clarice Lispector, Nelson Rodrigues e João Guimarães Rosa. Passeio noturno - Parte I e II”o dois continhos interligados escritos em 1ª pessoa. Na primeira parte, um empresário de meia idade, bem sucedido, casado, com dois filhos, descarrega as tensões do dia-a-dia, a frustração e o tédio da sua vida passeando todas as noites com seu jaguar preto e matando pessoas, atropelando-as com seu carro. Nessa primeira parte, a vítima é uma mulher. Na segunda parte, a vítima é uma jovem chamada Ângela. A violência urbana é um dos temas principais de Rubem Fonseca. Essas poucas páginas bastam para que o universo de Fonseca se tatue em nossas almas com a malignidade de uma flor carnívora, neste tempo medíocre onde sociólogos preferem discutir sobre a construção social do medo e a associação da violência e o poder, ao invés de trabalharem.

+ Clique aqui e leia a continuação da Part 4 da resenha – Anos 70 (Violência e paixão).

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