sexta-feira, 27 de abril de 2012

ÇATURANGA – Rabindranath Tagore



“Çaturanga” ou “Chaturanga” é o nome de um antigo jogo indiano, que possivelmente originou o xadrez. Em uma de suas variações permitia quatro jogadores, de onde o prefixo “chatur”, quatro em sânscrito.

“Çaturanga”, o livro, também é estruturado a partir de quatro personagens, que dão nome às partes do livro: “O Tio”, “Satish”, “Damini” e “Srivilás”.

Logo na primeira parte, “O Tio”, nos damos conta de que esse é um texto de raras qualidades. A narrativa de Tagore é simples e poética, bela e verdadeira. A história surpreende, apresentando Jagamohan, “ateu notório” em oposição a Harimohan, seu irmão mais novo e extremamente religioso.

Curiosamente, é o tio ateu que acaba sendo eleito como herói pelo jovem e brilhante Satish.

Damini é a jovem e bela viúva de um homem extremamente devoto, que deixa sua casa e suas posses, esposa inclusive, para usufruto do guru.

Srivilás é o narrador dessa jornada pelos vastos rincões da alma.

Uma história apaixonante! Finalmente encontrei um autor à altura de Hermann Hesse! E até maior!

Ler Tagore dá até vertigem, de tamanhas alturas que ele olha!


Encerro essa agradecida resenha transcrevendo algumas palavras, que certamente constam entre as mais belas páginas da literatura:

“- Se eu persistir a caminhar no mesmo sentido em que Ele caminha para mim – dizia Satish – não conseguirei senão afastar-me d’Ele cada vez mais. Somente se eu for em sentido oposto é que nos poderemos encontrar.

Eu contemplava em silêncio seus olhos flamejantes. Como verdade geométrica, o que ele dizia era inegável. Mas que poderia aquilo significar?

- Ele ama a forma – continuava Satish – por isso, Ele desce à forma incessantemente. Nós, porém, não podemos viver só pela forma: por isso, Ele faz com que nos dirijamos para o Seu Ser sem Forma. Ele é livre: por isso brinca de ter limites. Nós estamos atados: por isso, a nossa alegria é a liberdade. Todo o nosso mal vem de não podermos compreender isso.

Ficamos tão silenciosos como as estrelas.

- Não compreendeis, Damini? – continuou Satish. – Aquele que canta vai da alegria para a melodia; aquele que ouve vai da melodia para a alegria. Um vem da liberdade para a escravidão; o outro vai da escravidão para a liberdade. Só assim se encontrarão unidos. Ele canta e nós ouvimos! Ele prende grilhões, cantando para nós; e nós os desprendemos, ouvindo-o.”

Rabindranath Tagore ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1913.

Um comentário:

  1. paulo tagliapietra8 de maio de 2017 às 23:17

    Com certeza, um dos textos mais belos e profundos que jah li.

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