domingo, 4 de março de 2012

BOMBS, BLISS & BABA – Paul Narada Alister



Por volta dos 20 anos de idade, o jovem Paul Alister teve seu primeiro contato com a prática de Yoga e com o caminho espiritual. Identificou-se tanto com essa busca que logo tornou-se um membro ativo da Ananda Marga, uma instituição para difusão da Yoga que havia recentemente chegado à Austrália.

O que ele não poderia prever é que esse caminho o levaria a passar sete anos em presídios de segurança máxima, injustamente condenado como um perigoso terrorista.

O caso, resumidamente, foi o seguinte: uma divisão especial da polícia australiana, criada para o combate ao terrorismo, estava para ser desativada pelo simples motivo de que não havia terrorismo na Austrália. Então um belo dia explode uma bomba no hotel Hilton, matando quatro pessoas.



Como relata o autor do livro, um policial de outra divisão estava no local quando a bomba explodiu e sofreu graves ferimentos, que o incapacitaram a continuar na polícia. Esse policial resolveu investigar por si mesmo o atentado, e chegou à seguinte conclusão: a bomba havia sido plantada pela própria polícia especial. A idéia era “descobrir” e desarmar a bomba a tempo, justificando assim a existência de um departamento anti-terrorismo. O problema é que a bomba foi colocada dentro de uma lata de lixo e o lixo foi coletado antes do que se esperava. A bomba explodiu ao ser esmagada pelo compactador no caminhão de lixo.

Embora vários indícios confirmassem essa hipótese, ela jamais chegou a ser investigada oficialmente. Um caso semelhante aconteceu aqui no Brasil, no célebre episódio da bomba no Riocentro. Tanto aqui quanto lá, os esforços da polícia foram principalmente no sentido de encontrar logo um bode expiatório. E foi aí que entrou bem o autor do livro.

Ao sair uma noite para fazer pichações de protesto na casa de um político local que estava incitando o racismo, Paul Alister se viu subitamente cercado pela polícia e acusado de conspiração para assassinato e terrorismo. Ele e dois colegas da Ananda Marga foram condenados a dezesseis anos de prisão.

A idéia da pichação havia sido sugerida por um agente infiltrado da polícia, com o intuito de armar uma cilada. Esse mesmo agente, um viciado em heroína com histórico de sérios distúrbios mentais, havia tentado anteriormente incriminar os Hare Krishna pelo mesmo atentado ao hotel Hilton. Ele foi induzido a encontrar um bode expiatório para escapar de algumas acusações que a polícia tinha contra ele e também atraído pela recompensa de U$ 100 mil oferecida para quem oferecesse pistas sobre o atentado.


Curiosamente, U$ 100 mil foi a quantia que Paul Alister recebeu do governo quando finalmente recebeu o perdão da justiça australiana, após ter passado sete anos de sua juventude encarcerado com os piores criminosos. O perdão judicial foi o máximo que ele pôde obter, pois não havia na legislação australiana mecanismos para reconhecer um erro da justiça.

Eu contei tantos detalhes desta história verídica porque eles são, afinal, secundários. “Bombs, Bliss & Baba” é uma autobiografia espiritual, que narra como a busca incessante por Deus foi a tábua de salvação que permitiu ao autor atravessar uma experiência tão penosa. É um livro singelo e comovente, repleto de insights e ensinamentos para os buscadores da verdade.

O primeiro e mais importante deles, para mim, foi a necessária lembrança de como é fácil, facílimo mesmo, estender o dedo para julgar os outros. Em um determinado momento da leitura pensei: “não é possível que esses caras não tivessem culpa no cartório”. Logo em seguida, no entanto, vieram à minha mente a lembrança de alguns episódios em que eu mesmo fui acusado injustamente (uma delas por roubo numa empresa na qual eu havia acabado de entrar), e de como foi angustiante conviver com a suspeita das pessoas até que tudo fosse esclarecido.

De todas as tentações que o bom Deus colocou em nosso caminho, acho que a mais fácil de se cair é a de nos arvorarmos em juízes de nossos semelhantes. E a grande beleza dessa trama divina foi resumida por Jesus Cristo: “na mesma medida em que julgueis, sereis julgados”.

Uma parte muito linda do livro se refere ao relacionamento guru-discípulo, uma instituição espiritual típica das filosofias orientais. A maior alegria na vida de um buscador é quando ele enfim encontra o seu guru. Guru é uma palavra em sânscrito que significa “aquele que dissipa as trevas”.

Duas frases citadas pelo autor do livro também calaram fundo, e por isso passo adiante:

“Religião é para as pessoas que têm medo de ir para o inferno. Espiritualidade é para aqueles que já estiveram lá.”
(autor desconhecido)

“A vida é a arte de retirar conclusões suficientes de premissas insuficientes.”
(Samuel Butler)

Um comentário:

  1. “Religião é para as pessoas que têm medo de ir para o inferno. Espiritualidade é para aqueles que já estiveram lá.”
    (autor desconhecido)

    O autor chamava-se Falcão Corredor, e era um guerreiro da Nação Sioux Lakota.

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