terça-feira, 8 de maio de 2012

CLANDESTINOS - Elenilson Nascimento & Anna Carvalho

“Impressões de uma leitura catártica - Clandestinos de Elenilson Nascimento e Anna Carvalho.”
Por Henrique Júlio Vieira*
Um livro fácil? Com certeza não. Enveredar no universo de Frederico e Fernanda é como colocar um óculos 3D e sentir todos os 'Feelings' possíveis numa atmosfera embebida de punk, rock e drogas sob um país de possibilidades e desvios na década de 80.
A força das imagens construídas faz-nos muitas vezes olhar para nossas veias só para checar como elas estão após essa leitura arrebatadora, que aliás também foi clandestina, já que ler este livro com alguém ao seu lado - num ônibus por exemplo - você fica em estado de alerta para que não saltem das páginas seringas ou que gemidos e gritos sejam ouvidos (mesmo contrariando a realidade linguística que é o papel).
Sexo, drogas, rock são muito presentes no romance (vejo que não se utiliza esta palavra com frequência na publicação do livro “Clandestinos”, talvez pela história deste gênero estar tão próxima do mesmo ethos que sustenta a Casa da Dinda) e são pretextos para a apresentação de uma Brasília corroída e uma juventude que recebe um país fetichiosamente maquiado com as eternas e falaciosas possibilidades. 
Frederico, poeta punk numa década perdida – gestada sob silêncios instituídos e esperanças incitadas –, tal qual um decadentista finissecular (séc. XIX), e o seu anjo torto, Fernanda Feeling, são frutos de um processo de criação em quatro mãos – o que já representa uma clandestinidade para o romance – que não dispensa a  metalinguagem inovadora na relação criador versus criatura e possibilita algo que o tão aclamado ''O Mundo de Sofia'' do Jostein Gaarder não conseguiu fazê-lo.
As digressões intensivas, tais quais um turbilhão, ou um caleidoscópio, geradora de "estranhamentos" – como diriam os formalistas russos – , "obstrui a leitura fluviante, flutual'' (Melo Neto) com suas pedras e palavras de peso que compõe um projeto maior de clandestinidade no processo de criação e ideologização. Com certeza Sofia Amundsen deveria ler  “Clandestinos”. E será esse o mundo de Fernanda? Ou o mundo dos feelings? (“CLANDESTINOS” de Elenilson Nascimento e Anna Carvalho, romance, 427 pags, 1ª edição, Clube de Autores, São Paulo – 2010)
* Henrique Julio Vieira é estudante de Letras da UFBA.

3 comentários:

  1. Ótima resenha viu?! Gostei muito, tanto dessa quanto das outras. Não sei se eu seria capaz de ler um livro desses, só se eu estivesse realmente inspirada!
    Parabéns pelo blog!
    Estou seguindo aqui! Segue o meu tbm ;)
    http://foolishhappy.blogspot.com.br/

    xoxo

    ResponderExcluir
  2. Pôxa excelente, adorei a resenha, gostaria de ler sim com certeza pois é assim que acontece, não ter como ler um livro e não entrar na história, vive-se é assim que sinto.
    As demais resenhas também estão ótimas, parabéns à todos.
    Uma linda tarde para vocês e beijinhos carinhosos.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...