Três décadas depois de seu lançamento, em 1982, sai pela Geração Editorial um dos mais enigmáticos livros do consagrado e polêmico escritor mineiro Roberto Drummond, autor do bestseller “Hilda Furacão” (*clique aqui e leia a resenha): a coletânea com 16 histórias “Quando fui morto em Cuba”. A obra, que faz parte do chamado “Ciclo de Coca-Cola”, é muito revelador do projeto literário do escritor mineiro, nascido em Ferros em 1933 e falecido em Belo Horizonte em 2002, pois toca muito de perto em seus gostos e obsessões e ilustra com muita precisão o espírito pop que presidiu a criação literária do autor.
Roberto Drummond teve um ataque cardíaco que começou durante um jogo entre Brasil e Inglaterra em junho de 2002. Obcecado com a morte a ponto de colocar a palavra nos títulos de vários de seus livros, estranhamente Drummond não procurou um médico quando avisado de que a “indesejada” finalmente se aproximava dele.
“Quando fui morto em Cuba” é abertamente organizado sob espírito do futebol. O livro se divide em duas partes, “Primeiro” e “Segundo Tempo”, cada uma contendo oito histórias. Entre elas há um Intervalo em que se narram os delirantes últimos instantes do lendário craque do Botafogo carioca Heleno de Freitas. A descrição desta agonia é feita em tom de narração de partida feita por um locutor esportivo.
Além do futebol, “Quando fui morto em Cuba” traz outras referências muito caras à literatura de Roberto Drummond: a colagem pop de ícones do cinema, da televisão, da vida cultural urbana do Brasil dos anos 70 e 80, os mitos da esquerda revolucionária (Cuba, Fidel, Che Guevara, a luta armada) já vistos sob a ótica da desilusão e do romantismo fenecido dos anos finais da ditadura militar brasileira, e da própria morte, musa onipresente nos livros de Drummond.
As oito histórias têm uma construção circular. “Quando fui morto em Cuba”, por exemplo, comparece no início numa “Versão Erótica” e no final numa “Versão Política” – a mesma história sob dois pontos de vista diferentes que, no entanto, têm plena convergência. Convergir e recorrer, entre colagens pop, fragmentos, citações, referências, paráfrases, parece ser a nota dominante dessas histórias, em que signos como olhos verdes, Minas Gerais, presos políticos, torturados, mortos e agonizantes se unem numa espécie de balé macabro no qual, no entanto, o humor jamais está ausente.
Drummond parece ter prazer nas trocas simbólicas, nos sentidos invertidos ou travestidos, já de cara comprovado com o personagem de “Quando fui morto em Cuba” que, na primeira versão, a Erótica, é um travesti, um homem/mulher apelidado de Marta Rocha, o grande ícone da beleza brasileira, miss dos anos 50 que se perpetuou na memória coletiva do país. Com seus olhos verdes, “Marta Rocha” foi um dia jogador de futebol e isso já remete ao Heleno de Freitas do Botafogo, um dia batizado como “Gilda” pela torcida carioca.” “Marta Rocha” vai a Cuba como um símbolo da futilidade brasileira, um símbolo que é todo mundo e ninguém, querido por facções políticas de esquerda e direita porque significa evasão, prazer e inconseqüência. Sendo um híbrido, pode acolher toda espécie de projeção e abrigar uma enorme quantidade de significados, e por isso, perdido em si mesmo, vai a Cuba em busca da definitiva transformação. Mas vai para morrer, segundo a previsão de uma vidente. O próprio título do livro remete ironicamente a uma canção, “Quando Sali de Cuba”, de Luis Aguile. (“QUANDO FUI MORTO EM CUBA”, de Roberto Drummond, romance, 208 págs., editora Geração Editorial – 1982)
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Não é meu estilo favorito, mas parece realmente muito interessante!!! Quem sabe, eu largo um pouco meus romances sobrenaturais fictícios... hahaha'
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Abracinhos!
hummm me interessa...
ResponderExcluirbjs