segunda-feira, 22 de agosto de 2011

FILHA MÃE AVÓ E PUTA - Gabriela Leite

“Estou na vida porque gosto de sexo e também não conseguiria o que consegui tendo outra atividade, mas sei que para a sociedade sou apenas uma mulher que não presta. Pensar diferente disso é lutar contra os moninhos como Dom Quixote.”

Por Elenilson Nascimento

É como chamar um pagodeiro de roqueiro, um gótico de emo, um travesti de transformista ou dizer que um trekker é fã de Guerra nas Estrelas. Para alguém situado da porta para fora dessas culturas, é tudo a mesma coisa; mas, lá dentro, essas diferenças são levadas muito a sério. Se você, como Marcelo Tas, confunde prostitutas com estrelas pornôs, não se desespere. As diferenças são mesmo sutis. E, em alguns casos, nem existem.

Contudo, elas aqueceram leitos de reis, artistas, militares, celebridades. De escritores também viu! E, no caminho, aqueceram também o leito da História. Não há como negar que as donas (e donos) da profissão mais antiga do mundo mudaram o curso das coisas. De Ana Bolena – a amante religiosa – passando por Dona Beija, Dalila, Jim Carroll (*poeta, prostituto e astro do rock, interpretado no cinema por Leonardo DiCaprio), e também pela fascinante espiã Mata Hari, todos tinham o que fazer. E como fazer! E nesse meu texto, não foi dessa vez que incluir a Bruna Surfistinha.

Os historiadores antigos raramente mencionavam estes temas, e quando o faziam procediam muitas vezes de forma preconceituosa, fragmentada e até mesmo distorcida. Em geral, estas referências são encontradas naquelas obras que nem mesmo eram consideradas clássicas, tais como o gênero da comédia (sátira) de Petrônio ou do grego Aristófanes, entre outros. Mas a Mata Hari (foto abaixo) é a minha predileta. Em outubro de 1917, em seu último gesto sedutor, Hari jogou um delicioso beijinho para a tropa de fuzilamento. A prostituta - e secretamente espiã alemã - havia rodado o ambiente militar da Tríplice Entente e comprometido segredos de guerra importantíssimos, como a nova arma inglesa: o tanque de guerra. Ela foi executada respondendo pela morte de mais de 50 mil pessoas.

Mas não se engane da falta de importância da Surfistinha na minha resenha. A “Paulo Coelho” do sexo, depois de vender mais de 140 mil exemplares de seu livro e exportá-lo para vários países, a ex-prostituta teve até a sua vida retratada nas telas do cinema. A produtora TV Zero, responsável pelo longa, atestou que Surfistinha já deixou de ser um fenômeno restrito à programação mais "trash" da televisão para se tornar mais um celebridade da estação.

O filão da “literatura de programa” vende tanto que já “abriu um leque” enorme. Ano passado, fui ao lançamento do livro “Depois do Escorpião - Uma História de Amor, Sexo e Traição”, de Samantha Moraes, ex-mulher do atual namorado de Surfistinha, que decidiu se aproveitar do fato de ter sido trocada pela famosa prostituta e soltar o verbo. O relato saiu com a primeira tiragem (5.000) já esgotada. E como se não bastasse, a precursora da onda lançou sua segunda "obra", "Tudo o que Aprendi com Bruna Surfistinha - Lições de uma Vida Nada Fácil", que chegou às lojas com um audiolivro, com pouco mais de uma hora, em que a Surfistinha narra histórias "quentes" que não entraram em "O Doce Veneno".

Contudo, o melhor livro desse gênero é mesmo o “Filha Mãe Avó e Puta”, da ex-prostituta Gabriela Leite, hoje uma militante inteligentíssima e que deu uma amostra da abrangência, importância e do alcance de seu trabalho à frente da ONG Davida, além de ser promotora de eventos e da grife Daspu, originária dela.

Quando decidiu virar prostituta, no início dos anos 70, aos 22 anos, Gabriela estudava Filosofia na USP, curso para o qual havia passado em segundo lugar. Ex-aluna dos melhores colégios paulistanos, leitora de Machado de Assis, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, tinha um emprego de secretária e morava com a mãe. tinha um emprego de secretária e morava com a mãe. Em “Filha Mãe Avó e Puta”, Gabriela conta, com franqueza, riqueza de detalhes e muita coragem, sua surpreendente trajetória, que culminou com a criação da famosa marca de roupas Daspu e da ONG Davida. (“FILHA MÃE AVÓ E PUTA – A história de uma mulher que decidiu ser prostituta”, de Gabriela Leite, biografia, 192 págs, Editora Objetiva – 2008)

+ Clique aqui e leia a minha resenha completa.

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