sábado, 5 de maio de 2012

CAPÃO PECADO - Ferréz

O que poderia aparecer como construção moral se apresenta, numa elaboração literária bem bacana, com uma investigação complexa que presidem as relações na periferia, elemento central no processo criativo do autor.”
Por Elenilson Nascimento
Os corruptos engravatados de Brasília ajudam-nos a redescobrir esse país. A roubalheira, a corrupção e a falta e investimentos nas áreas sociais nas últimas décadas não apenas mataram boas possibilidades de desenvolvimento brasileiro, mas também afetou de forma quase fatal às vidas de boa parte das pessoas da “classe Z”, menos privilegiada e renegada às tristes estatísticas.
Reparem nos jornais, programas especializados e nas palestras de alguns poucos bons sociólogos a maneira como eles falam dos indicadores. O uso indiscriminado de números, estatísticas, a segurança com que apresentam conclusões, dá ao leigo a impressão de se estar ante uma ciência superior que analisa porcos nos estábulos. No entanto, é na literatura – onde os indicadores aparecem mais – onde a dificuldade em inovar, em aprimorar, em corrigir erros históricos de apuração é uma constante.
Vários autores já abordaram o lado triste da realidade do povo brasileiro, como foi o caso de Jorge Amado em “Capitães da Areia”, Euclides da Cunha em Os Sertões” e, mais recentemente, Jason Tércio em “A Pátria que o Pariu”, Paulo Lins em“Cidade de Deus” e Elenilson Nascimento e Anna Carvalho em “Clandestinos”. E enquantos dorme-se em cima de indicadores grosseiros, sem nenhum refinamento e critérios, muitos deles sem precisão alguma, a literatura, mas viva e realista do que nunca, desenvolve-se teorias, conclusões com o único intuito: mostrar que o povo brasileiro ainda sofre na sua precariedade.
Em “Capão Pecado”, do romancista, contista, agitador cultural e poeta Ferréz – que até hoje ainda é visto com uma má influência no meio acadêmico – confira aqui apresenta em chave bem realista problemas cotidianos vividos pelas populações carentes das regiões periféricas de São Paulo. Suas histórias, consideradas literatura marginal, expõem por meio da ficção os dilemas relacionados à situação de pobreza extrema. Ferréz – uma simpatia e desprovido de vaidade, muito comum nesse meio literário – busca em sua obra revelar a violência a que estão expostos seus personagens, à medida que investiga criticamente esses sujeitos, que são, ao mesmo tempo, vítimas e agentes do processo social no qual se inserem. Em especial, nesse romance de estreia, lançado no ano de 2000, essas situações são introduzidas ao leitor por intermédio do protagonista Rael, que tenta, frente às adversidades, manter uma conduta honesta e a hombridade em relação ao mundo e às pessoas que o cercam (família, amigos, visinhos, traficantes e uma namorada que gosta de literatura). “O mesmo Brasil que gera cada vez mais miseráveis, que gera um pequeno que é retirado pelas belas mãos asseadas e carinhosas de um médico como se o retirasse de um casulo, e o traz à vida dando-lhe um tapinha nas nádegas, para progredir com justiça e igualdade com outros garotos na frágil linha da vida”, escreveu o autor no prefácio. (“CAPÃO PECADO”, de Ferréz, romance, 2ª edição, 172 págs, Editora Labortexto Editorial – 2000)

2 comentários:

  1. Me parece uma leitura interessante, porém triste por ser uma realidade !
    obrigada pela dica !
    bom domingo
    Beijos

    Fê arte Minha

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  2. leitura interessante, mas triste por ser uma realidade? Vc desconhece a realidade é menina??? Ou vc simplesmetne escolheu ignorá-la?

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