quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Batalha do apocalipse

A leitura de um livro ultrapassa as linhas em que este encontra-se apresentado, passa por todos os elementos que o compõem (título, capa, material em que foi impresso) para que só em fim possamos nos ater a história propriamente dita, e estes elementos por si só já seriam um convite a leitura do livro A Batalha do apocalipse. O título apresenta as prerrogativas de um grade momento, despertando no leitor o interesse pela obra; a capa dura facilita o manejo, tendo em vista o tamanho do livro (mais de 500 páginas)*; o material de ótima qualidade, facilita a leitura.
Passados estes momentos iniciais de empatia livro x leitor, adentra-se a história propriamente dita. Os elementos exteriores não mantêm o interesse e qualidade do material se não houver por trás das linhas um enredo que prenda e agrade o leitor. É neste ponto que a história entra em ação para arrebatar o coração do público, papel bem articulado pelo livro em questão.
O livro narra as aventuras do anjo renegado Ablon após sua expulsão do céu. Sua condenação, junto a um grupo de anjos renegados, acontece depois que decidem contestar o comando do arcanjo Miguel, que tomado pelo ciúme dos homens, fazia com que atrocidades fossem cometidas contra a humanidade, tais como o dilúvio. Pregando ações em nome de Deus, Miguel domina o cenário angelical, tentando conter a fúria daqueles que discordam de sua opinião. Estes anjos, após se rebelarem, são lançados a terra para pagar pela discordância até o dia do ajuste de contas. Tentando barrar as artimanhas maléficas do arcanjo, evidencia-se a trajetória de Ablon até a batalha final pelo trono.
O tempo da trama alterna-se entre um futuro/presente incerto**( futuro se marcado a partir dos dias atuais, presente se levar em consideração o momento em que se encontra o narrador) e o passado da humanidade. A história de Ablon é narrada alternando-se entre 1° e 3° pessoa, ora narrando as próprias aventuras, ora sendo descritas pelo olhar de outrem. Apresenta no seu percurso doses regulares de tensão, aventura, história e romance. Traz uma trama bem desenvolvida, que conduz o leitor a reflexão - através de seus personagens - ao mesmo tempo em que o direciona aos raciocínios próprios do enredo. Deste modo, o leitor além de levantar as próprias possibilidades, raciocina junto aos personagens da trama, que lhe apresentam artimanhas e possibilidades de atuação.
É interessante notar como a narrativa consegue fundir elementos históricos e religiosos aos da fantasia, reescrevendo-os. Nota-se como a utilização de seres místicos não desconstrói a realidade dos fatos como os conhecemos, apenas ampliando o horizonte de percepção - dando veracidade a narrativa. Atrela-se ainda grande importância as ambições e articulações políticas dos anjos/arcanjos, em que se revelam aproximações e distancia de grupos em prol de seus objetivos, tal qual a política dos homens.
Através de um enredo cinematográfico (hollywoodiano), o texto prepara o leitor para o ápice da narrativa, a batalha final, momento no qual os elementos e articulações da trama são revelados e resolucionados. O enredo fechado permite que nenhuma brecha seja esquecida no decorrer da narrativa. Elementos lançados durante os capítulos são retomados e utilizados como fatores surpresa, influenciando o ritmo e caminho a ser tomado pela linha dos acontecimentos.
Como se não bastassem as batalhas, o cunho político histórico, os elementos fantásticos, ainda houve espaço na narrativa para uma história de amor, elemento característico de folhetins modernos e não tão modernos assim (rs). É estabelecido então um amor entre um ser angelical e uma terrena, capaz de ultrapassar os limites do tempo e do espaço.    
Em suma, penso que a principal crítica negativa a ser estabelecida a narrativa é a excessiva capacidade de reverter elementos/fatos importantes na história. Certa vez li que promessas/ameaças que são proferidas, mas que não se concretizam, derrubam para sempre a credibilidade que em as levanta... Assim serve também para a linha narrativa. Óbvio que em obras de ficção, em que elementos fantásticos são apresentados(anjos, fadas, gnomos) há momentos de tensão que podem e devem ser recriados e contornados para o próprio desenvolvimento da narrativa, contudo, durante o trajeto há um abuso dos poderes mágicos pelas inúmeras vezes que utiliza das reviravoltas que ocorrem em momentos decisivos da trama em prol do herói Ablon, caindo no descrédito pelo pecado do excesso. Buscou-se  constantemente a resolução de pendências do possível no impossível, o que fragiliza o enredo.
Vale a pena ser lido, resguardada as devidas críticas.

* Quanto a versão estendida do livro, a qual tive acesso, achei desnecessária a inserção daqueles elementos....elucidam um pouco a questão para pessoas que nunca tiveram contato com a narrativa dos anjos, mas não influencia no decorrer da história.
**Pelas minhas contas, daqui uns 20 ou 30 anos ocorra o evento...rs

Para outras resenhas e textos, acesse: Um olhar sobre o tudo e o nada

Um comentário:

  1. Eu adorei este livro!
    Aconstrução da história, usando como base partes bíblicas, como os anjos, Noé, enfim alguns elementos da formação do mundo surpreende, tamanha criatividade usada pelo autor.
    Spohr, elaborou uma história oposta àquela aprendida por todos nós, independente de religião, a respeito da existência de Deus e da criação do universo, além de narrar os surgimentos do homem e das civilizações, o autor foi mais além ao explorar o lado “lúdico” de tudo isso.
    A história tem personagens que mexem com a nossa imaginação tamanha é a criatividade do autor, como anjos, demônios, magos, feiticeiras, misturados a muita magia e criatividade. Spohr, conseguiu colocar o ser humano, criatura criada por Deus, em segundo plano, e assim, dar vida a seres que não sabemos se de fato existem, como anjos, demônios e feiticeiras.

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